Meio ambiente e investimentos: redução de impactos?

sábado, 6 de março de 2021

"Na nossa época, que extraordinária falta de livros que respirem uma força heroica! Já nem se lê Plutarco!"   -   Friedrich Nietzsche   -   O livro do filósofo

Pesquisas, relatórios e extensas reportagens sobre a destruição do meio ambiente são frequentes nas mídias há anos. Periodicamente, organizações ambientalistas e científicas publicam estudos que apontam a redução da biodiversidade e o declínio de ecossistemas por todo o mundo. Por outro lado, são pouco frequentes as notícias sobre recomposição de áreas naturais ou regeneração de espécies em processo de extinção. Não que isto não ocorra, mas em comparação com o que está sendo devastado e extinto, representa apenas uma gota no oceano.

Ao que tudo indica, o planeta caminha lenta mas inexoravelmente em direção ao desaparecimento de parte significativa dos seres vivos e de seus habitats naturais. Em algumas décadas, só veremos espécies vivas como ursos polares, coalas, onças pintadas, tamanduás-bandeira, micos leão, ariranhas, mognos, cedros rosa, jacarandás-da-Bahia e imbuias, para só citar alguns, em zoológicos e jardins botânicos. Espécies que existem há dezenas ou centenas de milhões de anos, passando por complexa evolução biológica, vêm sendo dizimadas, em ritmo acelerado, durante os últimos quarenta anos. Ironicamente, esta destruição planetária está sendo perpetrada por um animal (homo sapiens) que existe há pouco mais de 200 mil anos, e cuja espécie (hominídeos) circula pelo planeta há aproximadamente sete milhões de anos.

Há, sem dúvida, um grande esforço em desacelerar este ritmo de destruição. Aumentou bastante o número e a diversidade de especialistas que se ocupam do tema nos últimos anos; universidades, institutos de pesquisa e organizações não governamentais, além de empresas e governos. A cadeia de valor gerada pelo setor ambiental envolve os mais variados segmentos de atividades na área industrial e de serviços. Tratamento de água e efluentes domésticos e industrias; gestão de resíduos; controle da poluição atmosférica; descontaminação de solos; implantação de energias renováveis e eficiência energética; planejamento urbano; gestão de florestas e áreas naturais, turismo ecológico; é bastante extensa a lista de atividades relacionadas com a proteção do meio ambiente.

Há, no entanto, ainda muitas arestas a serem aparadas entre as atividades econômicas e a conservação dos recursos naturais. É consenso de que é preciso poupar os recursos naturais. Todavia, isto tem um custo, seja para governos ou para empresas. A implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos, por exemplo, representa uma despesa significativa para uma administração pública; recurso que a cidade geralmente não dispõe. No entanto, quando se trata de questões ambientais – neste caso do saneamento básico de uma comunidade – a experiência recomenda não avaliarmos o investimento sob uma ótica imediatista. Uma infraestrutura de saneamento básico em uma cidade ou região, se bem planejada e executada, amortizará todo o investimento ao longo das três ou quatro décadas em que estiver operando, através das taxas de tratamento de água e esgoto cobradas pela companhia de saneamento. Afora isso, é preciso levar em conta os benefícios que tais serviços proporcionam à saúde pública: redução de vetores de doenças (insetos e roedores), diminuição das internações hospitalares, principalmente de crianças. Rios e córregos permanecem limpos e sem mau cheio, valorizando as áreas verdes e urbanas do entorno. São imensos os benefícios que o saneamento traz para as comunidade. O mesmo ocorre, quando o município implanta um sistema de gestão de resíduos domésticos, reciclando e dando uma destinação correta ao lixo doméstico, em aterros sanitários devidamente regulamentados.

Com as atividades econômicas no setor privado ocorre de maneira semelhante. A empresa necessita fazer investimentos na redução da poluição resultante de suas atividades, para atender a legislação. O custo da melhoria ambiental representará um ganho futuro para a empresa, a qual, atendendo aos requisitos legais, poderá continuar com suas operações. Geralmente, ocorre que o investimento para redução dos impactos ambientais também tem influência nos custos de produção. A nova tecnologia introduzida permite, por exemplo, reduzir o uso de água e de energia, torna a produção mais eficiente e reduz o uso de matérias primas. Adicionalmente a empresa melhora sua imagem perante a comunidade e seus consumidores, deixando de ser taxada como “empresa poluidora”.  

Muitas sociedades já compreenderam que a conservação dos recursos naturais traz diversos tipos de vantagens, desde melhoria da qualidade de vida até economia de recursos. O grau de conscientização da população nas nações desenvolvidas já é tal, que governos e empresas são constantemente cobrados para que melhorem seu desempenho com relação ao meio ambiente. Isto, no entanto, só é possível através de novos investimentos. Abre-se mão de um benefício imediato – lucro maior, no caso das empresas, ou sobra de recursos, no caso do setor público – para obter outro no futuro: melhor qualidade de vida para toda a sociedade. Infelizmente, no entanto, todos sabemos que em nosso país as coisas não sucedem desta maneira.

Nossos comentários são, evidentemente, uma simplificação de fatos de complexidade bem maior. Principalmente, no que se refere ao setor privado, cuja receita e, consequentemente, eventuais novos investimentos em tecnologias de combate à poluição, são condicionados pela situação da empresa no mercado. No setor público as condições são um pouco diferentes, já que, pelo menos em teoria, é possível formar capitais de investimento através da cobrança de impostos e taxas, ou através da concessão de certos serviços à iniciativa privada. A ideia, no entanto, é clara: para reduzir o impacto ambiental negativo de uma atividade econômica (as externalidades) é preciso alocar recursos para investimentos em tecnologias e procedimentos com menor impacto. Geralmente, estes novos investimentos proporcionarão um processo produtivo mais limpo e eficiente.

Nas sociedades contemporâneas, podem ocorrer diversas situações em relação ao tratamento que se dá à questão ambiental. Ocorre haver falta de recursos no setor público e privado, nas economias em crise; pode haver pouca vontade política em aprovar ou fazer cumprir leis existentes; é possível inexistirem diretrizes claras, com relação ao rumo que se quer dar ao uso e à preservação dos recursos naturais. No caso do Brasil, pode-se dizer que todas estas circunstâncias se aplicam concomitantemente. 


(Imagens: pinturas de William Blake) 

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