“É possível
que Descartes tenha imaginado que ele e suas ideias “acabaram” com a Idade
Média; mas não foi nenhuma ideia que acabou com a Idade Média, foi a história,
a mudança nas relações materiais, a nova tecnologia dos homens europeus. Se há
mudanças ideológicas, para dizê-lo com as palavras de Marx, não fazem outra
coisa que “expressar”, no terreno da vida mental, mudanças que têm lugar no
terreno da produção e reprodução da vida real. Pareceria, desse modo, que “vida
mental” se opõe à “vida real”. Sem dúvida, ambas são reais, concretas. Os
sujeitos da história, disseram Marx e Engels várias vezes, são as sociedades
humanas específicas. Essas sociedades devem ser entendidas como totalidades com
um determinado grau de complexidade. Essa complexidade pode reduzir-se a três
elementos, segundo Engels indicou: uma atividade econômica de base, uma
organização política e algumas formas ideológicas – filosofia, moral, arte,
religião, crença jurídica etc. Resumamos o caminho até agora percorrido na
compreensão da noção marxista de ideologia: a ideologia é uma parte orgânica da
totalidade social, é um fato real que deve ser entendido como componente
estrutural de toda a sociedade.”
Ludovico Silva, A mais-valia ideológica
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