Ao que tudo indica, o planeta caminha lenta mas inexoravelmente em direção ao desaparecimento de parte significativa dos seres vivos e de seus habitats naturais. Em algumas décadas, só veremos espécies vivas como ursos polares, coalas, onças pintadas, tamanduás-bandeira, micos leão, ariranhas, mognos, cedros rosa, jacarandás-da-Bahia e imbuias, para só citar alguns, em zoológicos e jardins botânicos. Espécies que existem há dezenas ou centenas de milhões de anos, passando por complexa evolução biológica, vêm sendo dizimadas, em ritmo acelerado, durante os últimos quarenta anos. Ironicamente, esta destruição planetária está sendo perpetrada por um animal (homo sapiens) que existe há pouco mais de 200 mil anos, e cuja espécie (hominídeos) circula pelo planeta há aproximadamente sete milhões de anos.
Há, sem dúvida, um grande esforço em desacelerar este ritmo de destruição. Aumentou bastante o número e a diversidade de especialistas que se ocupam do tema nos últimos anos; universidades, institutos de pesquisa e organizações não governamentais, além de empresas e governos. A cadeia de valor gerada pelo setor ambiental envolve os mais variados segmentos de atividades na área industrial e de serviços. Tratamento de água e efluentes domésticos e industrias; gestão de resíduos; controle da poluição atmosférica; descontaminação de solos; implantação de energias renováveis e eficiência energética; planejamento urbano; gestão de florestas e áreas naturais, turismo ecológico; é bastante extensa a lista de atividades relacionadas com a proteção do meio ambiente.
Há,
no entanto, ainda muitas arestas a serem aparadas entre as atividades
econômicas e a conservação dos recursos naturais. É consenso de que é preciso
poupar os recursos naturais. Todavia, isto tem um custo, seja para governos ou para
empresas. A implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos, por
exemplo, representa uma despesa significativa para uma administração pública;
recurso que a cidade geralmente não dispõe. No entanto, quando se trata de
questões ambientais – neste caso do saneamento básico de uma comunidade – a
experiência recomenda não avaliarmos o investimento sob uma ótica imediatista.
Uma infraestrutura de saneamento básico em uma cidade ou região, se bem
planejada e executada, amortizará todo o investimento ao longo das três ou
quatro décadas em que estiver operando, através das taxas de tratamento de água
e esgoto cobradas pela companhia de saneamento. Afora isso, é preciso levar em
conta os benefícios que tais serviços proporcionam à saúde pública: redução de
vetores de doenças (insetos e roedores), diminuição das internações hospitalares,
principalmente de crianças. Rios e córregos permanecem limpos e sem mau cheio, valorizando
as áreas verdes e urbanas do entorno. São imensos os benefícios que o
saneamento traz para as comunidade. O mesmo ocorre, quando o município implanta
um sistema de gestão de resíduos domésticos, reciclando e dando uma destinação
correta ao lixo doméstico, em aterros sanitários devidamente regulamentados.
Muitas
sociedades já compreenderam que a conservação dos recursos naturais traz
diversos tipos de vantagens, desde melhoria da qualidade de vida até economia
de recursos. O grau de conscientização da população nas nações desenvolvidas já
é tal, que governos e empresas são constantemente cobrados para que melhorem
seu desempenho com relação ao meio ambiente. Isto, no entanto, só é possível
através de novos investimentos. Abre-se mão de um benefício imediato – lucro maior,
no caso das empresas, ou sobra de recursos, no caso do setor público – para obter
outro no futuro: melhor qualidade de vida para toda a sociedade. Infelizmente, no
entanto, todos sabemos que em nosso país as coisas não sucedem desta maneira.
Nossos comentários são, evidentemente, uma simplificação de fatos de complexidade bem maior. Principalmente, no que se refere ao setor privado, cuja receita e, consequentemente, eventuais novos investimentos em tecnologias de combate à poluição, são condicionados pela situação da empresa no mercado. No setor público as condições são um pouco diferentes, já que, pelo menos em teoria, é possível formar capitais de investimento através da cobrança de impostos e taxas, ou através da concessão de certos serviços à iniciativa privada. A ideia, no entanto, é clara: para reduzir o impacto ambiental negativo de uma atividade econômica (as externalidades) é preciso alocar recursos para investimentos em tecnologias e procedimentos com menor impacto. Geralmente, estes novos investimentos proporcionarão um processo produtivo mais limpo e eficiente.
Nas sociedades contemporâneas, podem ocorrer diversas situações em relação ao tratamento que se dá à questão ambiental. Ocorre haver falta de recursos no setor público e privado, nas economias em crise; pode haver pouca vontade política em aprovar ou fazer cumprir leis existentes; é possível inexistirem diretrizes claras, com relação ao rumo que se quer dar ao uso e à preservação dos recursos naturais. No caso do Brasil, pode-se dizer que todas estas circunstâncias se aplicam concomitantemente.
(Imagens: pinturas de William Blake)
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