A ecologia é a parte da biologia que
tem como objeto de estudo as relações entre os seres vivos e destes com seu
meio ambiente. O termo e o conceito foram criados pelo biólogo alemão Ernst
Haeckel (1834-1919), na segunda metade do século XIX, que o utilizou para
denominar a nova disciplina científica que surgia à época. Atualmente, com o
desenvolvimento dos vários ramos das ciências ambientais, nosso conhecimento
nesta matéria é maior, a ponto de compreendermos melhor a interação entre os
seres vivos, o seu ambiente e o impacto das atividades humanas em toda a cadeia
da vida. A ecologia deixou de ser apenas uma disciplina teórica, como nos
tempos de Haeckel, para se tornar prática, como instrumento de planejamento e proteção
dos ecossistemas. Assim, no estágio em que está o desenvolvimento da ecologia,
não é mais possível seu estudo e sua prática desvinculados da análise da
tecnologia e do efeito desta sobre os ecossistemas.
Atualmente os governos, as empresas e a sociedade civil; todos estão envolvidos direta ou indiretamente com o tema, devido à importância do assunto. Por isso, a maior e mais difícil tarefa da ecologia é dar uma resposta à questão do desenvolvimento sustentável, ou seja, definir como a humanidade poderá desenvolver um padrão aceitável de vida para todos, sem comprometer a sobrevivência das gerações futuras em condições equiparáveis (ou melhores) de qualidade de vida – coisa que, dadas as condições da civilização mundial nos últimos anos, parece ser cada vez mais difícil de ser alcançado.
Aspectos históricos
Não houve período na existência do
homem em que este não causasse impacto ao seu ambiente. Desde a pré-história, segundo a
paleontologia, nossa espécie vem causando o desaparecimento de outras, a fim de
garantir sua própria sobrevivência. Sob o aspecto do evolucionismo, esta
afirmação não tem nada de excepcional, já que outras espécies vinham fazendo o
mesmo há pelo menos 3,5 bilhões de anos, quando surgiram os primeiros seres
vivos sobre a Terra. O componente novo desta história é que estamos destruindo
habitats e espécies em velocidade cada vez maior, o que – mais cedo ou mais
tarde – comprometerá nossa própria sobrevivência como espécie. Segundo uma
pesquisa global feita pelo IUCN (União Internacional para a Conservação da
Natureza) e publicada na Wikipedia,
mais de 800 espécies vivas foram extintas nos últimos cinco séculos; uma taxa
de aniquilação de mil a dez mil vezes mais alta do que a que ocorria antes de
nossa espécie surgir.
A aceleração do ritmo com que vimos interferindo no meio ambiente começou a se acentuar a partir do século XIX. A segunda metade deste século é marcada por vários fatos econômicos e sociais, que tiveram grande influência no desenvolvimento posterior da sociedade humana. Observa-se, por um lado, o rápido desenvolvimento das ciências da natureza, devido às novas descobertas na física, química, biologia e geologia. Como resultado prático desta atividade científica, se desenvolve a segunda fase do capitalismo, o capitalismo industrial, caracterizada pelo grande aumento da mecanização baseada na queima do carvão mineral (mineração, ferrovias, navegação) e pelo surgimento de diversos ramos no setor industrial e de manufatura. O rápido barateamento da tecnologia de produção e a grande disponibilidade de energia (carvão mineral), propiciam o aumento do número de estabelecimentos industriais em diversas regiões da Inglaterra, Alemanha e França, criando assim uma grande demanda por mão-de-obra operária.
Atendendo a esta crescente oferta de emprego, ocorrem migrações do campo para as cidades, provocando uma ocupação desordenada de suas partes mais desvalorizadas – as regiões mais baratas de se morar (como, aliás, ainda ocorreu no processo de industrialização tardia em países da América Latina, Ásia e África). A consequência foi que, na maioria dos casos, as cidades industrializadas tiveram que conviver durante muitas décadas com a degradação de vastas áreas urbanas, com o colapso da incipiente estrutura de saneamento e com o aumento das epidemias. As cidades de Londres, Manchester e Paris são exemplos de metrópoles que, entre o século XIX e início do século XX, passaram por este processo – como ainda ocorre atualmente em muitas cidades dos países pobres e em desenvolvimento.
Entre o final do século XIX e início do século XX a industrialização se expande para várias regiões do globo, incorporando novos fornecedores de matérias-primas (geralmente colônias de países europeus) e alargando os mercados consumidores. A expansão da produção, aliada à melhoria das comunicações (telégrafo) e dos transportes (navios e trens a vapor, primeiros veículos com motores a combustão), permitirão um aumento exponencial no fluxo de mercadorias e informações entre os mercados. Alguns autores identificam este período como o início da globalização moderna.
Pouco antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), surge o sistema de produção em série – a linha de montagem. O uso intensivo do sistema é atribuído a Henry Ford, que implantou a inovação na fabricação de seus automóveis, nos Estados Unidos. A grande vantagem desta nova tecnologia é a padronização e aceleração da produção, propiciando o barateamento do produto. Com grande sucesso, a linha de produção será introduzida em outros segmentos industriais, como os bens de consumo e os alimentos, permitindo ganho de escala e economia, possibilitando uma oferta maior de bens e aumentando o numero de consumidores. O sistema de produção em massa será automatizado no decorrer do século XX, até chegar à quase completa supressão do operário em certas áreas, depois da introdução da automação e dos robôs nas linhas de montagem.
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o sistema de produção industrial volta a crescer, incorporando novos mercados fornecedores de matéria prima, produtores e consumidores; o que possibilita uma diversificação ainda maior na oferta de produtos e serviços. Esta expansão pôde ser observada em vários segmentos do setor industrial. Com a crescente sofisticação da indústria química, surgem novas matérias primas – os plásticos – que representarão uma revolução no modo de embalar e transportar produtos. Paralelamente, ocorre uma grande mudança no setor agrícola: a chamada “Revolução Verde”. O avanço da fronteira agrícola em muitos países não industrializados e a necessidade de aumentar a oferta de alimentos, seja para consumo interno como para exportação, criou a necessidade de se praticar uma agricultura mais eficiente, com uso dos recém-desenvolvidos defensivos químicos agrícolas (herbicidas, fungicidas) e a utilização de equipamentos agrícolas mecanizados. Com este avanço, áreas ainda há pouco inexploradas, abrigando grande variedade de espécies, foram devastadas e transformadas em terras de monocultura. A expansão da fronteira agrícola, necessária e inevitável à época, provocou a destruição de grandes áreas de floresta na África, Leste da Ásia e América do Sul. Um dos exemplos mais graves é a região amazônica, onde o intenso processo de desflorestamento ainda persiste e vem aumentando rapidamente ao longo dos últimos anos.
Quanto ao desmatamento na região amazônica é necessário abrir um parênteses. Fato é que dada a grande extensão de áreas degradadas existentes na região do Cerrado e na Amazônia, não seria mais necessário derrubar nenhum hectare adicional de mata nativa. A eventual expansão do agronegócio poderia ser feita sobre estas extensões remanescentes; fato conhecido e respeitado pela maior parte dos empresários deste setor. A supressão da floresta que ocorre atualmente, principalmente durante o governo de Jair Bolsonaro, é causada pela grilagem (ocupação ilegal de terras) e pela atividade de garimpo em áreas de proteção ambiental e terras indígenas. Enquanto persiste a falta de controle na região, a derrubada da floresta e a invasão de territórios indígenas continua, fato que vem trazendo críticas de vários organizações internacionais e de diversos países.
A situação atual
Os últimos quarenta anos foram de
grande crescimento de todo sistema econômico mundial. O crescimento dos
mercados consumidores provocou o aparecimento de novos produtos e de novos ramos
industriais, como a indústria eletrônica e de informática. A indústria química
e farmacêutica, sempre apoiadas em grandes investimentos em pesquisas,
desenvolveram novas substâncias, utilizadas desde a conservação de produtos na
industria alimentícia até o combate de doenças que até recentemente assolavam
grandes populações, principalmente nos países pobres. A medicina preventiva e a
vacinação em massa, diminuindo a taxa de mortandade, foram os resultados
diretos do aumento da oferta de medicamentos e do desenvolvimento tecnológico
também ocorrido no setor médico. Na agricultura, aumentam os volumes das
safras, afastando – pelo menos em muitas regiões da Terra – o fantasma da fome,
que durante milhares de anos vem acompanhando a humanidade.
O desenvolvimento tecnológico também tem o seu reverso da medalha. O aumento da atividade industrial só foi possível através do crescimento no consumo de energia. As modernas sociedades consomem energia em quantidades cada vez maiores em suas diversas atividades: produção, locomoção e transporte, educação, lazer, etc. A questão energética é considerada de tal maneira estratégica no desenvolvimento das nações, que parâmetros de consumo energético são usados como indicadores de avaliação do grau de desenvolvimento tecnológico das sociedades. A energia que utilizamos tem várias origens: lenha, carvão mineral, petróleo, urânio enriquecido, água, sol, entre outras fontes. Toda a geração de energia – com exceção de algumas energias limpas como a eólica e a solar – envolve algum tipo de impacto ao meio ambiente, ou seja, poluição.
Todos os bens e produtos são fabricados a partir da transformação de certas matérias primas da natureza, cuja exploração (poços de petróleo, mineração, atividade agrícola) e processamento (indústria petroquímica, siderurgia, máquinas e equipamentos, indústria alimentícia, montadoras, etc.) gera impactos ao meio ambiente de diversas maneiras. Além disso – o que é um dos maiores problemas do sistema de produção em massa – o consumo destes produtos gera grande quantidade de resíduos, principalmente as embalagens e os produtos fora de uso (equipamentos eletrônicos, eletrodomésticos, etc.) A limitada implantação da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) nos municípios, faz com que grande parte destes resíduos não sejam reutilizados ou reciclados. Assim, é comum que muitas áreas urbanas e suburbanas sejam tomadas por todo tipo de resíduos, notadamente plástico em suas diversas formas, material que se decompõe com grande dificuldade.
Além das embalagens, existem muitos produtos usados em diversas atividades econômicas (combustíveis, defensivos agrícolas, produtos químicos, resíduos de atividades industriais, médicas e agropecuárias) que deixam resíduos perigosos presentes na natureza, provocando a contaminação do solo, da água e do ar. Isto sem falar nas cidades, que além de gerarem grandes volumes de lixo ainda produzem imensos volumes de esgoto doméstico que – na falta de tratamento – acabam correndo para os rios, provocando a sua poluição. No Brasil, o volume de esgotos domésticos tratados não ultrapassa cerca de 25% do volume total de esgoto gerado (trata-se pouco menos de 50% do esgoto coletado, que representa cerca de metade do volume gerado). O restante deste imenso volume de resíduos orgânicos altamente poluentes vai para os rios e o oceano, sem qualquer tipo de tratamento. No Brasil, ainda existe um grande hiato entre a complexidade dos problemas ambientais constatados pelos pesquisadores, e as ações que governos, empresas e instituições efetivamente vem implementando para minorá-los. A situação se agravou visivelmente a partir do atual governo, que afrouxou leis e controles, desmantelou órgãos de fiscalização e adotou um discurso contra a proteção ambiental.
Perspectivas futuras
A proteção ambiental já é tema
prioritário na agenda da maioria dos países, principalmente com a aceleração
inesperada do processo das mudanças climáticas, provocadas pelo aumento das
emissões na atmosfera. Por outro lado, estudo realizado há alguns anos por uma
entidade internacional, constatou que na maioria dos países não-desenvolvidos
faltam recursos financeiros para a criação ou melhoria de órgãos de proteção, para
planejamento ambiental, treinamento de pessoal e compra de equipamentos. Outra
dificuldade identificada pela pesquisa é a falta de coordenação entre as
diversas agências governamentais, no que se refere aos aspectos ambientais de
seus programas de ação, a chamada “transversalidade” defendida pela ministra
Marina Silva, no primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Os
países ricos, dispondo de melhor estrutura institucional e contando com mais
recursos financeiros para implementar projetos de combate à degradação dos
recursos naturais, ainda continuam afetando o meio ambiente através de suas
atividades econômicas, mesmo que em menor escala. O fenômeno do aquecimento
global, por exemplo, é causado principalmente pelos setores de geração de
energia, indústrias e transporte dos países industrializados.
Ao longo dos últimos cinquenta anos, acumularam-se problemas ambientais de todo o tipo pelo mundo: excesso e destinação incorreta de resíduos domésticos e industriais, efluentes domésticos e industriais não tratados, solos contaminados por substâncias tóxicas e metais pesados, poluição atmosférica causada por veículos e indústrias, uso excessivo de defensivos agrícolas, impacto ambiental causado por grandes obras como barragens e canais, escassez de água potável em várias regiões, mortandade de espécies, o aquecimento global, explosão demográfica, entre outros. A lista é imensa e só tende a aumentar.
Da lasca de sílex, utilizada como instrumento de corte por nossos antepassados, até o bisturi a laser, foram precisos centenas de milhares de anos. Ocorreu que vez ou outra nossos antepassados alteraram ambientes, causando o desaparecimento de outras espécies. Este processo vem se acelerando, chegando ao ponto em que nos encontramos hoje, quando os recursos naturais começam a se exaurir e outras espécies desaparecem rapidamente – fala-se em uma extinção em massa, como ocorreu há 60 e há 220 milhões de anos.
Na natureza, a cadeia de causa e
efeito é tão complexa, que os cientistas ainda não conseguiram entendê-la por
completo, se é que conseguirão algum dia. Quantas espécies de protozoários,
fungos, algas, plantas e animais devem continuar existindo para que sejam
mantidas as condições na Terra, de modo a garantir a nossa sobrevivência? Quais
microrganismos, afetados pelas atividades econômicas em áreas remotas, poderão
se espalhar em todo o planeta, como recentemente ocorreu com o vírus do Ebola,
da AIDS, da Covid 19, e outras possíveis pandemias que venham a surgir? Não
sabemos.
Baseados no que vem ocorrendo até o presente, podemos prever que continuaremos a destruir outras espécies; não há como evitar. Não é possível suspender ou mudar todas as atividades humanas – das quais depende nossa sobrevivência imediata – de um dia para o outro. O que é razoável de se esperar é que com o passar do tempo possamos reduzir o impacto de nossas atividades sobre os ecossistemas do planeta, o que já será grande coisa se o conseguirmos.
(Imagens: pinturas de Zhang Daqian)
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