O
abastecimento de água potável é um dos maiores problemas nas metrópoles dos
países em desenvolvimento, como o Brasil. A alta concentração populacional,
provocada em parte por grandes migrações do campo para a cidade ao longo dos
últimos quarenta anos, aumentou a demanda por água. Para agravar a situação, a
maioria das cidades destes países não dispõe de infraestrutura de saneamento
para atender toda a população e a própria escassez de água no entorno das
cidades dificulta a obtenção do líquido.
São
inúmeros os exemplos de metrópoles em todo o mundo com grandes dificuldades no
sistema de abastecimento de água. A cidade de Mumbai, na Índia, com 20 milhões
de habitantes, é um caso extremo. Para atender as necessidades básicas da
população, o líquido só está disponível durante algumas horas do dia. Também a falta
de banheiros nas residências ainda é bastante alta – média de um banheiro para
cada 100 habitantes –, embora a situação já tenha sido pior até a década de
1980. Lagos, na Nigéria, só dispõe de água tratada para 43% de sua população de
16 milhões de pessoas. Grande parte da água consumida nesta cidade é extraída
de poços artesianos e vendida por ambulantes, que circulam pelas ruas dos
bairros afastados. Outro exemplo é a Cidade do México, hoje com pouco mais de 20
milhões de habitantes. Destes, 70% precisam sobreviver com menos de
Estas cidades já enfrentam grandes problemas de abastecimento do líquido. Estas dificuldades deverão aumentar, caso estas comunidades não encontrem novas soluções para identificar e distribuir maiores quantidades de água. Doenças e epidemias provocadas pela má qualidade da água poderão afetar consideráveis parcelas da população destas metrópoles – além dos impactos econômicos e sociais. Outro aspecto que as administrações públicas não estão considerando, é a influência provocada pelas mudanças climáticas no consumo e na disponibilidade de água nas grandes cidades de todo o mundo. As regiões metropolitanas de São Paulo e Curitiba, que concentram, respectivamente, 21 e 3,3 milhões de habitantes, já vêm enfrentando sérias dificuldades no abastecimento de água nos últimos dez anos.
Outro
aspecto na gestão da água no Brasil, notadamente nos centro urbanos, é a perda
de água na tubulação ocasionada por vazamentos. Atualmente (2018), a Sabesp
distribui 60,9 mil litros por segundo (l/s) para abastecer os habitantes da Grande
São Paulo. Nas tubulações, no entanto, perde-se 35% do volume de água tratada. Tal
quantidade desperdiçada – cerca de 20 mil l/s – seria suficiente para abastecer
1,7 milhão de caixas d’água a cada dia. Além desse desperdício e de um consumo
médio diário de 129 litros per capita (2017), a região metropolitana de São
Paulo tem menos disponibilidade de água do que o sertão nordestino. Por isso, a
maior parte da água que a metrópole consome é importada de municípios vizinhos
e até de outro estado (MG). A contradição é que com todos os problemas de
oferta de água, a região metropolitana concentra quase 50% da população do estado
de São Paulo e só tem 4% da água disponível.
As
grandes regiões metropolitanas da maior parte dos países em desenvolvimento debatem-se
com problemas de abastecimento de água, tratamento de esgotos, energia,
transportes e moradia. Nos países ricos, as cidades conseguiram reverter este
quadro, através de maciços investimentos ao longo dos últimos 100 ou 150 anos.
Nos países em desenvolvimento e pobres estas demandas tornaram-se mais agudas
nos últimos 50 anos, com o crescimento da população e a industrialização. A
situação crítica do saneamento nestas grandes metrópoles tornou-se mais clara
ainda com a sindemia do coronavírus. Falta de água para higiene e cuidados
profiláticos com relação ao vírus, afetou especialmente as populações mais
pobres. No Brasil, o setor público continua alegando falta de recursos
financeiros para retomar programas de saneamento, parados há quase uma década.
(Imagens: pinturas de Paul Madeline)
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