A industrialização
do Brasil teve início no final do século XIX, na cidade do Rio de Janeiro. A
disponibilidade de capitais gerados pela agricultura cafeeira, no entanto, fez
com que a partir dos primeiros anos do século XX o processo de industrialização
se acelerasse em São Paulo, atraindo imigrantes e migrantes, tornando a cidade
a maior metrópole do país. Ao longo do século XX, o país vai gradualmente
aumentando seu parque industrial, notadamente a partir dos anos 1940, quando se
estabelece uma indústria de base. Depois da 2ª Grande Guerra, a
industrialização toma força nos anos 1950 e início dos anos 1960, com a
ampliação da infraestrutura rodoviária e da geração de energia. A pujança do
crescimento da indústria, está demonstrado pela participação do setor no PIB
nacional ao longo dos anos:
Participação da indústria no PIB
brasileiro
Anos Percentual
de participação
1940-1950 Entre 19% e 20%
1960-1970 Entre 25% e 30%
1985 35%
2000 15,3%
2005 17,4%
2010 15%
2015 12,2%
2019 11%
A
industrialização de um pais sempre foi relacionada com a redução da taxa de
analfabetismo. Não que a relação seja direta, mas para que uma região ou país se industrialize ou aumente sua estrutura industrial, é preciso que haja
disponibilidade de uma mão de obra capacitada que, à medida que o processo
produtivo se torna mais sofisticado, precisa ser melhor preparada. Com a
expansão da atividade industrial, geralmente nas cidades, aumenta a demanda por
mão de obra mais ou menos especializada. Com isso, cresce a migração de
populações de outras regiões para estes centros urbanos. Paralelamente, seja
pelos requisitos da profissão, quanto pelas exigências do Estado
(obrigatoriedade do ensino básico), aumenta a matrícula de alunos em
instituições de ensino, fazendo com que diminua o analfabetismo.
Assim,
a exemplo de outros países, o crescimento da atividade industrial no Brasil
acabou contribuindo para a redução da taxa de analfabetismo, já que as
indústrias requeriam trabalhadores com uma certa formação educacional básica. Esta
relação entre capital e mão de obra contribuiu para diminuir a taxa de
analfabetismo e a expansão do sistema educacional:
Redução da taxa de analfabeto no Brasil 1900-2015
Ano Percentual
de analfabetos/população
1900 65,3%
1940 56,1%
1960 39,7%
1980 25,9%
2010 9,6%
2015 8%
O
maior indutor de políticas públicas educacionais é o Estado, que tem a tarefa
de possibilitar o acesso à educação e erradicar o analfabetismo no país. Mesmo
assim, ainda são cerca de 11 milhões de pessoas no Brasil, que não sabem ler e
escrever, sem acesso à plena cidadania. Os índices variam de região para região
no país, sendo mais altos nas regiões Norte e Nordeste e mais acentuados entre
a população acima de 60 anos. No contexto latino-americano, o Brasil é um dos
países com as maiores taxas de analfabetismo, só sendo ultrapassado por El
Salvador, Honduras e Guatemala. Em outras nações latino-americanas, como a
Argentina, o Chile, o Uruguai e a Bolívia, o analfabetismo foi quase eliminado.
Além
do analfabetismo absoluto, o país também enfrenta a questão do analfabetismo
funcional, um problema talvez mais amplo, por afetar um número bem maior de
pessoas. Não existem números exatos sobre a quantidade de analfabetos
funcionais no Brasil, mas seu percentual que era de 39% da população em 2001,
atualmente é estimado em cerca de 30% (cerca de 63 milhões de pessoas). Dados
indicam que este índice atinge 53% entre as pessoas acima de 50 anos. A
denominação vem do fato de que os analfabetos funcionais são capazes de
reconhecer letras e números, mas não têm capacidade de compreender textos
simples e realizar operações matemáticas mais elaboradas. Mesmo em queda, este
tipo de analfabetismo chega a afetar estudantes dos cursos superiores,
prejudicando a capacidade de aprendizado do aluno. Conforme pesquisa realizada
pelo Instituto Pró-Livro, 50% dos entrevistados declararam não ter o hábito da
leitura de livros, por não terem capacidade de entender seu conteúdo, apesar de
tecnicamente serem considerados alfabetizados.
Ainda
segundo Oliveira no mesmo artigo, publicado na revista Veja Online em
12/11/2018, 25% da força de trabalho no Brasil é formada por analfabetos
funcionais e outros 25% possuem o nível elementar, “são apenas capazes de
selecionar uma ou mais unidades de informação, observando certas condições, em
textos diversos de extensão média realizando pequenas inferências.” Não têm
capacidade de ler e entender um manual de instruções.
Estas
condições educacionais têm, por sua vez, grande influência em uma série de
aspectos da cultura do país, do nível de informação da população, da prática política
e da própria convivência entre os cidadãos. Na área da cultura, por exemplo,
mais especificamente em relação aos livros, constata-se que a compra deste item
de consumo vem caindo ao longo dos últimos anos. Em pesquisa realizada no
primeiro semestre de 2020 pela empresa Nielsen Book, sob contrato da Câmara
Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL)
constatou-se que o subsetor de Obras Gerais teve crescimento de 28% nas vendas
totais (mercado e governo) em 2019. O aumento, todavia, não conseguiu compensar
queda nas vendas nos anos anteriores, que acumulou uma redução de 34% nas
vendas totais entre 2006 e 2019. O subsetor de livros científicos, técnicos e
profissionais registrou uma queda de 41% no mesmo período.
O
brasileiro lê em média 2,5 livros inteiros por ano, de acordo com uma pesquisa
realizada pelo Instituto Pró-Livro e Instituto Itaú Cultural, entre outubro de
2019 e janeiro de 2020. Entre 2013 e 2019 o Brasil perdeu 4,6 milhões de
leitores; a percentagem caiu de 56% para 52% da população que regularmente lia.
A maior queda no número de leitores foi identificada no grupo das pessoas com
ensino superior, que passou de 82% de leitores em 2015 para 68% em 2019. Na
classe A, o consumo de livros passou de 76% para 67% das pessoas. Falta de
tempo e envolvimento com internet e as redes sociais, foram dados como motivos
para a diminuição da leitura de livros.
O
estudo também registrou que os não leitores, pessoas com mais de 5 anos que não
leram livro algum, mesmo parcialmente, nos últimos três meses anteriores à
pesquisa, perfazem 48% da população, ou cerca de 100 milhões de brasileiros. Entre
estes, os principais motivos alegados por não terem o hábito da leitura, foi a
falta de tempo (34%) e por não gostarem de ler (28%).
Para
explicar os problemas de tiragem enfrentados pelo setor livreiro e pela mídia
impressa, é preciso considerar os aspectos educacionais e sociais acima
relatados, e levar em conta a crise econômica pela qual passa o país desde 2014.
Houve uma gradual queda nas vendas de mídia impressa, enquanto que a mídia
eletrônica, formada por jornais e revistas online, blogs de informação e sites
especializados, se tornou ágil e econômica. A própria diminuição da atividade econômica no
país também causou uma significativa redução na impressão de jornais e
revistas.
Em
suma, o que pode estar acontecendo é que o número de potencias leitores não
está aumentando por três principais fatores. Primeiro, o próprio interesse pela
leitura parece estar diminuindo ou pelo menos não está aumentando. Isto devido
a fatores educacionais, como exemplificado pela persistência do analfabetismo
funcional, fruto de falhas no processo de ensino. Não havendo compreensão do
conteúdo, diminui o interesse pela leitura. Segundo, pela concorrência das
mídias eletrônicas e redes sociais, de fácil acesso e veiculando o que os
usuários consideram interessante ou, pelo menos, fácil de compreender. Terceiro,
pela crise econômica que assola há anos o país, provocando diminuição da renda
da população e impossibilitando a compra de livros; nestas circunstâncias
considerados artigos de luxo.
Referências:
Indústria no Brasil. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria_no_Brasil#:~:text=As%20origens%20industriais%20no%20Brasil,em%20Pernambuco%20e%20na%20Bahia
Acesso em 18/11/2020
<https://www.scielo.br/pdf/rbedu/v19n58/02.pdf>
Acesso em 18/11/2020
Mola de emprego e do PIB, indústria
brasileira não reage e emperra avanço do PIB. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/economia/2020-03-04/mola-de-emprego-e-do-pib-industria-brasileira-nao-reage-e-emperra-avanco-da-economia.html>
Acesso em 18/11/2020
Desindustrialização no Brasil: um resumo da
evidência. Disponível em:
<https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/11689/Desindustrializa%C3%A7%C3%A3o%20no%20Brasil.pdf>
Acesso em 18/11/2020
3 em cada 10 brasileiros não conseguem entender este texto. Disponível em:
<https://todospelaeducacao.org.br/noticias/inaf-3-em-cada-10-brasileiros-nao-conseguiriam-entender-este-texto/>
Acesso em 18/11/2020
Analfabetismo funcional: novos dados, velhas realidades. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/blog/educacao-em-evidencia/analfabetismo-funcional-novos-dados-velhas-realidades/>.
Acesso em 18/11/2020
Analfabetismo funcional. Disponível em:
<https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/analfabetismo-funcional.htm>
Acesso em 18/11/2020
A evolução da indústria do livro nos últimos 14 anos. Disponível em:
<https://www.publishnews.com.br/materias/2020/07/08/a-evolucao-da-industria-do-livro-nos-ultimos-14-anos>
Acesso em 19/11/2020
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