Carlos Castelo Branco (1920-1993)

domingo, 23 de outubro de 2022

 


Carlos Castelo Branco, jornalista, contista e romancista, nasceu em Teresina, PI, em 25 de junho de 1920, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 1º de junho de 1993. Era filho do desembargador Cristino Castelo Branco e de Dulcila Santana Branco. Formou-se em Direito pela Universidade de Minas Gerais, em 1943. Jornalista desde 1939, trabalhou na cadeia dos Diários Associados, passando por diversos cargos de chefia e fixando-se como repórter político, a partir de 1949, inicialmente em O Jornal, depois no Diário Carioca e na revista O Cruzeiro.

Vocação literária intermitente e absorvida pelo jornalismo, Castelo Branco foi parte da “geração mineira de 1945”, ao lado de Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino, tendo publicado, em 1952, o livro Continhos brasileiros. Único contista piauiense citado por Herman Lima no seu livro Variações sobre o conto (MEC), a carreira puramente literária de Carlos Castelo Branco interrompeu-se com o romance Arco de triunfo, publicado em 1959, para dar lugar a uma das mais fulgurantes carreiras do jornalismo brasileiro.

A atividade jornalística de Castelo seria interrompida brevemente em 1961, quando assumiu o cargo de Secretário de Imprensa do presidente Jânio Quadros. A proximidade com Jânio Quadros possibilitou-lhe recolher dados e circunstâncias que ninguém mais seria capaz de alinhar com tanta percuciência e segurança, e que ele iria relatar no seu livro póstumo A renúncia de Jânio (1996). Ele próprio condicionou a publicação do depoimento a um prazo além de sua morte, porque não queria ninguém a apontar-lhe reservas e omissões, ou até incapacidade em explicar a renúncia do presidente Jânio Quadros. Se houvesse por acaso alguma explicação objetiva, o notável jornalista que foi Castelo Branco certamente decifraria as motivações desse ato.

Voltou ao jornalismo em 1962, como chefe da sucursal do Jornal do Brasil em Brasília, cargo que exerceu até 1972, e como colunista político, que foi até o fim da vida, na sua “Coluna do Castelo”. Reunindo suas colunas, publicou uma série de livros sobre “os fatos que precederam e sucederam o Movimento de março de 1964”: os dois volumes de Introdução à Revolução de 1964 e os quatro volumes de Os militares no poder, que teriam seu seguimento, conforme disse o autor, “na medida da persistência do interesse público por um depoimento que, à margem da história, procura dar apenas uma visão parcial e contemporânea de situações complexas, repetitivas, monótonas, mas apaixonantes.” A “Coluna de Castelo” representou, por unânime consenso, a peça mais importante do jornalismo político brasileiro. Sua leitura, todos os dias, constituía uma obrigação fundamental de todas as pessoas com qualquer dose de interesse, direto ou indireto, na vida pública do país.

A história de Carlos Castelo Branco confunde-se com a história da redemocratização brasileira. Desde a queda da ditadura Vargas, Castelinho, como todos os jornalistas o chamavam, passou a viver e a respirar com as instituições políticas. Pode-se dizer mesmo que passou a fazer parte delas: quando a liberdade florescia, Castelo se tornava uma das personalidades importantes da República; nas épocas de repressão, esteve sempre na primeira lista dos encarcerados. Após o AI-5 (1968) não escapou da prisão e de prestar depoimentos no DOPS. Não que ele fosse subversivo, perigoso. Ao contrário, era conservador e pacato. Mas seus escritos tinham a virtude de incomodar os poderosos que, a pretexto de salvar a pátria, escravizavam seus concidadãos.

Além da aptidão jornalística de testemunhar, registrar e reter na memória, Castelo era uma estrela de primeira grandeza na arte de interpretar os fatos políticos. Em 1976 foi presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, cargo que exerceu até 1981. Na direção do sindicato, Castelo enfrentava constantemente os militares, mas o fez com diplomacia, procurando não criar atritos. Dessa forma, conseguiu contornar até uma ameaça de intervenção, que ocorreria caso realizasse uma reunião da Intersindical (precursora das centrais sindicais) na sede do sindicato. Castelo despistou a polícia ao transferir a reunião para um clube. Em sua homenagem, o auditório do sindicato leva seu nome.

Em 24 de outubro de 1978, foi homenageado nos Estados Unidos com o prêmio Maria Moors Cabot, pela Universidade de Columbia, Nova York, destinado aos jornalistas notáveis das Américas. Recebeu também o Prêmio Mergenthaler, de liberdade de imprensa; o Prêmio Nereu Ramos de jornalismo, dado pela Universidade de Santa Catarina; e o Prêmio Almirante, na área de jornalismo.

Foi casado durante 44 anos com Élvia Lordello Castelo Branco, ministra do Tribunal de Contas da União, teve três filhos, Rodrigo, Luciana e Pedro. Rodrigo morreu prematuramente aos 25 anos de idade e Pedro também já faleceu. Com problemas de saúde, que começaram a se agravar a partir de 1986, Castelo faleceu em 1993.

Castelo foi membro da Academia Piauiense de Letras, do Pen Clube do Brasil e da Associação Nacional de Escritores. Dentre suas principais obras estão: Continhos brasileiros (1952); Arco de triunfo, romance (1959); Da conspiração à revolução, em Os idos de março e a queda em abril (1964); Introdução à Revolução de 1964, 2 vols. (1975); Os militares no poder, 4 vols. (1977, 1978, 1980 e 1981); Retratos e fatos da história recente (1994) A renúncia de Jânio (1996)

 

Frases de Carlos Castelo Branco

 

A maior virtude do ser humano é saber reconhecer o mais forte, e nunca pelear contra o mais fraco, para que sua vitória não seja contestada.”;

Meu mundo é das relatividades, talvez das dubiedades e quase nunca tomo decisões definitivas ou finais porque costumo ficar na expectativa de ter de abandonar as decisões de hoje, ou emenda-las. Estou longe, portanto, de ser um moralista” (Carta ao filho Pedro);

Eu não me sentia identificado com o jornalismo, tinha aspiração de ser escritor, pela convivência com aquele grupo mineiro. Lia muita literatura, passei a ter uma certa aspiração literária, de me realizar literariamente.” (Entrevista a Adriana Zarvos);

O jornalismo de maneira geral, é uma atividade inferior. Mas fui me entregando ao dia-a-dia da vida, e aceitei a realidade. Não lutei para ter a minha condição de escritor. Para se ter família é preciso trabalhar muito, eu trabalhava em três, quatro jornais para ter um padrão de renda bom.” (Entrevista a Adriana Zarvos);

Então o censor se sentava na minha mesa, ficava defronte de mim e ia lendo tudo que eu mandava. E vetava. Era proibido mostrar em título a palavra “democracia”, por exemplo. Não tinha telex. Era por telefone que se pegava a notícia. Eu passei uns seis meses trabalhando ao telefone. Era ruim, tinha estática.” (Entrevista a Adriana Zarvos).

 

 

(Fontes: Academia Brasileira de Letras, Wikipedia, FGV CPDDOC, Reinaldo Azevedo no UOL, Site Carlos Castelo Branco - https://www.carloscastellobranco.com.br/index.php)


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