Notas rápidas (homenagem a G. C. LIchtenberg)

quarta-feira, 19 de setembro de 2018


Substrato étnico e cultural 



Os americanos, por exemplo, guardam algumas características peculiares. À medida que o país crescia, tornando-se a “terra das oportunidades” onde qualquer um poderia prosperar, formou-se o mito da nação empreendedora, que não recua perante os desafios. A participação americana nas duas Grandes Guerras, aliada ao seu pujante capitalismo e à imagem construída pelos filmes de Hollywood, ajudou a consolidar perante o mundo esta representação do modo de ser estadunidense. Objetividade e uma certa agressividade, são comuns na linguagem diária e nos filmes americanos.

Outros povos, como os ingleses, já guardam outras singularidades. O domínio de grande parte do mundo através da administração de um vasto império, contribuiu para a formação de uma mentalidade prática, voltada a situações objetivas, pouco preocupada com abstrações de qualquer tipo – seja na cultura ou política. Uma das razões de a Inglaterra ser o berço de filosofias como o empirismo e o utilitarismo e lugar de início do capitalismo industrial. Até por isso, a linguagem britânica pode fazer uso de expressões bastante irônicas, seja em seu sentido denotativo ou conotativo.

Assim outras culturas têm as suas próprias idiossincrasias. Franceses, alemães, japoneses... Todas as sociedades têm suas maneiras de se inserirem no mundo e se organizarem de modo a poderem sobreviver, guardando certas particularidades. Estas alteram-se ao longo da história de cada povo, mas conservam certos atributos que permanecem como traços característicos de determinada cultura ou nacionalidade.

A sociedade brasileira, como outra qualquer, também guarda as suas peculiaridades. Mesmo sendo uma cultura relativamente jovem, em cuja base de formação estão influências culturais heterogêneas, como a cultura portuguesa – que por si só já é uma amálgama de culturas que se sucederam na história da península ibérica. Além disso, temos influências das diversas culturas indígenas (falava-se cerca de 500 línguas diferentes quando o Brasil foi descoberto) e os diversos povos africanos que para cá foram trazidos. 

Basta lembrar que a África congrega diversas etnias e culturas, tão diferentes em costumes, línguas e tradições históricas como os países da Europa, por exemplo. A isto acrescente-se a contribuições dos imigrantes – alemães, russos, sírio-libaneses, árabes, japoneses, coreanos, chineses, poloneses, entre outros, que para cá vieram entre o século XIX e século XX.

Será possível que a miscigenação destas culturas e etnias, religiões e visões de mundo, possa, ao longo da história, formar uma ou várias novas culturas? Este é o argumento de vários sociólogos e antropólogos, como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro. No entanto, é preciso considerar o quanto de cada cultura original, daquilo que cada povo trouxe como contribuição ao se estabelecer aqui no Brasil, foi perdido no processo de aculturação. 

Além disso é preciso levar em conta os aspectos de desestruturação de grupos sociais através de processos de extermínio, migração interna, separação dos indivíduos de seus grupos sociais, etc. Considerar o quanto a sobreposição de culturas – por exemplo a conversão a uma nova religião – pode fazer com que práticas culturais sejam esquecidas.
Quais são, ao final, os fatores que fazem com que certos traços culturais sejam mantidos em cada cultura ou etnia, enquanto que outros desaparecem, junto com os mais velhos ou com as organizações comunitárias iniciais?

(Imagem: gravura representando G. C. Lichtenberg) 




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