“O
populismo alético esconde-se por trás de uma variedade de outros populismos. Comumente,
é mais conhecido como exclusivismo religioso e racista, dirigido contra aqueles
que não acreditam e/ou aceitam a verdade professada por um determinado grupo
religioso ou étnico. Aplicar o conhecimento científico e/ou o método científico
em áreas de investigação inadequadas, conhecidas como cientificismo, pertencem
à mesma família. O cientificismo não é tanto um convite a um debate frutífero
sobre as verdades apresentadas pelos cientistas, mas sim uma tentativa de
silenciar aqueles que ousam expressar suas dúvidas sobre elas. Assim, o
cientificismo é o inimigo mais sério da ciência. Podemos, também, mencionar
tipos filosóficos de populismo alético. Sua força populista vem da crença de
que quem questiona a existência da verdade merece o nome de relativista ou
mesmo de niilista. Em outras palavras, o populismo alético é, frequentemente, a
justificativa para várias formas de populismo político que, em nome de sua
própria visão absolutamente verdadeira do mundo, não hesita em recorrer à
mentira ou à violência. O populismo alético funciona como uma mordaça ou como
um freio de conversação.”
“As
conclusões anteriores sugerem que, recorrer à filosofia em busca de uma solução
para o problema da verdade na vida pública certamente será decepcionante. Isso
ocorre porque a maioria das visões filosóficas sobre o assunto, as expectativas
dirigidas aos filósofos a esse respeito e a motivação para buscar na filosofia
uma solução do problema são, frequentemente, amparadas numa atitude que eu
chamaria de ‘falácia cognitocrática’. A falácia é uma crença errônea de que o poder
político pode ser legitimado apenas pelo conhecimento possuído pelos atores
políticos. O erro envolvido é confundir o conhecimento, incluindo o
conhecimento da política, com habilidade política ou perspicácia, e presumir
que o verdadeiro conhecimento seja uma condição necessária e suficiente para
uma ação política bem-sucedida. A falácia é, portanto, um erro categórico óbvio,
mas, comumente cometido e que confunde ‘saber que’ com ‘saber como’. Semelhante
a um eco distante da ideia platônica/baconiana de que conhecimento é poder, a
falácia deriva de uma crença de que a verdade, como propriedade do conhecimento,
seja uma entidade que subsista por si mesma, sendo uma pré-condição para uma
ação política bem-sucedida. A falácia cognitocrática também ignora o fato de
que as declarações políticas não são descritivas por natureza, mas, muitas
vezes, têm um propósito performativo: elas não pretendem transmitir uma verdade,
mas, na maioria das vezes, transformar as crenças de seus destinatários.”
Adam Chmielewski (1959-), filósofo polonês em Pós-verdade e suas implicações
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