Monografia e Trabalho Científico - Análise comparativa

sábado, 22 de setembro de 2018
"Todas as tragédias que se possa imaginar reduzem-se a uma mesma e única tragédia: o transcorrer do tempo."   -   Simone Weil   -   Lições de Filosofia

(publicado originalmente no site Web Artigos)

Para começarmos nossa análise é preciso mencionar que tanto a monografia quanto o artigo científico são trabalhos monográficos, isto é, monografias; uma forma de apresentar uma pesquisa realizada cientificamente sobre um único tema específico. Inclui-se no âmbito do trabalho monográfico o TCC (trabalho de conclusão de curso) dos cursos de graduação; a monografia e o artigo técnico dos cursos de pós-graduação lato sensu; a dissertação das pós-graduações strictu sensu em mestrado; e a tese das pós-graduações strictu sensu em doutorado.    

Uma das principais diferenças apontadas entre a monografia e o trabalho científico é quanto à abrangência do tema. A principal característica do artigo científico, em comparação com a monografia, é a concisão, a forma sintética e objetiva de relatar sobre o tema escolhido. Não se trata, como muitos pensam, de uma forma mais simples ou superficial de abordar a matéria, ao contrário. O artigo científico deve explorar o assunto de uma forma clara, aprofundando os aspectos mais relevantes, proporcionando informação ampla e consistente sobre aquele limitado tema. 

O trabalho científico é focado na descrição e no estudo de um fato ou aspecto da realidade, sobre o qual faz um relato científico. Trata-se de um texto curto, que muitos autores definem como “um artigo científico”. Este trabalho geralmente não excede as 20 páginas, sendo usualmente publicado em revistas científicas. Trata-se, portanto, de um estudo elaborado de uma forma resumida, sobre algum tema científico. Costuma-se dividir os artigos científicos em três tipos:

a)    Os artigos de revisão bibliográfica, que se baseiam na análise de referências teóricas, na forma de fontes bibliográficas. Partindo de uma hipótese e fundamentando seus raciocínios em fontes bibliográficas, o artigo científico pode apontar ou elucidar novos aspectos de um determinado tema;
b)    Artigos originais, que além de se basearem em fontes teóricas (bibliografia) também se fundamentam em pesquisas práticas, realizadas pelo autor para a elaboração do artigo;
c)    Artigos de divulgação que comunicam a um determinado público algo que seja de interesse do autor do artigo.

A monografia é um trabalho de formato mais extenso do que o artigo científico, chegando a 60 páginas, consistindo em uma análise mais aprofundada sobre determinado assunto, sem, no entanto, deixar de ter um caráter científico. Quase sempre a monografia é elaborada com base em pesquisa bibliográfica; raramente em pesquisa original ou estudo experimental (pesquisa de campo). Em sua forma de apresentação, a monografia tem uma forma mais elaborada, apresentando elementos pré e pós textuais (tratados logo adiante neste texto), que não são usados na redação de um artigo científico.

Para Severino (2002, p. 129):


O termo monografia designa um tipo especial de trabalho científico. Considera-se monografia aquele trabalho que reduz sua abordagem a um único assunto, a um único problema, com um tratamento especificado.
Por isso, o uso deste termo para designar uma série de trabalhos escolares, ainda que resultantes de investigação científica testemunha a incorreta generalização do conceito.
Os trabalhos científicos são monográficos na medida em que satisfazerem à exigência da especificação, ou seja, na razão direta de um tratamento estruturado de um único tema, devidamente especificado e limitado.


Definição conceitual dos elementos da estrutura

Tanto a monografia quanto o trabalho científico – assim como todo texto argumentativo que se propõe a demonstrar algo – têm uma estrutura semelhante: introdução, desenvolvimento e conclusão. Esta estrutura racional de argumentação (cujas origens estão na lógica aristotélica e na geometria euclidiana, atualizadas pelo pensamento científico no século XVI-XVII) é basicamente o modus operandi da pesquisa científica. A partir do Renascimento muitas obras de filosofia, como, por exemplo, a Ética de Spinoza, também adotaram este formato.

A estrutura do trabalho monográfico segue de maneira semelhante o próprio desenrolar da pesquisa científica:
a) Em uma primeira fase, algum assunto chama a atenção do pesquisador (estudante ou cientista). Em seguida, o pesquisador começa a coletar dados (bibliografia) sobre o tema, para formar sua hipótese (esta, em um trabalho monográfico toma a forma da introdução ou justificativa);
b) Os dados coletados podem estar disponíveis em teorias científicas já provadas, em livros ou autores consagrados, que podem servir de base para elaborar novas hipóteses. Colhido o material (fontes bibliográficas, fatos pesquisados, etc.) este é usado para se tentar provar determinada hipótese (o desenvolvimento da monografia ou artigo científico);
c) A fase final é confrontar a hipótese com os dados empíricos ou outros dados bibliográficos, para então se formar uma teoria (conclusão) sobre o tema pesquisado.

Portanto, guardadas as proporções, uma monografia ou artigo técnico são “singelas tentativas” de se provar cientificamente – usando uma metodologia científica – algo sobre um assunto que interessa ao autor. Ou nesse tema chamar a atenção para aspectos, correlações ou possibilidades novas ou ainda pouco conhecidas.

O trabalho de expor estas “singelas tentativas” para o público tem que ser realizado de uma forma sistemática, seguindo uma metodologia clara e, também aqui, dentro de um raciocínio lógico. Ao longo dos anos, atendendo também a critérios de praticidade, criaram-se regras para expor estes trabalhos na forma de trabalhos monográficos, que devem ser elaborados com base em regras estabelecidas (no caso do Brasil) pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

No caso elementos pré-textuais, fala-se basicamente na forma gráfica de apresentação de uma monografia – no que se refere à parte que antecede o texto em si – de modo a facilitar sua avaliação, identificar o autor e o objetivo do trabalho e apresentar um resumo deste.

Já a introdução, a justificativa e os objetivos fazem parte do cerne do trabalho (os elementos textuais), com os quais se pretende: a) situar a proposta do texto, o “contexto do texto” (introdução); b) fundamentar a importância do tema escolhido (justificativa); e c) estabelecer aquilo que se quer demonstrar ou apontar com a pesquisa.

A revisão da literatura é a escolha do material bibliográfico para elaborar a argumentação da pesquisa. Tratam-se das informações bibliográficas disponíveis, sobre as quais se fundamentará o desenvolvimento do texto. Quanto mais ampla e específica, tanto melhor poderá ser a argumentação.

O cronograma de uma monografia ou artigo técnico refere-se ao prazo estabelecido para: a) Elaborar a hipótese e fazer uma primeira avaliação da bibliografia disponível;
b) Aprofundar a pesquisa bibliográfica (revisão da literatura);
c) Elaborar o texto;
d) Revisar o texto;
e) Preparar a redação final do trabalho, de acordo com as normas ABNT.

Quanto às referências, estas são inicialmente poucas. Em uma primeira fase de preparação de um trabalho científico, o autor tem apenas “uma ideia na cabeça e alguns poucos livros na mão”. No desenrolar da pesquisa (revisão da literatura) a lista de referências necessariamente vai crescendo. Ao longo da fase de elaboração do trabalho, principalmente na fase do desenvolvimento, a lista aumenta mais ainda. É elaborando a conclusão que o autor – às vezes vendo necessidade de fundamentar melhor um objetivo a ser provado – ainda incorpora outras fontes bibliográficas, fechando assim a lista de referências.  
 

Fontes consultadas:

DOS SANTOS, LUIS Fernando Amaral. Apostila Metodologia da Pesquisa Científica II. Faculdade Metodista de Itapeva, 2006. Disponível em <www.metodista.br/.../apostila_metologia_ii.doc>. Acesso em 18/03/2013.  
METRING, Roberte. Artigo ou monografia: qual a diferença? Site Roberte Metring. Disponível em: <http://blog.psicologoroberte.com.br/2009/07/artigo-ou-monografia-qual-diferenca.html>. Acesso em 18/03/2013. 
MORAIS, Vanessa. Artigo Científico. Site Recanto das Letras. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2077786>. Acesso em 18/03/2013.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 22 ed. São Paulo: Cortez Editora, 2002.
WIKIPEDIA. Monografia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Monografia>. Acesso em 18/03/2013.
(Imagens: pinturas de Mikhail Anikeev) 

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