“Para
aqueles que sofrem é necessário uma esperança que a realidade não possa
contradizer – e da qual satisfação alguma os consiga afastar: uma esperança de
além-túmulo. (É precisamente por causa desta sua capacidade de entender os
desgraçados, que a esperança era considerada entre os gregos como o mal entre
os males, o mais astucioso de entre todos: deixavam-no no fundo da caixa de
Pandora). Para que o amor seja possível, Deus deve ser uma pessoa; para que os
instintos subjacentes se possam expandir é necessário que o Deus seja jovem.
Para o fervor das mulheres põe-se em primeiro plano um belo santo; para o dos
homens, uma virgem. Isto na pressuposição de que o cristianismo queira imperar
num terreno onde o culto de Afrodite ou o de Adônis tinha já determinado o
caráter de adoração. A exigência de castidade reforça a veemência e a interioridade
do instinto religioso – torna o culto mais fervoroso, mais exaltado, mais
intenso. O amor é o estado em que os homens têm mais probabilidade de ver as
coisas como elas não são.” (Nietzsche, pág. 45 e 46).
Friedrich Nietzsche, O Anticristo
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