Outras leituras

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Fonte: Wikipedia


MAKE LOVE, NOT BEDS OU É ISSO MESMO

 

FILHO de Kennedy não quer ser Kennedy

Deus os faz e os junta.

Amanhã em Tara eu pensarei nisso.

Para o bom entendedor: meia palavra basta?

E disco que eu gosto?

Quem vem lá faça o favor de dizer por que e que vem.

Tem gente dando bandeira a meio pau.

Ninguém me ama, ninguém me chama, são coisas do passado (W. S.)

Quem sabe, sabe, conhece bem: gostoso gostar de alguém?

Vai começar a era de Aquarius. Prepare o seu coração.

Ou não: de um pulo do lado de fora.

Compre: Olhe. Vire. Mexa.

Você sempre me aparece com a mesma conversa mole.

Com o mesmo papo furado — só filmo planos gerais.

Sou feiticeiro de nascença/Trago o meu peito cruzado

A morte não é vingança/Orgulho não vale nada.

E atrás dessa reticencia

Nada, ri-go-ro-sa-men-te nada

Boca calada, moscas voando, e tudo somente enquanto

Eu deixar. Enquanto eu estiver atento nada me acontecerá.

Um painel depois do outro e um sorriso de vampiro;

Eu me viro/como/posso me virar.

E agora corta essa — só quero saber do que pode dar certo

Mas hoje tenho muita pressa. Pressa. Pressa! A gente se vê,

Na certa

 

 

— COLAGEM

 

Quando eu a recito ou quando eu a escrevo, uma palavra — um mundo poluído — explode comigo e logo os estilhaços desse corpo arrebentado, retalhado em lascas de corte e fogo e morte (como napalm) espalham imprevisíveis significados ao redor de mim: informação. Informação: ha palavras que estão nos dicionários e outras que não estão e outras que eu posso inventar, inverter. Todas juntas e a minha disposição, aparentemente limpas, estão imundas e transformaram-se, tanto tempo, num amontoado de ciladas.


Uma palavra e mais do que uma palavra, além de uma cilada. Elas estão no mundo e portanto explodem, bombardeadas. Agora não se fala nada e tudo e transparente em cada forma; qualquer palavra e um gesto e em sua orla os pássaros de sempre cantam nos hospícios. No principio era o Verbo e o apocalipse, aqui, será apenas uma espécie de caos no interior tenebroso da semântica. Salve-se quem puder.


As palavras inutilizadas são armas mortas e a linguagem de ontem impõe a ordem de hoje. A imagem de um cogumelo atômico informa por inteiro seu próprio significado, suas ruínas, as palavras arrebentadas, os becos, as ciladas. Escrevo, leio, rasgo, toco fogo e vou ao cinema. Informação? Cuidado, amigo. Cuidado contigo, comigo. Imprevisíveis significados. Partir pra outra, partindo sempre. Uma palavra: Deus e o Diabo.

 

Torquato Neto (1944-1972), poeta, letrista, jornalista brasileiro ligado ao movimento da contracultura e da tropicália em Os Últimos Dias de Paupéria (do lado de dentro) Organizado por Ana Maria Silva de Araujo Duarte e Waly Salomao

Mais informações em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Torquato_Neto

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