“Um
grande avanço da Revolução Científica — talvez o maior — foi refutar a intuição
de que o universo é impregnado de propósito. Na concepção primitiva, mas
onipresente, tudo acontece por uma razão; por isso, quando ocorrem coisas ruins
— acidentes, doença, fome, pobreza —, algum agente só pode ter desejado que
elas acontecessem. Se uma pessoa pode ser considerada culpada pelo infortúnio,
pode ser punida ou forçada a ressarcir prejuízos. Quando não é possível
atribuir a culpa a nenhum indivíduo, pode-se culpar a minoria étnica ou
religiosa mais próxima e linchá-la ou massacrá-la em um pogrom. Se nenhum mortal
puder ser acusado de forma plausível, sempre dá para procurar por bruxas e
queimá-las ou afogá-las. Se isso falhar, invocam- se deuses sádicos, que não
podem ser punidos, mas podem ser aplacados com orações e sacrifícios. E há
também forças incorpóreas como o carma, o destino, mensagens espirituais,
justiça cósmica e outras garantias da instituição de que “tudo o que acontece
tem uma razão”. Galileu, Newton e Laplace substituíram esse drama da moralidade
cósmica por um universo mecanicista no qual os eventos são causados por
condições do presente, e não por objetivos para o futuro.” (Pinker, pág. 39-40)
Steven Pinker, O Novo Iluminismo
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