"El nihilismo puede ser tanto una señal de debilidad como de fuerza. Es una expresión de la inutilidad del otro mundo, pero no del mundo y de la existencia em general." - Ernst Jünger - Sobre la línea
A
sociedade brasileira convive com grandes e pequenas incoerências, direta ou
indiretamente resultantes da estrutura econômica que condiciona as relações
sociais. A começar pela desigualdade social, que apesar do desenvolvimento da
economia ao longo dos últimos setenta anos, ainda não foi reduzida. Ao
contrário, se aprofundou mais ainda, principalmente durante os últimos dez
anos. Continuamos a ser um dos países com a pior distribuição de renda em todo
o planeta, apesar de estarmos colocados entre as 12 ou 13 maiores economias (já
chegamos a ser a 6ª), dentre 193 outras nações.
A
diferença de classes, comum em qualquer sociedade, foi levada ao extremo no
Brasil. Se nos anos 1950 1960 e 1970, com a forte industrialização e
urbanização do país, havia a convicção de que gradativamente as diferenças
sociais diminuiriam, de que as oportunidades surgiriam para todos, nos anos
1980 esta impressão foi se desvanecendo e só se manteve através de propaganda
oficial e privada. Planos econômicos, reformas, crises seguidas por crises, fizeram
com que a situação da maior parte da população permanecesse estagnada ou piorasse.
Mas
uma pequena parcela da população se locupletava (e ainda locupleta) em toda
esta confusão econômica, aproveitando as “oportunidades” que surgiam, apossando-se
de parte substancial das riquezas produzidas por toda a sociedade. A política e
a condução da economia eram, afinal, em grande parte, dominadas por estes
grupos; os donos do capital e dos meios de produção – terras, fábricas,
máquinas. A classe média em seus diversos níveis, cerca de 30% da população,
tentava a todo custo sobreviver, mas também reduzindo suas expectativas de
melhoria de vida.
A
cultura vigente no país, fomentada pela propaganda do governo, por seus
agentes, pelo empresariado e pelos diversos agentes ideológicos – mídias,
escolas, igrejas, associações -, sempre ignorou ou procurou amenizar esta
escandalosa situação. Grande parte da população introjetou esta cultura através
de conceitos, que formaram uma ideologia cuja função é justificar – ou pelo
menos explicar por argumentos enganosos – esta situação. Como é possível que em
um país tão grande, com tantos recursos naturais, com tanto potencial de
desenvolvimento já existente, haja tanta concentração de riqueza de um lado e
tanta miséria do outro? Mérito pessoal, engenhosidade, extenuante trabalho?
(Risos)
Por outro lado hoje, no cenário mundial, as condições econômicas não são boas e tendem a piorar, a depender do desenvolvimento do conflito entre a Rússia e a Ucrânia (leia-se Estados Unidos) e de outros fatores, como a recuperação da economia chinesa e a questão do suprimento de energia na Europa. Ao mesmo tempo, vários cientistas afirmam que a velocidade das mudanças climáticas tende a aumentar, provocando um maior número de fenômenos violentos, como secas prolongadas, chuvas torrenciais, nevascas, furacões, entre outros.
O
Brasil, até por sua localização e extensão territorial, não está imune a todos
estes acontecimentos. Grande parte de nossas exportações, por exemplo, são do
setor agropecuário, que depende muito do clima. Nosso consumo de bens industrializados
depende em parte de importações, já que a produção interna da indústria vem
decrescendo ao longo dos últimos anos. Mesmo o terceiro setor, o de serviços,
tido como “tábua de salvação para o desemprego” que assola o país há muitos
anos, começa a mostrar uma queda, desde outubro de 2022.
Assim,
devido a diversos fatores internos e externos, o país chegou a mais uma dessas
“encruzilhadas” da história. Fatos ocorrendo nas economias e na política dos
países mais desenvolvidos acabam influenciando outras nações e, com isso, o
desenvolvimento posterior da história local e mundial. Foi assim com o surgimento
do sistema de produção industrial no final do século XVIII na Inglaterra, e com
as Guerras Napoleônicas no início do século XIX na Europa, por exemplo. Hoje,
além dos fatores político-econômicos, temos outro que irá influenciar e
condicionar a evolução das sociedades por séculos: as mudanças climáticas.
Em relação ao futuro do Brasil, cabe perguntar se continuaremos nos contentando com as mesmas velhas respostas, que nos dão há décadas os “donos do poder”, em relação ao país. Ver a fome, o desemprego, a falta de serviços médicos, a educação ruim, os salários baixos, as péssimas condições de moradia, as populações inteiras desassistidas, e dizer: “Este país não muda por causa da corrupção dos políticos”, “Não dá pra mudar nada com tanta burocracia”, “São eles, os ricos, quem mandam”, “É como Deus quer, está nas mãos Dele"? Até quando vamos nos deixar iludir com esta ideologia, elaborada especialmente para manter as pessoas no imobilismo e esconder esta incoerência?
(Imagens: pinturas de Nicole Eisenman)
0 comments:
Postar um comentário