"A morte fala-nos numa voz profunda para não dizer nada." - Paul Valéry - Pensamentos Maus e Outros
A melhor forma de proteger as florestas
primárias e sua biodiversidade, garantindo ao mesmo tempo suprimento de madeira
para suas mais diversas aplicações industriais, é a plantação de florestas. A
silvicultura, como é conhecida a atividade, é praticada desde a Idade Média em
nações como a Inglaterra, França e Alemanha. Atualmente, o plantio de árvores
de certas espécies, visando a utilização da madeira para diversos fins, tornou-se
atividade de ponta do setor agrícola de países de grande extensão territorial.
Trata-se de uma atividade econômica
relativamente nova no Brasil, surgida nos anos 1960, associada à época a
incentivos fiscais mal aplicados e outras irregularidades, que afetaram parte
do setor em sua fase inicial de desenvolvimento. Nos últimos 60 anos a silvicultura
nacional evoluiu, adquirindo importância econômica de destaque – que o diga a indústria
de papel e celulose, cuja matéria prima provém 100% de florestas plantadas. No
ano de 2022 o Brasil passou a ocupar o primeiro lugar do mundo na exportação de
celulose, tendo vendido ao exterior 19,1 milhões de toneladas.
Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (iba.org), associação que representa as empresas do setor da silvicultura e atividades relacionadas, o país possui 9 milhões de hectares plantados de eucalipto, pinus e demais espécies, para a produção de painéis de madeira, pisos laminados, celulose, papel, produção energética e biomassa. Segundo a associação “as árvores plantadas são responsáveis por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País − os demais 9% vêm de florestas naturais legalmente manejadas”.
O Brasil possui cerca de 60% de seu
território constituído por florestas, com área aproximada de 498 milhões de hectares
(Mha). 98% desta área florestal são constituídos por bosques naturais e apenas
2% (cerca de 10 Mha) são formados por florestas plantadas. O país está em
sétimo lugar no ranking mundial, liderado pela China (77 Mha) e os Estado
Unidos (25 Mha). A área de silvicultura cresceu
cinco vezes entre 1985 e 2020, passando de 1,4 Mha para 7,5 milhão Mha, segundo
o MapBiomas (https://mapbiomas-br-site.s3.amazonaws.com/Fact-Sheet_1.pdf).
A área de floresta plantada ocupa 3,5% do bioma da Mata Atlântica; 1,43% do
bioma do Cerrado; e 2,79% do bioma dos Pampas. Os estados que mais detêm áreas
de floresta plantada são Minas Gerais (24,4% de toda áreas silvícola do país); Paraná
(14%) e Santa Catarina (13,2%).
Diferentemente do que vinha ocorrendo no país até os anos 1960, nas últimas décadas não é mais possível abastecer
o mercado consumidor com madeira e carvão retirados ilegalmente da Mata
Atlântica, do Cerrado e, mais recentemente, da floresta amazônica. Não que o
fato não mais ocorra, mas a ação de carvoarias e de madeireiras ilegais é periodicamente autuada pelas autoridades ambientais e denunciada pela imprensa –
especialmente agora, em tempos de mudanças climáticas. Por outro lado, o grande
consumo de madeira, aliada à conscientização crescente da sociedade, deve
demandar o aumento das áreas de reflorestamento com espécies comercias.
A silvicultura, praticada de modo
científico e dentro dos parâmetros legais, é a melhor alternativa para garantir
o fornecimento de madeira, entre outras, para a indústria de papel e celulose,
construção civil e indústria moveleira, assim como carvão para as siderúrgicas e para o lazer.
No Brasil, o setor de reflorestamento movimentou R$ 97,4 bilhões em 2019, gerando
3,7 milhões de empregos diretos e indiretos. O crescimento do setor tem
propiciado, entre outros benefícios, a manutenção de estradas vicinais em
várias regiões do país e a criação de novas indústrias de beneficiamento da
madeira.
As maiores áreas de reflorestamento –
realizado principalmente com as espécies pinus e eucalipto – localizam-se nas
regiões Sul e Sudeste. Destas, cerca de 7 Mha de florestas plantada são
certificados na modalidade de manejo florestal e pelos sistemas CERFLOR
(Programa Brasileiro de Certificação Florestal) ou FSC (Forest Stewardship
Council); entidades com padrões internacionais de controle da qualidade do
reflorestamento.
A sociedade brasileira precisa estar
consciente de que o consumo de madeira só tende a aumentar, como ocorre em
todas as economias em crescimento. Neste quadro, o país só tem três opções: a) desmatamos
o que nos resta de floresta primária, destruindo espécies e provocando mais
alterações climáticas; um absurdo que nos tempos atuais seria um crime
repudiado internacionalmente; b) importamos madeira, remetendo com isto divisas
ao exterior, o que seria atestar a incompetência dos gestores dada a extensão
territorial do Brasil; ou c) promovemos cada vez mais o reflorestamento, de
maneira controlada e sustentável, contribuindo para a preservação dos recursos
naturais.
(Imagens: fotografias de Albert Renger-Patzsch)
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