"Por mais que nelas se façam pregações, as igreja continuam precisando de para-raios."
(G. C. Lichtenberg)
Narrativas
políticas na era da pós-verdade
A
batalha pela hegemonia do discurso político é constante. Todas as tendências
procuram atrair a atenção do eleitor, cada uma com seu discurso. Em tempos de
pós-verdade, o que vale não é fundamentar a narrativa em fatos e argumentos
lógicos; procura-se ganhar a atenção e a concordância do receptor da mensagem
apelando para sentimentos e crenças.
Constroem-se
convicções através da repetição, sob diversas formas, da mesma mensagem, do
mesmo conteúdo ideológico. Para provar uma tese que normalmente seria pouco
aceitável, como por exemplo a intervenção militar no governo, apresentam-se
informações sobre a “corrupção generalizada na política”. Este tipo de argumento
apela diretamente ao sentimento de parte da população, que nos últimos anos foi
soterrada por reportagens e dados sobre a corrupção no país, em suas diversas
facetas.
Não
que ela não tivesse existido ou não exista mais, mas é bastante provável que
tenha diminuído. Além disso, a corrupção existe em todas as atividades humanas;
na política como nos negócios, na religião como no futebol, nos esportes
olímpicos como nas relações entre os países, na medicina como na polícia... Seria
impossível intervir igualmente em todas estas áreas da atividade humana.
É difícil
encontrar qualquer iniciativa onde, de uma forma ou de outra, não exista alguém
tentando obter algum tipo de vantagem. Não só por ganância, o apego doentio ao ganho,
mas também por sentimentos de inferioridade, vingança ou vontade de dominar sobre
outras pessoas. Há situações, nas quais indivíduos ou grupos se envolvem em
práticas ilícitas, convencidos de que esta atividade trará posterior benefício
a muitos. Enfim, as possibilidades de atos humanos possíveis, abarcados na
classificação de “corrupção”, são inúmeras. Não se trata somente de surrupiar recursos
do Estado.
Assim,
sob o argumento de que o país “não consegue se livrar dos políticos corruptos”,
tese esta muitas vezes avalizada por depoimentos de supostos militares e magistrados,
é defendida a ideia da “intervenção militar”. Detalhe: não se trata de um golpe
político, segundo seus defensores. Planeja-se “apenas” a destituição de todos
os políticos e a convocação de novas eleições no período de três meses (pergunto
se a cassação de políticos incluiria também o poder Executivo ou se limitaria ao
Legislativo?).
A aceitação
desta narrativa, felizmente, está limitada a pequenos grupos, geralmente com
pouco ou nenhum conhecimento da política. Trata-se, em muitos casos, de uma
estratégia de grupos radicais, de modo a manter sua militância estimulada e
marcar presença perante outras facções.
(Imagem: G. C. Lichtenberg)
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