“No contexto da rebelião da minha
geração, no espírito de contestação que a caracterizou, o questionamento de
nossa vida pessoal foi uma revolução muito importante, porque transferiu a
preocupação com o polo objetivo, com o mundo, que era uma preocupação política
típica, para a preocupação com o polo subjetivo, ou seja, com a consciência das
pessoas, com a cabeça das pessoas, com a sua mentalidade, seu espírito. O
propósito não era mais a organização da sociedade, como para o marxista que
visa a mudança da infraestrutura econômica, a contestação do polo objetivo. Com
a contracultura, a contestação passa para o polo subjetivo – e, contudo, as
consequências no polo objetivo são no mínimo radicais.
O problema fundamental é que se
descobre um determinado estágio de consciência, uma nova maneira não só de
pensar, mas, principalmente, de perceber a verdadeira origem de tudo o que há
de errado na sociedade. Este é um outro estágio na tradição de contestação,
pois nos diz que não é apenas a organização econômica e social mas a própria
concepção vigente de realidade que está errada. Não só o mundo está errado;
nossa maneira de vê-lo também. Achamos que o mundo é um objeto, um artefato –
como diz Alan Watts –, mas ele é uma experiência instantânea, fundada na
unidade de sujeito e objeto.” (Maciel, pág. 41).
Luis Carlos Maciel (1938-2017), escritor, jornalista, pensador e diretor teatral brasileiro em As Quatro Estações


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