“No século XVI EC, enquanto as
produtoras de cerâmicas polícromas que ocupavam a calha do Solimões
estabeleciam seus primeiros contatos com os europeus, o filósofo gascão Étienne
de la Boétie redigiu seu Discurso da servidão voluntária (1574). Nesse
texto, La Boétie se pergunta: ‘Como pode ser que tantos homens, tantos burgos,
tantas cidades, tantas nações suportam às vezes um tirano só, que tem apenas o
poderio que lhes dão?’. Creio
que essa seja uma das questões mais importantes que a arqueologia, não só na
Amazônia, pode ajudar a entender. Por que, após dezenas de milhares de anos
vivendo como caçadores-coletores, as sociedades humanas abriram mão de sua
liberdade em prol da agricultura e do Estado? Os povos antigos da Amazônia
central escaparam desse desígnio, desenvolvendo maneiras engenhosas de vida no
bosque tropical. Essa é uma lição que vale a pena ser aprendida, nem que seja
por seu valor ético.” (Neves, pág. 196).
Eduardo Góes Neves, arqueólogo brasileiro em Sob os tempos do equinócio: Oito mil anos de história na Amazônia central.
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