“Numa
colônia onde, após três séculos de ocupação, por proibição da Coroa, não havia
uma única universidade ou uma tipografia, era realmente fora de propósito
querer investir no futuro. A Coroa só conseguia pensar em uma providência:
arrochar ainda mais os colonos para que eles, talvez de forma mágica, fizessem
o ouro sair da terra. Portugal continuava com a mesma mentalidade predadora de
1500. E iria pagar caro por isso.
Quando
o metal precioso começou a rarear, as debilidades do sistema de mineração
ficaram evidentes.
Em
1799, ao debruçar-se sobre as causas do declínio da mineração a pedido da
Coroa, Joaquim Veloso de Miranda fez um diagnóstico perfeito. Segundo ele, o
negócio do ouro era calçado apenas na sorte e no trabalho bruto dos mineradores
e de seus escravos. “Nenhuma arte, nenhuma indústria foram aqui jamais
conhecidas. (...) Admira que no decurso de um século os [os mineradores] vindouros
pouco melhorassem neste gênero de serviço”, afirmou. O que até então parecia
ser um método perfeito de “fabricar” dinheiro a partir do mero esforço braçal
de escravos era, na verdade, uma cilada. Quanto mais os mineradores progrediam
no negócio, mais dependiam da mão de obra escrava. Mas com o esgotamento do
ouro de aluvião, o quadro ficou delicado: os mineradores precisavam de um
número cada vez maior de escravos — um “bem” caro, frágil e cujo mercado era
controlado por oligopólios — mas, como contrapartida, obtinham cada vez menos
metal precioso.” (Figueiredo, págs. 343-344)
Lucas Figueiredo, Boa Ventura!: A corrida do ouro no Brasil (1697-1810)
0 comments:
Postar um comentário