"Claro que a noite de chuva, a pinga velha e o cheiroso e bom fuminho, tudo isso é sete de copas e espadilha, só. Zápete no pé, dono mesmo do truco, esse é o contador da história. " - Mário Palmério - Vila dos Confins
A crise da dívida pública americana, aliada à insolvência das economias periféricas da Europa, deverá dificultar mais ainda a recuperação da economia mundial. Os Estados Unidos, com crescimento econômico muito abaixo do esperando e gerando menos empregos, deverá amargar alguns anos de retração econômica. A consequência será a queda do consumo e a redução das importações - não esquecendo que a economia americana representa quase 30% de toda a economia mundial. No lado europeu, Irlanda, Grécia, Portugal e Espanha - apenas para ficar nos casos mais graves - estão enfrentando problemas com o pagamento da dívida pública, o desemprego e a queda da produção. No futuro desses países - e do resto da União Européia segundo muitos economistas - prevê-se um período de recessão econômica com alguns anos de duração. O Brasil, apesar da boa situação do mercado interno, da manutenção das exportações e da criação de postos de trabalho, também será afetado. É pouco provável que em um contexto mundial recessivo o Brasil, a Índia e a China escapem sem qualquer arranhão. Não é por acaso que o governo já está alerta e pretende criar alguns mecanismos econômicos e fiscais para amortecer a queda da atividade econômica. Toda crise, porém, também representa uma oportunidade - para repetir a velha expressão. Trata-se de uma chance ideal, pouco aproveitada pelas empresas na crise de 2008, de melhorar o uso de insumos, diminuindo os custos de produção e fornecendo produtos mais econômicos, adaptados ao período de crise. A utilização mais eficiente de matérias primas, água, energia e outros ingredientes do processo produtivo reduzem os custos por unidade de produto; diminui o uso de recursos naturais e o impacto do processo de produção sobre o meio ambiente. Redução de matérias primas representa, por exemplo, menos petróleo extraído, redução do consumo de água; menor área desflorestada para criação de gado, extração mineral ou produção de eletricidade.
A vantagem adicional destas medidas é que as empresas conseguem produzir a custos menores, tornando-se mais competitivas; fazem mais com menos. Exatamente aquilo que há décadas empresas inovadoras e preocupadas com o meio ambiente (e com o consumidor) vêm fazendo: o sistema Toyota de produção, os três Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), a Produção + Limpa, a Prevenção à Poluição, a Análise do Ciclo de Vida de Produto; são técnicas que visam reduzir o uso de matérias primas e insumos, mantendo um alto padrão de qualidade de produtos e serviços. Como sempre ocorre, existem empresas e organizações que premidas pela crise desenvolverão novas respostas, soluções inovadoras. Outras tentarão fazer as coisas da maneira como sempre fizeram, esperando sobreviver até que a crise passe. Como acontece na natureza, as empresas que desenvolvem capacidades de adaptação ao novo ambiente (criado pela situação econômica) terão mais chances de sobreviver do que as que esperam a situação voltar ao que era antes; o que é pouco provável que ocorra, já que a história é irreversível.
De certo modo, uma recessão pode ser comparada a um ataque cardíaco ao qual se sobreviveu: a recuperação implica mudança de dieta, redução de peso e novos hábitos. É isto o que as empresas também devem fazer daqui em diante, em relação ao uso de recursos naturais.
(imagens: René Magritte)
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