“Consumir
é muito mais que a simples aquisição
pela qual o homem pretende inscrever-se no eterno, e por essa via, aliena-se
eventualmente aos elementos de seu cenário, como fazia o Pai Goriot com suas
propriedades: consumir significa antes exercer
uma função que faz desfilar pela vida cotidiana um fluxo acelerado de
objetos entre a fábrica e a lata de lixo, o berço e o túmulo, numa condenação
necessária ao transitório, ao provisório. Ao contrário do século XIX, o objeto
é perpetuamente provisório, torna-se
produto, é a nova modalidade Kitsch. Constrói-se aqui um novo tipo de
alienação do homem em relação a seu ambiente. Este é o quadro em que se situa o
Kitsch cujos exemplos levarão a perceber suas formas e conteúdos.
Isto
nos leva a distinguir dois grandes períodos no Kitsch: o primeiro está ligado à
ascensão da sociedade segura de si mesma, capaz de impor suas colherinhas de
café e suas pinças de açúcar nos desertos do México e nas estepes da Ásia
central, sociedade simbolizada pelo grande centro comercial, ligada à
manufatura, e construtora de uma arte de
viver com a qual vivemos ainda hoje.
O
outro período, aquele que se desenvolve diante de nós, é o Neokitsch do
consumível, do objeto como produto, da densidade de elementos transitórios,
simbolizada pela emergência do supermercado e do Prisunic (Preço Fixo, comparável às Lojas Americanas), que tomou
conta da nossa vida (40% do comércio a varejo) e que modifica a arte de viver
criando uma ‘Arte’ apenas.” (Moles, pág. 24 e 25).
Abraham Moles, O Kitsch
0 comments:
Postar um comentário