Luis Carlos Maciel

terça-feira, 7 de outubro de 2025

“No contexto da rebelião da minha geração, no espírito de contestação que a caracterizou, o questionamento de nossa vida pessoal foi uma revolução muito importante, porque transferiu a preocupação com o polo objetivo, com o mundo, que era uma preocupação política típica, para a preocupação com o polo subjetivo, ou seja, com a consciência das pessoas, com a cabeça das pessoas, com a sua mentalidade, seu espírito. O propósito não era mais a organização da sociedade, como para o marxista que visa a mudança da infraestrutura econômica, a contestação do polo objetivo. Com a contracultura, a contestação passa para o polo subjetivo – e, contudo, as consequências no polo objetivo são no mínimo radicais.

O problema fundamental é que se descobre um determinado estágio de consciência, uma nova maneira não só de pensar, mas, principalmente, de perceber a verdadeira origem de tudo o que há de errado na sociedade. Este é um outro estágio na tradição de contestação, pois nos diz que não é apenas a organização econômica e social mas a própria concepção vigente de realidade que está errada. Não só o mundo está errado; nossa maneira de vê-lo também. Achamos que o mundo é um objeto, um artefato – como diz Alan Watts –, mas ele é uma experiência instantânea, fundada na unidade de sujeito e objeto.” (Maciel, pág. 41).

 

Luis Carlos Maciel (1938-2017), escritor, jornalista, pensador e diretor teatral brasileiro em As Quatro Estações

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