“A
filosofia de Feuerbach é frequentemente descrita como ‘materialismo’, mas
difere um pouco do materialismo típico. Geralmente, o materialismo busca
apreender o mundo a partir de seus elementos materiais, em oposição à visão
idealista que baseia sua explicação no espírito e na ideia (Idee). Este é um ponto de vista, em
termos simples, que insiste na natureza primordial da matéria. Feuerbach, no
entanto, não se contentava com tal materialismo. Ele argumentava que uma
concepção de ‘matéria’ separada da realidade sensorial dos seres humanos seria
mera abstração. Sua própria perspectiva era uma filosofia sensorial, no centro
da qual estavam os seres humanos sensuais, com desejos concretos e amor pelos
outros. Nesse sentido, sua perspectiva era acima de tudo uma filosofia do
humanismo. A influência dessa filosofia sobre Marx pode ser vista em Uma Contribuição à Crítica da Filosofia do
Direito de Hegel, onde ele argumenta que a teoria do Estado de Hegel é o
mero produto da lógica abstrata que descartou os seres humanos reais. Os seres
humanos são menosprezados nessa teoria como um ‘fenômeno’ de lógica abstrata: ‘Família
e sociedade civil são as premissas do Estado; são os elementos genuinamente
ativos, mas na filosofia especulativa as coisas se invertem.’”
“Marx
argumenta que a religião é, na verdade, o reflexo do sofrimento das pessoas no
mundo real. As pessoas se apegam à fé religiosa e buscam uma felicidade
ilusória devido ao seu sofrimento no mundo real e à sua incapacidade de
garantir a felicidade real. É por isso que Marx descreve a religião como o ‘ópio
do povo’ que atenua a dor deste mundo. Assim, a emancipação da religião não
pode ser alcançada apenas por meio de uma crítica à religião; em vez disso, ela
ocorre por meio da realização de uma vida digna dos seres humanos neste mundo.”
“O
ponto mais alto alcançado pelo materialismo intuicional, isto é, o materialismo
que não compreende a sensualidade como atividade prática, é a intuição de
indivíduos individuais e da sociedade burguesa. Um exemplo disso é como algumas
pessoas, cativadas pelos conceitos iluministas, se contentam em denunciar a
pobreza e as diferenças de classe de um ponto de vista humanista, sem
questionar a sociedade burguesa que deu origem a esses fenômenos. É
precisamente por isso que a perspectiva de buscar esclarecer as pessoas com
base apenas na intuição, mesmo que materialista, não irá além da intuição da
sociedade burguesa ou da intuição de indivíduos isolados uns dos outros nessa
sociedade. O ponto de Marx não é apenas a inadequação de uma postura
iluminista, mas seu defeito fundamental e intrínseco de não questionar por que
e como a alienação surge.”
“Em
sua 11ª e última tese, Marx escreve: Os filósofos apenas interpretaram o mundo
de várias maneiras; a questão é transformá-lo. Esta tese extremamente conhecida
não pretende criticar simplistamente os esforços teóricos e exaltar a práxis.
Em vez disso, Marx busca compreender a importância da teoria para a mudança
social de uma maneira completamente diferente daquela dos Jovens Hegelianos.
Para Marx, o papel da teoria não é interpretar o mundo e descobrir alguma ‘ideia
correta’ (autoconsciência ou o homem sensual ou o ego) e, assim, esclarecer
aqueles presos em princípios incorretos. Em vez disso, a questão é analisar as
relações reais que dão origem aos costumes da sociedade e suas ideologias, e
esclarecer as condições que tornariam a mudança social possível.”
“Em
termos mais claros, o papel da teoria não é mostrar o que está errado e o que
está correto, mas esclarecer, da perspectiva das relações reais, como e por que
a alienação surgiu e, assim, sugerir onde e como uma luta pode ser travada para
mudar a sociedade. Não se deve ter fé cega na teoria. Não importa o quanto se
defenda uma teoria ‘correta’, ela por si só não mudará a sociedade. Seres
humanos reais são aqueles que realizam a mudança social, por isso é de
importância decisiva analisar as relações reais em que as pessoas vivem e
trabalham. Em vez de considerar qual é a ‘essência’ do mundo ou o que está
correto, devemos perguntar ‘por que’ e ‘como este mundo veio a existir em sua
forma real.”
Ryuji
Sasaki,
filósofo e professor da Universidade de Rykkio em A New Introduction to Marx – New Materialism, Critique of Political
Economy and the Concept of Metabilism (Uma nova introdução ao pensamento de Marx – novo
materialismo, crítica da política econômica e o conceito de metabolismo,
sem tradução)


0 comments:
Postar um comentário