"A violência considera-se sempre uma contraviolência, isto é, uma resposta à violência do Outro." - Jean-Paul Sartre - Crítica da razão dialética
Quanto
mais desorganizado um sistema; seja um ecossistema natural, uma empresa
industrial ou comercial ou uma sociedade de qualquer período histórico, por
exemplo, mais difícil torna-se obter dados e informações de
forma coerente e em numero suficiente para tirarmos certas conclusões a respeito deste sistema. Ou seja,
o sistema desorganizado não tem uma estrutura original, relativamente harmônica
ou estática; está sendo afetado por mudanças, que darão origem a desenvolvimentos
imprevisíveis para o observador. Por exemplo, se numa floresta tropical forem
feitas várias intervenções através da atividade humana – desmatamento,
introdução de espécies exóticas, aplicação de produtos químicos (como o “agente
laranja” aplicado nas florestas do Sudeste Asiático pelas tropas americanas na
Guerra do Vietnã), será muito difícil, se não impossível, prever a evolução
deste “sistema-ecossistema”. Como os organismos foram ou serão afetados em sua
alimentação, reprodução, sobrevivência? Se isto já é difícil em organismos
superiores, basta imaginar o grau de complexidade inerente a uma análise dos
efeitos nos trilhões de microrganismos – fungos, bactérias, insetos, vermes, vírus –
que habitam o interior do solo deste ecossistema. A natureza demandará tempo
para que o ecossistema volte a se recolocar em relativo equilíbrio,
adaptando-se às novas condições (organismos que desapareceram e outros que
puderam ocupar seus nichos).
Numa
empresa a situação é comparável, se bem que menos complexa. O empreendimento foi
estruturado de uma determinada maneira por planejadores, especialistas e
técnicos de várias áreas, dependendo da amplitude do espectro de suas atividades e
processos, para atingir determinados fins. Neste “sistema-empresa” cada
equipamento, pessoa ou departamento, está sujeita a procedimentos que devem ser
seguidos para manter a empresa em funcionamento, atingindo de uma maneira coesa
seus objetivos. Se as condições do ambiente externo ou interno à empresa
continuarem sendo as mesmas daquelas previstas pelos seus dirigentes, o “sistema-empresa”
continuará operando, produzindo, vendendo e trazendo lucro aos seus
proprietários. Todavia, se um fator adverso externo ou interno – como uma crise econômica, o aumento
do custo dos insumos, o surgimento de um forte concorrente, um desfalque na contabilidade, a quebra de um equipamento – alterar este equilíbrio, será difícil prever quais poderão
ser as consequências para a continuidade do empreendimento. Assim como um ecossistema,
a empresa demandará tempo e intervenção humana, para voltar à situação de
equilíbrio no novo ambiente e nas novas condições de operação. Dependendo da gravidade do ocorrido e da capacidade de resiliência, o empreendimento poderá desaparecer, como aconteceu, por exemplo, com a linha de câmeras fotográficas de filme da empresa Kodak.
Já
as sociedades, as civilizações, transformam-se ou desaparecem por inumeráveis fatores,
por vezes até desconhecidos para os historiadores. Ainda não existe uma
explicação definitiva, por exemplo, sobre o motivo da decadência e do
desaparecimento do império Maia na Mesoamérica, entre os séculos IX e XI de
nossa era. Muitas cidades da antiga Mesopotâmia desapareceram queimadas e
destruídas por saqueadores e dezenas delas ainda jazem desconhecidas, debaixo
das areias do deserto do Iraque. O império acádio, primeiro estado mesopotâmico
semita em 2.400 a. C., entrou em decadência por falta de água. Períodos
prolongados de seca fizeram com que sua população abandonasse a região. Eridu,
considerada a cidade mais antiga da história (5.500 a. C.), localizada na
confluência dos rios Tigris e Eufrates na foz do Golfo Persico, foi abandonada
definitivamente em cerca de 600 a. C. por falta de água. Outras cidades foram
destruídas pelo fogo e saque, tendo sido reconstruídas por diversas vezes, como
a lendária Tróia da Ilíada, cujas 10 camadas de ocupação foram descobertas no
século XIX. No Brasil, a própria nascente São Paulo de Piratininga foi vítima de um ataque dos indígenas das tribos dos guarulhos, guainás e carijós, em 1562, conseguindo sobreviver.
(Imagens: pinturas de Tammam Azzam)
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