Suprimento de água nas metrópoles

sábado, 20 de março de 2021

 

"A solidão humana aumentará em proporção direta ao avanço nas formas de comunicação."   -   Werner Herzog   -   citado por Eduardo Gianetti em "O livro das citações"

O abastecimento de água potável é um dos maiores problemas nas metrópoles dos países em desenvolvimento, como o Brasil. A alta concentração populacional, provocada em parte por grandes migrações do campo para a cidade ao longo dos últimos quarenta anos, aumentou a demanda por água. Para agravar a situação, a maioria das cidades destes países não dispõe de infraestrutura de saneamento para atender toda a população e a própria escassez de água no entorno das cidades dificulta a obtenção do líquido.

São inúmeros os exemplos de metrópoles em todo o mundo com grandes dificuldades no sistema de abastecimento de água. A cidade de Mumbai, na Índia, com 20 milhões de habitantes, é um caso extremo. Para atender as necessidades básicas da população, o líquido só está disponível durante algumas horas do dia. Também a falta de banheiros nas residências ainda é bastante alta – média de um banheiro para cada 100 habitantes –, embora a situação já tenha sido pior até a década de 1980. Lagos, na Nigéria, só dispõe de água tratada para 43% de sua população de 16 milhões de pessoas. Grande parte da água consumida nesta cidade é extraída de poços artesianos e vendida por ambulantes, que circulam pelas ruas dos bairros afastados. Outro exemplo é a Cidade do México, hoje com pouco mais de 20 milhões de habitantes. Destes, 70% precisam sobreviver com menos de 150 litros diários de água; limite mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).


Estas cidades já enfrentam grandes problemas de abastecimento do líquido. Estas dificuldades deverão aumentar, caso estas comunidades não encontrem novas soluções para identificar e distribuir maiores quantidades de água. Doenças e epidemias provocadas pela má qualidade da água poderão afetar consideráveis parcelas da população destas metrópoles – além dos impactos econômicos e sociais. Outro aspecto que as administrações públicas não estão considerando, é a influência provocada pelas mudanças climáticas no consumo e na disponibilidade de água nas grandes cidades de todo o mundo. As regiões metropolitanas de São Paulo e Curitiba, que concentram, respectivamente, 21 e 3,3 milhões de habitantes, já vêm enfrentando sérias dificuldades no abastecimento de água nos últimos dez anos.

Outro aspecto na gestão da água no Brasil, notadamente nos centro urbanos, é a perda de água na tubulação ocasionada por vazamentos. Atualmente (2018), a Sabesp distribui 60,9 mil litros por segundo (l/s) para abastecer os habitantes da Grande São Paulo. Nas tubulações, no entanto, perde-se 35% do volume de água tratada. Tal quantidade desperdiçada – cerca de 20 mil l/s – seria suficiente para abastecer 1,7 milhão de caixas d’água a cada dia. Além desse desperdício e de um consumo médio diário de 129 litros per capita (2017), a região metropolitana de São Paulo tem menos disponibilidade de água do que o sertão nordestino. Por isso, a maior parte da água que a metrópole consome é importada de municípios vizinhos e até de outro estado (MG). A contradição é que com todos os problemas de oferta de água, a região metropolitana concentra quase 50% da população do estado de São Paulo e só tem 4% da água disponível.

 


As grandes regiões metropolitanas da maior parte dos países em desenvolvimento debatem-se com problemas de abastecimento de água, tratamento de esgotos, energia, transportes e moradia. Nos países ricos, as cidades conseguiram reverter este quadro, através de maciços investimentos ao longo dos últimos 100 ou 150 anos. Nos países em desenvolvimento e pobres estas demandas tornaram-se mais agudas nos últimos 50 anos, com o crescimento da população e a industrialização. A situação crítica do saneamento nestas grandes metrópoles tornou-se mais clara ainda com a sindemia do coronavírus. Falta de água para higiene e cuidados profiláticos com relação ao vírus, afetou especialmente as populações mais pobres. No Brasil, o setor público continua alegando falta de recursos financeiros para retomar programas de saneamento, parados há quase uma década.


(Imagens: pinturas de Paul Madeline)     

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