“A
única vantagem de ser mais velho é poder mentir para os mais jovens. Eu
trabalho e lido com gente mais moça do que eu - isso num mundo em que a cada
dia só há gente mais moça do que eu. Que fazer, então, para sobreviver? Mentir,
claro. Principalmente, mentir para deprimir os jovens. E atenção que jovem,
para mim, é qualquer um com menos de 40 anos. Então vai-se e mente-se para a
garotada. Mente-se com aquele velho - ênfase no velho papo do “antigamente”.
Vocês manjam. “Antigamente, a praia era muito melhor... antigamente, a rua era
muito melhor... antigamente, as pessoas eram muito melhores...” E melhores eram
o sol, a lua e as estrelas. Esse papo é perigoso. Você vira fácil, fácil o
chato de galochas, o já-era, o não-está-com-nada. Tem que se tomar muito
cuidado. Há que se evitar de qualquer maneira a construção “Não se faz mais
isso ou aquilo outro como antigamente”. Não, não. A depreciação do novo e atual
há que ser feita com sutileza. Há que se encaixar, assim como quem não quer
nada, no meio do papo, coisas como “engraçado, a última vez que eu fui ao
Maracanã, o Jairzinho deu um banho de bola talvez até maior que o último banho
de bola do Ronaldinho”.
Ivan Lessa (1935-2012), jornalista brasileiro, um dos fundadores do semanário "O Pasquim", escritor, em Ivan vê o mundo – crônicas de Londres
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