“Que
pensava Maimônides (filósofo medieval judeu) de Deus? Ele sabia que ‘alguns não
reconhecem a existência de um Ser Superior’ e, ao contrário, acreditavam que ‘o
estado atual de coisa resulta de uma combinação e separação acidentais dos
elementos, não tendo o Universo nem Rei nem Governador’. Essas pessoas, diz
ele, são ‘Epicuro com sua escola e filósofos similares’. Mas ele os descarta
logo, com um aceno de mão ‘Seria supérfluo repetir as teses deles, pois a
existência de Deus foi demonstrada’. Aristóteles estabeleceu-a, e já não há
necessidade de preocupar-se com isso: alguém ou alguma coisa ‘pensou’ o mundo,
dando-lhe o ser e o movimento. Para a história da dúvida, o ponto crucial aqui
é que Maimônides conhecia bem Epicuro, o ateísmo, outros questionadores e a
ideia de um mundo regido pelo acaso.
Maimônides
foi um mestre da incerteza. Advogava a concepção aristotélica da eternidade do
universo e ao mesmo tempo a criação bíblica ex
nihilo, e no fim optou por silenciar respeitosamente sobre o assunto. Onde
achou ele lugar para a criação bíblica? Aristóteles, explicava ele, baseou a
sua conclusão numa analogia entre o mundo que conhecemos e o vasto universo que
o tempo, o espaço e as nossas limitações conceituais nos deixam oculto. Não há
razão para esperar que ambos sejam tão parecidos a ponto de se identificarem.
Maimônides sustentava que Aristóteles estava apenas dando um palpite, coisa que
escapou a muita gente. Não é comum que as coisas surjam do nada, mas talvez
tenha sido o que aconteceu.”
Jennifer Michael Hecht (1965-), filósofa, historiadora, poeta e professora estadunidense em Dúvida, uma história – Os grandes questionadores e seu legado, de Sócrates e Jesus a Nietzsche e Einstein


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