“Saussure
foi o primeiro a chamar a atenção para o fato de que não há entre as palavras e
as coisas, entre o significado e o significante, uma correspondência de um por
um. Ao contrário, o significado tende a escorregar por baixo do significante,
isto é, o significante, longe de simples e honestamente espelhar os fatos, tem,
ao contrário, o hábito de defini-los ou de construí-los. Ele acrescentou que,
sem palavras, todo pensamento é uma massa disforme e indistinta. Enquanto o
projeto do Iluminismo tinha assumido que são os fatos que determinam a maneira
pela qual nós pensamos sobre eles, Saussure propôs que são nossas palavras que
determinam o modo pelo qual nós pensamos sobre os fatos. Rorty, em nossos
próprios dias, repetiu esta visão ao propor que os fatos são sentenças em forma
de coisas. Nietzsche foi mais longe que o linguista suíço. Saussure achava que
sem palavras há apenas ‘pensamento caótico’, mas ficou para Nietzsche a
incumbência de descobrir que mesmo ‘com’ palavras não há representação direta
da realidade. Foi ele o primeiro pensador a questionar radicalmente esta
confiança na transparência da linguagem.” (Vaitsman e Girardi)
Jeni Vaitsman e Sábado Girardi, A ciência e seus impasses: debates e tendências em filosofia, ciências sociais e saúde
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