Por que há alguma coisa em vez de nada? Não sabemos. Não saberemos nunca. Mas também é verdade de um ponto de vista físico ou científico. Por que as leis da natureza são o que são? Também não sabemos. É possível que nunca saibamos (já que só seria possível explica-las por outras leis). Chamar este mistério de ‘Deus’ é uma solução barata, que não dissipa o mistério. Por que Deus e não nada? Por que estas leis e não outras? O silêncio, diante do silêncio do universo, me parece mais justo, mais fiel à evidência a ao mistério, talvez também – voltarei a isso no próximo capítulo – mais autenticamente espiritual.”
“‘A
verdade está no fundo do abismo’, dizia Demócrito, e o abismo não tem fundo. É
nosso lugar. É nossa sina. Não há nada de misterioso que a existência do mundo,
da natureza, do ser, e no entanto é aí dentro que estamos (pois é: no âmago do
ser, no âmago do mistério!). Mas isso é o que se chama imanência, ao passo que
Deus é dado como transcendente. O universo é um mistério suficiente. Para que
inventar outro?”
André
Comte-Sponville (1952-),
filósofo e escritor francês em O Espírito
do Ateísmo


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