Outras leituras

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024


 

“O populismo alético esconde-se por trás de uma variedade de outros populismos. Comumente, é mais conhecido como exclusivismo religioso e racista, dirigido contra aqueles que não acreditam e/ou aceitam a verdade professada por um determinado grupo religioso ou étnico. Aplicar o conhecimento científico e/ou o método científico em áreas de investigação inadequadas, conhecidas como cientificismo, pertencem à mesma família. O cientificismo não é tanto um convite a um debate frutífero sobre as verdades apresentadas pelos cientistas, mas sim uma tentativa de silenciar aqueles que ousam expressar suas dúvidas sobre elas. Assim, o cientificismo é o inimigo mais sério da ciência. Podemos, também, mencionar tipos filosóficos de populismo alético. Sua força populista vem da crença de que quem questiona a existência da verdade merece o nome de relativista ou mesmo de niilista. Em outras palavras, o populismo alético é, frequentemente, a justificativa para várias formas de populismo político que, em nome de sua própria visão absolutamente verdadeira do mundo, não hesita em recorrer à mentira ou à violência. O populismo alético funciona como uma mordaça ou como um freio de conversação.”

 

“As conclusões anteriores sugerem que, recorrer à filosofia em busca de uma solução para o problema da verdade na vida pública certamente será decepcionante. Isso ocorre porque a maioria das visões filosóficas sobre o assunto, as expectativas dirigidas aos filósofos a esse respeito e a motivação para buscar na filosofia uma solução do problema são, frequentemente, amparadas numa atitude que eu chamaria de ‘falácia cognitocrática’. A falácia é uma crença errônea de que o poder político pode ser legitimado apenas pelo conhecimento possuído pelos atores políticos. O erro envolvido é confundir o conhecimento, incluindo o conhecimento da política, com habilidade política ou perspicácia, e presumir que o verdadeiro conhecimento seja uma condição necessária e suficiente para uma ação política bem-sucedida. A falácia é, portanto, um erro categórico óbvio, mas, comumente cometido e que confunde ‘saber que’ com ‘saber como’. Semelhante a um eco distante da ideia platônica/baconiana de que conhecimento é poder, a falácia deriva de uma crença de que a verdade, como propriedade do conhecimento, seja uma entidade que subsista por si mesma, sendo uma pré-condição para uma ação política bem-sucedida. A falácia cognitocrática também ignora o fato de que as declarações políticas não são descritivas por natureza, mas, muitas vezes, têm um propósito performativo: elas não pretendem transmitir uma verdade, mas, na maioria das vezes, transformar as crenças de seus destinatários.”

 

Adam Chmielewski (1959-), filósofo polonês em Pós-verdade e suas implicações

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