Leituras diárias

quinta-feira, 25 de junho de 2020


“Pode parecer que a ciência e a ideia de progresso convergem, quando na verdade se opõem. Entre os ateus contemporâneos, não acreditar no progresso é como uma blasfêmia. Apontar as falhas do animal humano tornou-se um ato sacrílego. O declínio da religião serviu apenas para fortalecer a ascendência da fé sobre a mente. A descrença, hoje, não devia começar questionando a religião, mas a fé secular. Uma forma de ateísmo que se recusasse a reverenciar a humanidade seria um autêntico avanço. O pensamento de Freud exemplifica esse tipo de ateísmo; mas Freud tem sido rejeitado justamente porque se recusou a lisonjear o animal humano. Não surpreende que o ateísmo continue sendo um culto humanista. Supor que o mito do progresso possa ser descartado seria atribuir à humanidade moderna uma capacidade de aperfeiçoamento ainda maior que aquela que ela mesma se atribui.” (Gray, pág 59)


John Gray, O silêncios dos animais

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