“A
ausência de capitais restringia muito as satisfações da vida coletiva: não
havia fontes, nem pontes, nem estradas; se por alguma circunstância favorável,
construía-se alguma, à falta de conservação estragava-se ou ficava de todo
arruinada. Como não havia dinheiro, os impostos eram levados à praça, e o contratador
pagava-se em gêneros. Só as casas de misericórdia eram até certo ponto devidas
à ação incorporada. As sedes das capitanias, mesmo as mais prósperas, reduziam–se
a meros lugarejos; a gente abastada possuía prédios nas vilas, mas só os
ocupava no tempo das festas; a população permanente constava de funcionários,
mecânicos, regulares ou gente de vida pouco edificante. Ajunte-se a isto a
natural desafeição pela terra, fácil de compreender se nos transportamos às
condições dos primeiros colonos, abafados pela mata virgem, picados por insetos,
envenenados por ofídios, expostos às feras, ameaçados pelos índios, indefesos
contra os piratas, que começaram a surgir apenas souberam de alguma coisa digna
de roubar. Mesmo se sobejassem meios, não havia pendor a meter mãos a obras destinadas
aos vindouros; tratava-se de ganhar fortuna o mais depressa possível para ir
desfrutá-la no além mar. Informa-nos Gandavo que os velhos acostumados ao país
não queriam sair mais. Seriam estes seus primeiros entusiastas.” (Abreu, pág.
85).
Capistrano de Abreu (1853-1927), historiador brasileiro em Capítulos da História Colonial 1500-1800
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