Aparício Fernando
de Brinkerhoff Torelly, também
conhecido por Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé (Rio Grande, 29 de
janeiro de 1895 — Rio
de Janeiro, 27 de novembro de 1971), foi um jornalista, escritor e
pioneiro no humorismo político brasileiro.
Sua
mãe, Maria Amélia, filha de um estadunidense descendente de russos, teve morte
trágica, suicidou-se quando tinha 18 anos e ele 18 meses; seu pai, filho de
um italiano com
uma gaúcha, enviou-o
a um internato jesuíta em São Leopoldo (RS). Apparício Torelly iniciou-se
no humorismo em
1908 no jornalzinho "Capim Seco", do colégio onde estudava,
satirizando a disciplina dos padres jesuítas de São
Leopoldo.
Em
1918, durante suas férias, sofre um AVC quando andava
na fazenda de um tio. Abandona o curso de Medicina no
quarto ano e começa a escrever. Publica sonetos e artigos em jornais e
revistas, como a “Revista Kodak”, "A Máscara" e
"Maneca". Em 1925 entra para “O Globo” de Irineu
Marinho. Com a morte de Irineu, Apporelly foi convidado por Mário Rodrigues
(pai de Nelson Rodrigues) a ser colaborador do
jornal “A Manhã”.
Ainda
em 1925, no mês de dezembro, Apparício Torelly estreava na primeira página com
seus sonetos de humor que, geralmente, tinham como tema um político da época.
Sua coluna humorística fez sucesso e também na primeira página, em 1926,
começou a escrever a coluna "A Manhã tem mais…". Neste mesmo ano
criou o semanário que viria a se tornar o maior e mais popular jornal de humor
da história do Brasil. Bem ao seu estilo de paródias, o novo jornal da capital
federal tinha o nome de “A Manha”, e usava a mesma tipologia do jornal em
que Apparício trabalhava, sem o til, fazendo toda diferença, que era reforçada
com a frase ladeando o título: "Quem não chora, não mama". Para
estréia tão libertadora, Apporelly não perdeu a data de 13 de maio de
1926. “A Manha” logo virou independente.
Durante a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas partiu de trem rumo à capital federal, então o Rio de Janeiro, propagou-se pela imprensa que haveria uma batalha sangrenta em Itararé. Isto foi vastamente divulgado na imprensa. Apporelly não ficou de fora desta tendência. Esta batalha ocorreria entre as tropas fiéis a Washington Luís e as da Aliança Liberal que, sob o comando de Getúlio Vargas, vinham do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder. A cidade de Itararé fica na divisa de São Paulo com o Paraná, mas antes que houvesse a batalha "mais sangrenta da América do Sul", fizeram acordos. Uma junta governativa assumia o poder no Rio de Janeiro e não aconteceu nenhum conflito. Na verdade, em outubro de 1930, Apparício se autodeclarara “Duque” nas páginas de “A Manha”: Mas como ele próprio anunciara semanas depois, "como prova de modéstia, passei a Barão."
Na
manhã de 19 de outubro de 1934, Apparício
saía de casa em Copacabana, no número 188 da rua Saint-Romain, rumo ao
Centro, onde trabalhava, quando seu carro, um Chrysler, foi interceptado por
dois veículos. Cinco homens, alguns deles armados, sequestraram o editor do
Jornal do Povo.
"Tem
família?", perguntou um dos sequestradores, já com os carros batendo em
retirada. "Isso não vem ao caso", respondeu o sequestrado. "Nem
é da conta dos senhores". "Escreva despedindo-se", continuou o
sujeito. "É um favor que lhe prestamos". "Dispenso-o",
retrucou a vítima.
Logo,
Torelly descobriu que os homens que se diziam policiais eram, na verdade,
oficiais da Marinha. Estavam indignados com a publicação de um folhetim sobre a
Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro João Cândido (1880-1969), o
Almirante Negro. Como Torelly se recusou a suspender a publicação, que
denunciava os maus-tratos na Marinha, foi espancado.
Os
sequestradores cortaram seus cabelos, furaram os pneus de seu carro e o
abandonaram, quase nu, num local deserto. Na tarde daquele mesmo dia, uma
sexta-feira, depois de voltar para a redação, Torelly pendurou, na porta de sua
sala, uma placa com os dizeres: "Entre sem bater".
O
jornal “A Manha” circulou até fins de 1935, quando o Barão foi preso
por ligações com o Partido Comunista Brasileiro, então
clandestino. Foi libertado em dezembro de 1936, já ostentando a volumosa barba
que cultivaria por boa parte de sua vida. Retomou o jornal por um curto
período, até que viesse nova interrupção, ao longo de todo o Estado Novo e voltando em edições
espasmódicas até 1959.
No
mês de novembro de 1935, uma parte da ANL sob a liderança do PCB iniciou em
Natal, em Recife e no Rio de Janeiro uma insurreição armada, que acabou
sufocada em pouco tempo pelas forças governamentais. Seguiu-se ao levante uma
onda de repressão sobre os aliancistas e A Manha deixou de circular em 1936,
com a prisão de Torelli, acusado de participação na rebelião. Após a
instauração do Estado Novo (1937-1945) em novembro de 1937, Torelli foi
companheiro de cela no presídio da rua Frei Caneca do escritor Graciliano
Ramos, que o citou em seu livro “Memórias do cárcere”. Na ocasião Torelli
declarou a Graciliano que havia adotado inicialmente o título de duque de
Itararé, passando depois a barão “como prova de modéstia”.
Depois
de libertado, foi delegado do Distrito Federal ao I Congresso Brasileiro de
Escritores, que se realizou em São Paulo, promovido pela Associação Brasileira
de Escritores, de 22 a 27 de janeiro de 1945. O congresso, que reuniu
expressivo número de intelectuais de variadas tendências políticas e emitiu uma
declaração em favor da democracia e das liberdades públicas, constituiu uma
contundente tomada de posição contra o Estado Novo. Quando do decreto de
anistia de 18 de abril de 1945, pelo qual foi beneficiado, Aparício Torelli
declarou: “A anistia é um ato pelo qual os governos resolvem perdoar generosamente
as injustiças e os crimes que eles mesmos cometeram.”
Recriou
“A Manha” em 1946 e nessa nova fase o jornal contava entre seus colaboradores
com Rubem Braga, José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda, Carlos Lacerda,
Raul Lima e Pompeu de Sousa.
Torelli
elegeu-se vereador pelo Distrito Federal, na legenda do PCB, nas eleições de
janeiro de 1947. Com o cancelamento do registro do partido em maio de 1947 e a
posterior cassação dos parlamentares comunistas em janeiro de 1948, perdeu o
mandato. Nessa época colaborou no jornal “Para Todos”, quinzenário de cultura
brasileira, dirigido por Jorge Amado, e lançou também o “Almanaque”. A “Manha”
perdurou até 1957, quando Torelli deixou o jornalismo para se dedicar a viagens
durante as quais fazia palestras.
Em
1963 visitou a República Popular da China como conferencista. Poucos anos
depois, doente, passou a viver em seu apartamento no Rio de Janeiro, de onde
raramente saía. Faleceu nessa mesma cidade em 27 de novembro de 1971.
Frases
de Aparício Torelli (Barão de Itararé):
“Não é triste mudar de ideias, triste é
não ter ideias para mudar.”;
“De onde menos se espera, daí é que não sai
nada.”;
“Quem empresta, adeus.”;
“Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto
depende de que lado da porta do banheiro você está.”;
“Negociata é um bom negócio para o qual não
fomos convidados.”;
“Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou
contigo.”.
(Fontes: Wikipedia; BBC News Brasil; FGV CPDOC; Revista BULA)
0 comments:
Postar um comentário