Antônio Callado (Antônio
Carlos Callado), jornalista, romancista, biógrafo e teatrólogo, nasceu em
Niterói, RJ, em 26 de janeiro de 1917, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28
de janeiro de 1997. Ingressou na Faculdade de Direito em 1936 e, no ano
seguinte, começou a trabalhar, como repórter e cronista, em O Correio da Manhã. Iniciava aí uma
carreira jornalística que lhe proporcionou muitas viagens e contato com alguns
dos temas de sua obra.
Diplomou-se
em Direito em 1939. Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, foi contratado
pela BBC de Londres como redator, lá trabalhando até maio de 1947. Num período
intermediário, de novembro de 1944 a outubro de 1945, trabalhou também no
serviço brasileiro da Radio-Diffusion
Française, em Paris (a sede do Serviço ficava nos Champs-Elysées e
seu chefe era o escritor Roger Breuil). Em 1943, casou-se com a inglesa Jean M.
Watson, com quem teve três filhos. Casou-se, em 1977, com a professora e
jornalista Ana Arruda Callado.
Ao
retornar ao Brasil voltou a trabalhar no O
Correio da Manhã e também passou a colaborar em O Globo. Foi redator-chefe do Correio da Manhã de 1954 a 1960,
quando foi contratado pela Enciclopédia
Britânica para chefiar a seção de uma nova enciclopédia, a Barsa, publicada em 1963. Foi em seguida
redator do Jornal do Brasil, que
o enviou, em 1968, ao Vietnã em guerra. Em 1974 esteve como Visiting Scholar em Corpus Christi College,
Universidade de Cambridge,
Inglaterra. Passou o segundo semestre de 1981 lecionando, como Visiting
Professor, na Columbia University, Nova York. Aposentou-se como jornalista
em 1975, mas continuou a colaborar na imprensa. Em abril de 1992 tornou-se
colunista da Folha de S. Paulo.
Além
das atividades jornalísticas, dedicou-se sempre à literatura. Ainda jovem pôde
ler, na biblioteca do pai, os autores europeus que mais tarde marcariam seu
trabalho, sobretudo franceses e ingleses, como Proust e Joyce, ao lado de
alguns brasileiros, como Machado de Assis e José de Alencar. Nos seus dois
primeiros romances, “Assunção de Salviano” (1954) e “A madona de
cedro” (1957), persiste uma nítida preocupação religiosa a informar e até
mesmo a condicionar o transcurso da aventura e a temática. Mas o encontro entre
o escritor e os principais temas de sua obra deu-se através do jornalismo, que
o levou, além dos anos passados na Europa, a lugares como Bogotá, Washington,
Xingu e Havana, que enriqueceram a sua bibliografia com livros de reportagem e
obras literárias engajadas com as grandes questões de seu tempo. Entre os mais
importantes, estão “Quarup” (1967), “Bar Don Juan” (1971), “Reflexos
do baile” (1976), “Sempreviva” (1981), que apresentam um retrato
do Brasil durante o regime militar, do ponto de vista dos opositores. Seu
engajamento lhe custou duas prisões: uma em 1964, logo após o golpe militar, e
outra em 1968, após o fechamento do Congresso com o AI-5.
Teatrólogo,
reuniu quatro de suas peças no volume “A Revolta da Cachaça”, em 1983. Uma
delas, “Pedro Mico”, encenada em muitas ocasiões, foi transformada em
filme que teve como ator principal o ex-jogador de futebol Pelé. Em março de
1987 participou, em Paris, do Salon
du Livre, a convite do Ministério da Cultura da França. Em novembro de 1990
representou o Brasil na semana “De Gaulle en son siècle”, comemorativa do
centenário do General Charles de Gaulle.
Em
1958 recebeu, na Embaixada da Itália no Rio de Janeiro, a medalha da Ordem do
Mérito da República Italiana. Em 1982 foi à Alemanha, como vencedor do Prêmio
Goethe, do Goethe Institut do Rio de
Janeiro, com o romance “Sempreviva”. Em setembro de 1985 recebeu, pelo
conjunto de suas obras, o Prêmio Brasília
de Literatura, da Fundação Cultural
do Distrito Federal. Em outubro de 1985 recebeu, na Embaixada da França em
Brasília, a Medalha das Artes e das
Letras, das mãos do Ministro da Cultura Jack Lang; em maio de 1986, o
prêmio Golfinho de Ouro, de
Literatura, outorgado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro; em 1989, o
troféu Juca Pato, da União Brasileira dos
Escritores, por ter sido eleito “Intelectual do Ano”.
Levada
ao cinema em 1989 por Ruy Guerra, a narrativa de “Quarup” transcorre entre o
suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e o golpe militar de 1964. Nela, nos
deparamos com Nando, um jovem padre com conflitos existenciais que busca
explicações para a vida em uma viagem rumo ao Xingu para trabalhar com tribos
indígenas. Por lá, além de se deparar com a natureza, também tem contato com
diversos prazeres da vida, muitos deles coibidos pela igreja. Mais adiante,
após a ditadura ser instaurada no país, Nando é preso por trabalhar com a
alfabetização de adultos, atividade vista como subversiva pelos militares. Dos
novos conflitos que isso lhe traz, ao cabo, enfim, resolve pegar em armas para
lutar contra a situação que o país se encontrava.
O
escritor foi um dos detidos no episódio que ficou conhecido com os “Oito do
Glória”, quando uma manifestação foi armada em frente ao Hotel Glória, no Rio
de Janeiro, para denunciar à OEA, que realizaria ali uma conferência em
novembro de 1965, o estado ditatorial que o Brasil se encontrava.
Outra
detenção aconteceu em 1978, quando retornou de uma viagem a Cuba com sua família.
Passou mais de 12 horas na Polícia Federal e no Departamento de Polícia
Política e Social “prestando satisfações”. A principal suspeita era que Callado
estivesse trazendo “material suspeito” da ilha. “Basicamente o que eles queriam
saber era: o que nós fomos fazer em Cuba? O que nós vimos? Com quem nos
encontramos? Respondi que fui convidado para um concurso literário, não vimos
nada demais e não mantivemos contato com nenhum marginal”, disse o escritor a
jornalistas depois de ser liberado.
Entre
suas principais obras, podem ser citados: Esqueleto
na lagoa Verde, reportagem (1953); A
assunção de Salviano, romance (1954); A
cidade assassinada, teatro (1954); Frankel,
teatro (1955); A madona de cedro,
romance (1957); Retrato de Portinari,
biografia (1957); Pedro Mico, teatro
(1957); Colar de coral, teatro
(1957); Os industriais da seca,
reportagem (1960); O tesouro de Chica da
Silva, teatro (1962); Forró no
engenho cananéia, teatro (1964); Tempo
de Arraes, reportagem (1965); Quarup, romance (1967); Vietnã do Norte,
reportagem (1969); Bar Don Juan, romance
(1971); Reflexos do baile, romance
(1976); Sempreviva, romance (1981); A expedição Montaigne, romance (1982); A revolta da cachaça, teatro, reunião de
4 peças (1983); Entre o deus e a vasilha,
reportagem (1985); Concerto carioca,
romance (1985); Memórias de Aldenham
House, romance (1989); O homem
cordial e outras histórias, contos (1993).
Eleito
para a Academia Brasileira de Letras em 17 de março de 1994, Cadeira n. 8, na
sucessão de Austregésilo de Athayde, foi recebido em 12 de julho de 1994 pelo acadêmico
Antonio Houaiss. Além disso, foi membro da The
Corpus Association, do Corpus Christi College, Cambridge (Inglaterra).
Callado veio a falecer na cidade do Rio de Janeiro, aos 80 anos, no dia 28 de janeiro
de 1997.
"Callado mexeu com o fogo e soltou os cães
contra a ditadura. Quem não viveu aquela época entende pouco o impacto que
'Quarup' provocou. Publicado em plena ditadura, escrito na linguagem rigorosa
de Callado, um jornalista que tinha informação e estilo, um romancista que era
exigente, Callado soltou os cães, esbravejou. Falar de ditadura, repressão,
tortura, assassinatos, clandestinidade, luta armada, era mexer com fogo. Podia
ser preso, morto, torturado, desaparecer. O escritor desmascarou todo o
sistema, juntou épocas, Getúlio, Lacerda, militares, tudo e todos, era tudo
farinha do mesmo saco. A qualquer momento sua porta era arrombada e a morte
entrava. Prendia-se pelo menor motivo. Sabia-se destas coisas principalmente os
da mídia, mas não podiam falar". Ignácio de Loyola Brandão sobre
Quarup.
Frases
de Antonio Callado
“Quando Deus nos encaminha àquilo que
temos capacidade de amar com maior verdade, está nos encaminhando a ele próprio.”;
“Se vais entrar dentro de ti arma-te até aos
dentes.”;
“Ah, o bálsamo da desgraça alheia pousando
fresco sobre as nossas feridas...”;
“Defesa a gente só usa contra amigos e mulher
que a gente ama. Só a opinião deles é que pode alegrar ou mortificar, Manuel. A
gente só entra franco e de peito aberto nos inimigos.”;
“Quem opta pelo regime autoritário não tem fé
nem apreço pela criação artística.”;
“Faltas expiadas valem mais do que virtudes
não praticadas.”.
(Fontes: Academia Brasileira de Letras,
Cultura Niterói, Net Saber biografias, Wikipedia, PENSADOR)
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