"Onde antes estavam as fronteiras da ciência, agora está o centro."
(G. C. Lichtenberg)
Tese da privatização perde força
A
crise econômica gerada pelo coronavírus já fez as suas primeiras vítimas. Além
das dezenas de milhares de trabalhadores demitidos e dos que tiveram salários
reduzidos, já são milhares as pequenas e médias empresas em situação de
insolvência. As circunstâncias só não são mais caóticas, porque o Estado aportou recursos
financeiros para garantir a sobrevivência mínima de trabalhadores e
empresários.
Vários
setores da economia estão passando por dificuldades financeiras e reclamam por
ajuda do governo. No setor de saneamento em todo o pais, por exemplo, a
inadimplência dos clientes já chega aos 25% em média. Outros segmentos, como o
bancário e o de energia elétrica, começam a se manifestar, também solicitando
ajuda. Novamente, vemos o setor privado bater às portas do governo, aguardando apoio
financeiro. Repete-se o que sempre ocorreu todas as vezes em que crises afetam a economia.
No
entanto, o discurso neoliberal que caracteriza a ideologia do atual governo e
Congresso, sempre foi o do “estado mínimo”, da pouca ou nenhuma intervenção do Estado
na economia. Ainda recentemente, o Congresso aprovou legislação que permite a
privatização no setor de saneamento.
Na
Europa o processo foi diferente. Áreas da infraestrutura, como tratamento de
água e esgoto na Inglaterra e Alemanha, haviam sido transferidos para o setor
privado, mas foram reincorporados ao setor público.
Como
faríamos no Brasil, se não tivéssemos o Sistema Único de Saúde (SUS) e se
gradualmente a estrutura tivesse sido transferida ao setor privado, como
planejava o atual governo? No caso da saúde temos dois exemplos extremos: a
Alemanha e os Estados Unidos. Na Alemanha, onde o sistema de saúde é público, a
pandemia do coronavírus está sendo enfrentada com bastante êxito, com 4.586
mortes até o dia 19/04/2020. Nos Estados Unidos, que não possuem um sistema de
saúde público, as mortes chegaram a 165.636, até a mesma data. Evidentemente
existem outros fatores em jogo neste quadro, mas a existência de um sistema de
saúde operado pelo Estado tem sido estratégico no caso da pandemia.
Tudo
indica que a pandemia do coronavírus forçará estados, eleitores, políticos e
especialistas a rediscutir a questão da privatização de diversos serviços –
principalmente a infraestrutura. É bem provável, que por um longo tempo, as
teses neoliberais percam o apoio que vinham tendo.
(Imagem: G. C. Lichtenberg)
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