"Os seres humanos têm maior probabilidade de encontrar maneiras de viver bem se não passarem a vida querendo ser felizes." - John Gray - O silêncio dos animais
“Vivemos
em tempos interessantes!” A afirmação tem se tonado comum nas últimas décadas,
em todo o mundo. A alteração da rotina diária, seja por alguma mudança na
política, economia ou tecnologia, logo é classificada como sendo tempos
interessantes. Alguns, como o escritor norueguês Karl Knausgärd, durante a FIip
(Festa Literária Internacional de Paraty) de 2016, chegou a dizer que “vivemos
tempos interessantes e preocupantes”, referindo-se ao aumento do populismo na
política dos Estados Unidos e da Europa.
Quando
jornalistas, historiadores e filósofos dizem que vivemos em tempos
interessantes, querem geralmente dizer que está ocorrendo algo de extraordinário,
que aparentemente faz com que a atual fase da história seja diferente das
anteriores. Por trás deste raciocínio também pode estar a ideia de que o ciclo
presente, por ser distinto de outros passados, poderá inaugurar uma nova fase
na história humana, com outras características.
Nada
é estático, tudo está em constante mudança, já dizia o velho Heráclito – mais ainda
a história humana. Convulsões sociais, guerras, crises econômicas, políticas e
culturais, ocasionam mudanças na maneira como sociedades e civilizações atuam,
funcionam. Um fator climático, como uma seca prolongada, pode comprometer a
produção de alimentos de uma sociedade. A carestia consequente, acompanhada por
saques e revoltas, levaria à guerra civil, precipitando o colapso da economia e
da ordem política, o que também alteraria diversos aspectos culturais da
sociedade. Este esquema de sucessão de acontecimentos pôde ser observado em
sociedades de todos os tempos; egípcios, babilônios, gregos, romanos, árabes e
nas nações modernas.
Diversos
fatores, nos mostra o estudo da história, podem provocar mudanças no status quo das sociedades. A introdução
de novas tecnologias – o cavalo na Antiguidade, a adaptação da vela latina às
caravelas, o uso da força motriz do vapor na indústria e no transporte, o uso
bélico e pacífico da energia nuclear – podem tanto ser consequências como causas
de acontecimentos históricos. Em sendo a história um processo dialético
complexo, no qual acontecimentos, fatores ou condições influenciam outros –
paralelos ou sequentes – dependerá do foco de estudo do especialista estabelecer
o que será considerado origem ou decorrência de um fato.
A
introdução de máquinas a vapor, por exemplo, é o princípio de uma longa série
de posteriores descobertas e invenções no sistema de produção capitalista. Por
outro lado, a possibilidade da aplicação do vapor à geração de trabalho, é decorrência
de diversos experimentos científicos e desenvolvimentos tecnológicos, ocorridos
anteriormente, no século XVII e início do XVIII. O uso bélico da energia
nuclear – inaugurado com o bombardeio das cidades japonesas de Hiroshima e
Nagasaki ao final da Segunda Grande Guerra – teve origem nas pesquisas
científicas independentes de Rutherford, Fermi e Hahn, nas primeiras décadas do
século XX, e da criação do projeto Manhattan em 1942. No entanto, uma das
principais decorrências do uso da energia atômica para fins militares, foi o acontecimento
da Guerra Fria, período de disputas político-militares estratégicas e conflitos
indiretos, entre as duas principais potências nucleares em toda a segunda
metade do século XX, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e os
Estados Unidos da América.
Sendo
um processo dialético complexo, a história não funciona somente em um esquema
linear, do tipo causa e efeito. Há acontecimentos ao longo do processo
histórico, mais tarde destacados como “fatos históricos”, cujas aparentes
causas ou origens são difíceis de determinar e, muitas vezes, comprovadamente
aleatórios. Um desses fatos históricos é descrito pelo filósofo inglês John
Gray em sua obra O silêncio dos animais.
Trata-se do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, presumido herdeiro
do Império Austro-Húngaro. O crime, sabemos, foi o fato indutor do início da
Primeira Grande Guerra. Escreve Gray:
“O fato desencadeador da
catástrofe foi um assassinato que podia perfeitamente não ter acontecido. O
nacionalista sérvio Gavrilo Princip, que matou a tiros Francisco Ferdinando em
Sarajevo no dia 28 de junho de 1914, fazia parte de uma gangue que tentara
mandar o arquiduque pelos ares pouco depois das dez horas naquela manhã. A
tentativa fracassou, Francisco Ferdinando a descartou com uma risada e o
comboio seguiu na direção do compromisso oficial. Encerrado o evento, ele
voltou ao carro, que partiu com os outros do comboio. Mas o motorista errou o
caminho, o carro ficou retido e Princip, que após o fracasso do atentado a
bomba tinha ido a uma delicatessen próxima, conseguiu atirar no arquiduque a
curta distância. Se o motorista não tivesse feito o desvio, se o automóvel não
tivesse ficado retido ou se Princip não tivesse ido à delicatessen, o
assassinato não teria ocorrido. Uma vez ocorrido, tudo se seguiu.” (Gray, pag
31)
Se
tão pueris e contingentes acontecimentos podem levar à eclosão de uma guerra
mundial – a qual foi a causadora de tantos fatos na história sequente –
imagine-se as consequências do aparecimento da pandemia do coronavírus. Um
evento raro, inesperado, de grandes proporções e do qual só conheceremos todas
as consequências depois que tiver passado – um “cisne negro” diria
provavelmente o cientista Nassim Taleb, autor da ideia em A lógica do cisne negro (The
black swan, 2007).
O
objetivo principal deste texto é discutir o surgimento da epidemia do vírus
corona, batizado de Covid-19 e apresentar algumas ideias sobre as principais
consequências históricas desta epidemia. Sigo as análises e depoimentos de especialistas
que se manifestaram sobre o tema nas últimas semanas. Neste ensaio tentaremos mostrar
que vivemos – agora sem dúvida alguma – tempos interessantes. O aparecimento da
pandemia provocará mudanças em toda a nossa civilização mundial. Suspeito que
os dias atuais ficarão definitivamente na memória de toda a humanidade e mais
tarde na história.
O
vírus Covid 19, causador da síndrome respiratória aguda grave (SARS-Cov-2), surgiu na China, na
cidade de Wuhan, capital da província de Hubei. A moléstia se manifestou provavelmente
entre os meses de novembro ou dezembro de 2019. Existem, no entanto, relatos não
confirmados de que casos de contaminação com o mesmo vírus foram identificados em
outras regiões da China em meses anteriores.
É
certo que o vírus tem origem zoonótica, apesar de alguns rumores de que a cepa
deste coronavírus tenha sido criada em laboratórios; nos Estados Unidos, na
China ou em Israel – três versões ao gosto do freguês. Em situações como esta é
comum surgirem as teorias da conspiração e, mais recentemente, as fake news, claramente com objetivos
políticos.
De
início, o governo chinês tentou esconder o fato. Foi um oftalmologista de
Wuhan, Li Wenliang, quem em dezembro de 2019 chamou a atenção do público para
uma estranha epidemia de pneumonia, que estava afetando várias pessoas da
cidade. Wenliang colocou a informação nas redes sociais e foi censurado pelas
autoridades. Semanas depois, a doença já tinha se alastrado e o governo decidiu
intervir. As autoridades sanitárias da China colocaram sob quarentena a região
de Wuhan e dezenas de milhões de pessoas de outras regiões. A reclusão, os
testes para identificar os contaminados e o isolamento total de certas áreas,
fizeram com que o avanço da doença fosse lentamente contido, ao longo de pouco
mais de três meses. Li Wenliang, agora um herói mundial, transformou-se também em
vítima da doença, falecendo em 7 de fevereiro de 2020.
Da
China o vírus se transmitiu rapidamente para outros países asiáticos e para a
Europa, onde por falhas nos sistemas de prevenção de epidemias dos diversos
países, a moléstia se alastrou. A Itália foi até agora o país mais afetado pela
doença, seguida pela Espanha e a França. Nos Estados Unidos, o avanço do
coronavírus foi tratado inicialmente com desdém pelo presidente Donald Trump.
Nos últimos dias, Trump e quase todos os líderes mundiais reconheceram a
seriedade da situação.
Desde
seu início, até a data e hora em que escrevemos este artigo, 31 de março de
2020, o Covid-19 já contaminou 756.376 pessoas, das quais 36.081 faleceram. Os
países que apresentam maior número de infectados, são:
País Número
de casos Número
de mortes
Estados
Unidos 161.807
2.978
Itália 101.739 11.591
Espanha 87.956 7.716
China 82.198 3.308
Alemanha 66.885 645
França 45.077 3.964
O
Brasil registra até este momento 4.579 casos constatados e 159 mortes. As
previsões dos especialistas são de que estes números deverão continuar
crescendo exponencialmente, pelo menos nos próximos 30 dias.
Em
11 de março de 2020 a epidemia do coronavírus foi declarada pandemia, já que a doença
estava presente em vários continentes e apresentava transmissão sustentada
entre as pessoas. Antes desta data muitos países já haviam implantado medidas
de restrição na circulação de pessoas; providência que se difundiu desde então
por todo o planeta, com poucas exceções.
No
Brasil, grande parte da população está seguindo as instruções do Ministério da
Saúde e permanecendo em casa. Transporte, comércio e demais serviços funcionam
com restrições. O objetivo é que apenas os serviços essenciais permaneçam em
operação, evitando a circulação de pessoas. O governo e o Congresso aprovaram
medidas de exceção, de modo a fazer com que os trabalhadores, inclusive os
informais, recebam recursos financeiros para se manterem em casa sem precisarem
trabalhar.
As consequências
da pandemia serão muito grandes, com influência em grande parte das atividades
humanas. Os dias, semanas e meses pelos quais o mundo está passando, serão
lembrados pela atual geração por muitos anos. Tanto pelas perdas de vidas,
quanto pelo impacto que o Covid-19 terá na organização política, econômica,
social e cultural de todo o mundo nos próximos anos. Analistas políticos,
historiadores, sociólogos e economistas, entre outros, falam em uma grande
mudança. O mundo não será mais o mesmo.
Na sequência
do texto, tentaremos condensar as principais informações, opiniões e
comentários, feitos por diversos especialistas, sobre o rumo que a civilização
mundial deverá tomar nos próximos anos. Na situação atual, sabemos que se trata
de opiniões e palpites, que se confirmarão ou não. Mais importante é perceber
que um período da história humana está no fim e outro tem início. Muito mais do
que o ataque às torres gêmeas de Nova York, em 2001, ou a crise financeira
mundial em 2008, a pandemia do corona vírus provocará profundas mudanças nas
relações políticas e econômicas.
Nos
últimos anos, a China e os Estados Unidos vinham travando uma batalha pelo
domínio da economia mundial. A China, já há alguns anos, estabeleceu metas para
expandir sua influência econômica no mundo, através do que se convencionou
chamar de “a rota da seda”. Os Estados Unidos, principalmente depois da
eleições de 2016 que elegeram o presidente Donald Trump, e tendo como lema de
campanha “fazer a América grande novamente” (make America great again), decidiram fazer frente às iniciativas
chinesas. Dado o novo contexto da economia mundial, o quadro de confronto econômico
entre os dois países, segundo os especialistas, deverá se acirrar. A economia
americana, endividada pela crise econômica que será provocada pela pandemia,
levará alguns anos para se recuperar. Com isso, a China terá uma vantagem em
seus planos de ampliação da área de influência de sua economia.
Outra
consequência, segundo os analistas, será o fortalecimento de um bloco político-econômico
liderado pela China e outros países asiáticos (Japão, Coréia, Taiwan),
incluindo ainda a Indonésia, Oceania e a Índia. Seguindo esta linha de
pensamento, nas próximas décadas o centro de decisões do planeta deverá se
deslocar para a Ásia – situação que já havia sido apontada por alguns analistas
antes da crise, e que poderá se acelerar cada vez mais a partir de agora. A
Rússia e a Europa, já pelas relações que ambos têm com a China, fortalecidas
através de uma série de acordos de cooperação comercial assinados recentemente,
deverão aproximar-se deste bloco asiático, afastando-se da influência
estratégica dos EUA – com os quais os europeus já vinham tendo atritos
constantes, no governo Trump. Parece haver um certo consenso entre os que
acompanham o assunto, de que o resultado desta nova disposição de blocos e
forças ao longo dos próximos anos, será o gradual afastamento dos Estados
Unidos do holofote dos acontecimentos mundiais. Os americanos ficarão numa
posição de relativo isolamento, se aproximando mais de seus aliados na América
Latina. Um fator decisivo em toda esta situação é o quão rápido a economia
americana se recuperará. Quanto mais tempo demorar, mais a posição da China se
fortalecerá.
Analistas
também apontam o aumento dos governos de democracias “iliberais”, aqueles que aparentemente
são democráticos, mas não têm liberdades civis plenas. Governos da Hungria,
Rússia e Turquia recentemente já implantaram medidas que, cada um à sua
maneira, darão mais poder aos seus líderes e restringirão a democracia. A crise
econômica poderá fazer com que mais nações se sintam atraídas por tal tipo de
solução, principalmente em uma economia mundial que se tornará mais fechada,
menos globalizada, forçando os estados a terem uma interferência mais forte em
suas economias domésticas. Assim, segundo alguns, ocorrerá em paralelo: a) uma
redução da globalização, levando as nações a certo isolamento; b) um
fortalecimento do poder do Estado (nacionalismo); e c) um refluxo do
liberalismo econômico.
Os
Estados estão oferecendo um forte apoio financeiro às suas empresas e
populações, a fim de garantir sua sobrevivência. Em alguns países, como os
Estados Unidos e o Brasil, grandes segmentos da população estão recebendo pela
primeira vez o equivalente a uma renda mínima; o mínimo necessário para que o
cidadão possa sobreviver durante o mês, sem passar fome. Como reagirão as
populações destes países – e de outros que também implantarem medidas parecidas
– quando a situação econômica se tornar razoavelmente normal? Voltarão estas
populações a aceitar sua situação anterior de privação e, em casos extremos, de
fome? Exigirão nessa nova situação uma renda mínima básica, suficiente para
prover suas necessidades básicas, com propugnado por partidos políticos?
Espera-se
também uma mudança na esfera do trabalho. Segundo especialistas, haverá uma
tendência cada vez maior em se trabalhar de maneira virtual, o home working. Premidos por custos
diversos na fase de recuperação financeira, muitas empresas optarão por manter parte
de seus funcionários trabalhando de casa, como já em parte vêm fazendo neste
período de quarentena.
A
mesma tendência poderá ser acompanhada por parte das escolas – pelo
menos as de nível secundário e superior – que também já estão utilizando o
ensino à distância, sobretudo desde o aparecimento da pandemia com as medidas
de isolamento. A tendência de uma utilização acelerada das tecnologias digitais
também incentivará a expansão do uso da inteligência artificial (AI), seja no
segmento de prestação de serviços (bancos, compras online, companhias aéreas,
serviços médicos), quanto na área de segurança. Paralelamente a isso, ocorrerá
um grande aumento do comércio eletrônico e crescerá o número de pequenas
start-ups de tecnologia, em todo o planeta.
A
grande importância que a medicina está tendo no enfrentamento do coronavírus,
levará à maior valorização do setor. Profissionais ligados à área médica serão
mais reconhecidos pela população e, principalmente, pelo Estado. A pesquisa
médica, a capacitação de profissionais e a infraestrutura receberão maior apoio
financeiro, já que com esta crise o mundo compreendeu que outras pandemias
parecidas poderão afetar as sociedades nas próximas décadas.
As
mudanças climáticas e questão ambiental serão temas prioritários. A pandemia do
coronavírus, para muitos cientistas, representa mais um aspecto da desastrada
interação entre a chamada civilização e o meio ambiente. Epidemias de febre
amarela, dengue, ebola, malária, meningite, entre outras, são resultado da destruição
de habitats naturais pela atividade econômica e movimentação de populações. Há
que se estudar também novos modelos de aglomerações urbanas, já que a
disposição urbana atual, principalmente nos países onde grandes parcelas da
população vivem em condições desfavoráveis, é propícia à disseminação de
doenças transmissíveis.
É
consenso na maior parte dos especialistas que o sistema econômico mundial não
operará mais da mesma maneira. O capitalismo em sua atual fase financeira teve início nos anos 1980. Nos anos 1990 sofreu forte aceleração com a queda dos
regimes socialistas – o fim da Guerra Fria – e a introdução das tecnologias
digitais. Em 2008 ocorreu a crise do subprime,
os “títulos podres” dos Estados Unidos, que acabou afetando toda a economia
mundial. Apesar de o sistema financeiro mundial ter passado por um processo de
recuperação, muitos economistas de renome vinham apontando indícios que
prenunciavam uma nova crise. Em início de 2019 o ex-economista-chefe do Fundo
Monetário Internacional (FMI) e ex-diretor do Banco Central da Índia, Raghuram
Rajan, declarava que “o capitalismo parou de prover as massas, e quando isso
acontece, as massas se rebelam contra o capitalismo”. Nouriel Roubini, o
economista que previu a crise dos Estados Unidos em 2008, anunciou recentemente
um desastre econômico global, por força da crise do coronavírus. Agora, os
fatos se precipitam e, como dizem alguns, temos uma crise financeira equivalente
à de 1929, somada à da pandemia da Gripe Espanhola de 1918.
A
hiperglobalização da economia deve recuar junto com uma queda brutal do PIB
individual das nações, já que, como dissemos anteriormente, haverá uma
tendência de que as economias se tornem mais fechadas ao comércio
internacional.
A
interrupção da cadeia de fornecimento ocorrida com a suspensão das atividades
industriais em parte da China provocou um grande choque na estrutura industrial
mundial. Assim, poderá ocorrer que produtos e insumos sejam produzidos em
localidades não muito distantes das unidades consumidoras, evitando deslocamento de
mercadorias destinadas à produção por metade do planeta. Assim, muda a situação
na qual a China e países asiáticos são fornecedores de mais de 70% dos produtos
e insumos utilizados pelas indústrias em todo o mundo. Global sourcing e
just-in-time talvez se tornem apenas conceitos de um capitalismo do
passado.
Alguns
especialistas se perguntam se todas estas mudanças na política, na economia e
na tecnologia poderão também trazer mudanças aos hábitos e costumes das
populações. A impossibilidade de consumo desenfreado durante o período de
isolamento, principalmente nos países ricos, poderá fazer com que as pessoas
comecem a encarar seus hábitos de consumo de maneira mais razoável? As
dificuldades momentâneas pelas quais passarão milhões de indivíduos, mudarão a
maneira como veem as necessidades constantes de seus concidadãos, fazendo com
que exijam de seus governos a implantação de leis mais equânimes e investimentos
em estruturas de proteção social? As horas passadas no silêncio, com pouco ou
nenhum contato humano durante o período de isolamento, levarão as pessoas a
serem mais voltadas para si mesmas, mais meditativas, ocupando suas mentes com
assuntos mais filosóficos, existenciais?
E,
por fim, a pergunta que muitos se fazem em seu íntimo: seria a crise também a
oportunidade para que a humanidade enverede por um novo caminho? Um itinerário
no qual as sociedades seriam mais justas, mais livres, educadas e cultas? Onde
a convivência com a natureza seria menos destrutiva e a vida mais saudável? Onde
as pessoas não precisariam mais se preocupar com sua subsistência, já que
qualquer trabalho seria justamente remunerado?
Não
sabemos como a humanidade sairá desta pandemia. Antevemos uma imensa crise
econômica, social e cultural, com todas as suas consequências sobre pessoas e
nações. Esperemos, no entanto, que todos nós passemos por esta tempestade o
mais rápido possível, e que cheguemos ao final dela prontos para o novo mundo
que surgirá.
(Imagens: pinturas de Vincent van Gogh)
0 comments:
Postar um comentário