“Em outras palavras, podemos iniciar alguma coisa porque somos inícios e, portanto, iniciantes. Na medida em que a capacidade de agir e falar – e falar não é senão outro modo de agir – nos torna seres políticos, e uma vez que agir sempre teve o significado de pôr em movimento algo que não estava lá antes, o nascimento, a natalidade humana – que corresponde à mortalidade humana – é a condição ontológica sine qua non de toda política. Isso era conhecido tanto na Antiguidade grega quanto romana, embora de modo implícito. Veio à tona nas experiências da revolução e influenciou, embora mais uma vez de maneira um tanto implícita, o que se poderia chamar de espírito revolucionário.
De todo modo, a cadeia de revoluções,
que bem ou mal se tornou a marca registrada do mundo em que vivemos, sempre e
de novo desvela para nós a erupção de novos inícios dentro da continuidade histórica
e temporal. Para nós, que devemos isso a uma revolução e à fundação daí
resultante de um corpo político inteiramente novo no qual podemos caminhar com
dignidade e agir em liberdade, seria sábio relembrar o que uma revolução
significa na vida das nações. Quer termine em sucesso, com a constituição de um
espaço público para a liberdade, ou em desastre, o significado da revolução,
para aqueles que se arriscaram por ela ou nela participaram contra sua
inclinação e expectativa, é a atualização de uma das maiores e mais elementares
potencialidades humanas, a inigualável experiência de ser livre para fazer um
novo início, a partir do qual surge o orgulho de ter aberto o mundo a uma novus ordo seclorum.” (Arendt, págs. 35
e 36).
Hanna Aredt (1906-1975), filósofa, historiadora e ensaísta germano-americana em Liberdade para ser livre
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