Millôr Fernandes (1923-2012)

domingo, 16 de outubro de 2022

 



Millôr Viola Fernandes nasceu no bairro do Méier, no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923. Era filho do engenheiro Francisco Fernandes, um imigrante espanhol, e de Maria Viola Fernandes. Deveria ter se chamado Milton, mas a caligrafia do tabelião o fez Millôr. Ficou órfão de pai quando tinha 2 anos de idade e passou a infância ao lado da mãe e dos irmãos, Hélio, Judith e Ruth, época em que enfrentaram dificuldades financeiras.

Aos 12 anos, perdeu a mãe e os irmãos se separaram. Millôr foi morar na casa de um tio materno. Com habilidades para o desenho e leitor de histórias em quadrinho, copiava quadro por quadro com perfeição. Incentivado pelo tio Antônio Viola, Millôr levou seus desenhos para o periódico “O Jornal”, que logo foram publicados. Em 1938, o jovem Millôr ingressou no mercado de trabalho, como office-boy em um consultório médico e na revista “O Cruzeiro”, além de iniciar seus estudos no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Nesse ano, foi o vencedor em um concurso de contos da revista “A Cigarra”, onde passou a trabalhar. Na revista deu o nome de “Poste-Escrito” ao conjunto de frases, versos e textos inteligentes e engraçados. A página fez sucesso imediato e acabou por virar uma coluna fixa na revista, que assinava com o pseudônimo Vão Gôgo, que utilizou por muitos anos. Já em 1942, fez sua primeira tradução: A estirpe do dragão, da escritora americana Pearl S. Buck (1892-1973). Em 1943, terminou seus estudos no Liceu e retornou à revista “O Cruzeiro”, onde passou a assinar a coluna “O Pif-Paf” em parceria com o cartunista Péricles.

Em 1951, fez uma viagem pelo Brasil durante quarenta e cinco dias, em companhia do escritor Fernando Sabino (1923-2004), com o intuito de conhecerem melhor o país. Em 1952, Millôr viajou para a Europa, conheceu a Itália e, em seguida, Israel.

A primeira peça teatral do autor — “Uma mulher em três atos” — estreou em 1953. A partir de então, ele iniciou uma carreira bem-sucedida no teatro. Também apresentou o programa de televisão “Universidade do Méier”, na TV Itacolomi, em 1959. No ano seguinte, sua peça “Um elefante no caos” estreou após censura. Com ela, Millôr Fernandes ganhou o prêmio de melhor autor da Comissão Municipal de Teatro.

Como desenhista, dividiu o primeiro lugar com o americano Saul Steinberg, em um concurso realizado na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, em 1956. Em 1957 organizou um exposição individual de seus desenhos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Em 1963, publicou em “O Cruzeiro” uma versão da história de Adão e Eva, que despertou a ira religiosa dos leitores e terminou com sua demissão da revista, acusado de fazer matéria “insultuosa às convicções religiosas do povo brasileiro”. Além de seu espírito provocador, Millôr tinha uma grande capacidade de criar aforismos e ilustrações repletas de humor e criatividade.

Em 1968, Millôr começou a contribuir com material para a revista “Veja”. Nesse mesmo ano, ajudou a criar o jornal “O Pasquim”, um tabloide que fustigava a ditadura militar e que, na opinião de Millôr, “se fosse independente não duraria 100 dias e se durar 100 dias não é independente”. Em 1970, os responsáveis pela editoria e fechamento do “Pasquim” foram presos pelos agentes do governo ditatorial, entre eles, Ziraldo, Fortuna, Sérgio Cabral e Paulo Francis, que permaneceram dois meses na cadeia. Em 1971, Millôr assumiu a presidência do “Pasquim”, que estava submetido à censura prévia. A liberação do tabloide só veio em 1975. O jornal acabou durando 8.173 dias.

Em 1982, Millôr insistiu em fazer propaganda política para Brizola, então candidato ao governo do Rio de Janeiro, na sua seção da “Veja”. Foi demitido. Em 2004, porém, voltou a escrever para a revista, permanecendo até 2009. Millôr Fernandes foi ainda colunista da revista “Isto É”, do “Jornal do Brasil”, do “Estado de São Paulo”, “O Dia”, o “Correio Brasiliense” e a “Folha de São Paulo”. Também escreveu várias peças teatrais, crônicas e diversos livros.

Os textos de Millôr Fernandes, tanto a prosa quanto as peças de teatro, são caracterizados pelo humor, muitas vezes ácido. A ironia também está presente em sua obra, marcada por um espírito provocativo, levando seus leitores e seu público de teatro a refletir sobre a vida cotidiana. A crítica sociopolítica também é marcante em sua obra, além da reflexão acerca da natureza humana – um pouco a moda dos moralistas franceses do século XVII. No texto teatral, em particular, o autor transita entre a crítica de costumes — algo recorrente em sua dramaturgia — e o discurso político. Por fim, além de ser conhecido por suas comédias sobre o cotidiano carioca, o autor também enveredou pelo caminho do teatro de resistência, como a crítica define o espetáculo “Liberdade, liberdade”, e pelo chamado teatro do absurdo, assim definida pela crítica especializada a peça “Um elefante no caos”. Dentre as principais obras do autor, mencionamos: Em prosa: Eva sem costela: um livro em defesa do homem (1946), Tempo e contratempo (1949), Lições de um ignorante (1963), Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr (1973), Reflexões sem dor (1977), Que país é este (1978), Millôr definitivo: A Bíblia do Caos. Em poesia escreveu: Hai-Cais (1968), Poemas (1984). Para o teatro Millôr escreveu: Uma mulher em três atos (1953), Do tamanho de um defunto (1955), Um elefante no caos (1962), Liberdade, liberdade (1965), Computa, computador, computa (1972), Duas tábuas e uma paixão (1982), entre outros. Millôr Fernandes também traduziu parte da obra de William Shakespeare para o português.

Millôr foi casado com Wanda Rubino, entre 1948 e 2012. Em 2011 foi vítima de um AVC, que o deixou bastante debilitado, permanecendo um longo período no hospital. Faleceu em sua casa em Ipanema, Rio de Janeiro, no dia 27 de março de 2012.

 

Frases de Millôr Fernandes

 

O político profissional jamais tem medo do escuro. Tem medo é da claridade”;

Se o Reino dos Céus é dos pobres de espírito, então, meu Deus, já estamos no Paraíso”;

Por que será que a gente sempre se julga pelas propostas e sempre julga os outros pelo resultado?”;

Acreditar que não acreditamos em nada é crer na crença do descrer”;

Inúmeros artistas contemporâneos não são artistas e, olhando bem, nem são contemporâneos”;

Quem mata o tempo não é um assassino. É um suicida”;

A boca é o aparelho excretor do cérebro”;

As estatísticas provam: as estatísticas não provam nada”;

Errando é que se aprende a errar”;

O sujeito que me fará acreditar na imortalidade da alma ainda está para ressuscitar.



(Fontes consultadas: Wikipedia, eBiografia, BrasilEscola, Site Pensador, Site Companhia de Letras, Livro A Bíblia do Caos, Instituto Moreira Salles, Blog L&PM Editores, Esquina Musical, Facebook EMEF Millôr Fernandes Jornalista)

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