“Mas
o que é capital? Em certa acepção, é riqueza acumulada. Porém, quando usado no
contexto do capitalismo histórico, o conceito tem uma definição mais específica.
Não é somente o estoque de bens consumíveis, de máquinas ou de demandas
reconhecidas (ou seja, que se expressam sob forma de dinheiro) de coisas
materiais. É claro que o capital continua a referir-se, no capitalismo histórico,
à acumulação dos resultados do trabalho passado, ainda não consumidos; mas se
isto fosse tudo, poder-se-ia dizer que todos os sistemas, desde o do homem de
Neanderthal, teriam sido capitalistas; todos possuíam, em algum grau, estoques
que materializavam o trabalho passado. Algo distingue o sistema social que
estamos chamando de capitalismo histórico: nele, o capital passou a ser usado (investido)
de maneira especial, tendo como objetivo, ou intenção primordial, a auto-expansão.
Nesse sistema, o que se acumulou no passado só é ‘capital’ na medida em que
seja usado para acumular mais da mesma coisa. Trata-se de um processo complexo,
até sinuoso, como veremos. Usamos a expressão ‘capitalistas’ para nomear essa
meta persistente e autocentrada do detentor de capital (a acumulação de mais
capital) e as relações que ele tem de estabelecer com outras pessoas para
alcançá-la. É claro que esse objetivo nunca foi exclusivo. Outras considerações
se intrometem no processo de produção. Contudo, a questão é identificar que
considerações tendem a prevalecer em caso de conflito. Onde a acumulação de
capital tenha tido prioridade sobre objetivos alternativos ao longo do tempo,
podemos dizer que estamos em presença de um sistema capitalista em operação.”
(Wallerstein, pág. 9).
Immanuel Wallerstein (1930-2019), sociólogo e historiador americano em Capitalismo histórico e civilização capitalista
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