“A
ciência torna-se todo dia mais sutil, acessível só a uma elite de especialistas;
as aplicações técnicas da ciência tornam-se todo dia mais acessíveis à maioria.
Em consequência disso, afrouxam-se as relações íntimas entre ciência e técnica,
aquela cada vez mais abstrata, cada vez mais comercializada – e já não existe a
“Medida” da qual a civilização precisa. Por isso, o progresso técnico não é
incompatível com decadência intelectual. ‘Já no século XIX, os viajantes
comerciais venderam facas e garfos aos antropófagos’. Realizaram-se as grandes
esperanças ligadas à eliminação do analfabetismo? A maioria dos alfabetizados
só chega a ler vespertinos. ‘Hoje em dia, o homem médio está diariamente e
noturnamente informado de todas as coisas e mais algumas outras coisas’. Quase
sempre pode dispensar e dispensa as experiências próprias e a meditação,
recebe, em latas, os conhecimentos, as opiniões e as conclusões. Valores
discutíveis são tidos como absolutos porque não é preciso nenhum esforço
intelectual para aceitá-los. A capacidade crítica desaparece. ‘Justamente entre
as pessoas cultas, de formação dispendiosa, encontram-se os preconceitos mais
absurdos, aquela imbecilidade que costumam atribuir à plebe’.” (Carpeaux, págs.
51 e 52)
Otto Maria Carpeaux, Ensaios Reunidos 1946-1971 Volume II
0 comments:
Postar um comentário