Outras leituras

terça-feira, 25 de junho de 2024

 



Mentira e verdade

“A única vantagem de ser mais velho é poder mentir para os mais jovens. Eu trabalho e lido com gente mais moça do que eu - isso num mundo em que a cada dia só há gente mais moça do que eu. Que fazer, então, para sobreviver? Mentir, claro. Principalmente, mentir para deprimir os jovens. E atenção que jovem, para mim, é qualquer um com menos de 40 anos. Então vai-se e mente-se para a garotada. Mente-se com aquele velho - ênfase no velho papo do “antigamente”. Vocês manjam. “Antigamente, a praia era muito melhor... antigamente, a rua era muito melhor... antigamente, as pessoas eram muito melhores...” E melhores eram o sol, a lua e as estrelas. Esse papo é perigoso. Você vira fácil, fácil o chato de galochas, o já-era, o não-está-com-nada. Tem que se tomar muito cuidado. Há que se evitar de qualquer maneira a construção “Não se faz mais isso ou aquilo outro como antigamente”. Não, não. A depreciação do novo e atual há que ser feita com sutileza. Há que se encaixar, assim como quem não quer nada, no meio do papo, coisas como “engraçado, a última vez que eu fui ao Maracanã, o Jairzinho deu um banho de bola talvez até maior que o último banho de bola do Ronaldinho”.

 

Ivan Lessa (1935-2012), jornalista brasileiro, um dos fundadores do semanário "O Pasquim", escritor, em Ivan vê o mundo – crônicas de Londres

0 comments:

Postar um comentário