“Um
provérbio muito correto diz que ‘quem não trabalha, não come’. Mas como comem
aqueles que não trabalham nem nunca trabalharam, e como trabalham aqueles que
não têm meios de saciar sua fome! De onde tem de se concluir que aqueles que
trabalham o fazem não apenas para si, mas também para o sustento de um exército
inteiro de ociosos. Ninguém defende o argumento de que esses ociosos vivem dos
esforços e ganhos de seus antepassados, porque os bens mais necessários à vida
não podem ser obtidos de antemão e, uma vez consumidos, precisam ser outra vez
produzidos pelos esforços dos vivos. Essa divisão desigual, no entanto, não se
restringe apenas ao alimento dos corpos, mas também das mentes. Quantos talentos
e gênios não têm de carregar o fardo do dia a dia porque a sorte não lhes
sorriu no berço, enquanto mentes das mais limitadas esparramam-se em suas cadeiras
de autoridade, ocupando cargos no poder e na ciência. Justamente os trabalhos
mentais realizados pelos mais idealistas são os mais mal remunerados. Filósofos
e poetas são em geral proletários de nascimento, e somente após suas mortes
recebem as honras que lhes eram devidas em vida, enquanto que o trabalho
apressado e superficial, industrializado e feito ao gosto das massas, é o que
recompensa melhor ainda em vida. Tem-se em mente, por exemplo, os deploráveis comediantes
puxados pelos cabelos das comédias de situação alemãs, que divertem apenas
imbecis, e que a despeito desse fato colocam as melhores produções numa posição
desfavorecida em nossos palcos, que deveriam ser instituições a servir o desenvolvimento
intelectual do povo.” (Büchner, págs. 6 e 7)
Ludwig Büchner, Socialismo e
darwinismo
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