“Pode
parecer que a ciência e a ideia de progresso convergem, quando na verdade se
opõem. Entre os ateus contemporâneos, não acreditar no progresso é como uma
blasfêmia. Apontar as falhas do animal humano tornou-se um ato sacrílego. O
declínio da religião serviu apenas para fortalecer a ascendência da fé sobre a
mente. A descrença, hoje, não devia começar questionando a religião, mas a fé
secular. Uma forma de ateísmo que se recusasse a reverenciar a humanidade seria
um autêntico avanço. O pensamento de Freud exemplifica esse tipo de ateísmo;
mas Freud tem sido rejeitado justamente porque se recusou a lisonjear o animal
humano. Não surpreende que o ateísmo continue sendo um culto humanista. Supor
que o mito do progresso possa ser descartado seria atribuir à humanidade
moderna uma capacidade de aperfeiçoamento ainda maior que aquela que ela mesma
se atribui.” (Gray, pág 59)
John
Gray, O silêncios dos animais
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