Outras leituras

terça-feira, 18 de março de 2025

 

“No século XVI EC, enquanto as produtoras de cerâmicas polícromas que ocupavam a calha do Solimões estabeleciam seus primeiros contatos com os europeus, o filósofo gascão Étienne de la Boétie redigiu seu Discurso da servidão voluntária (1574). Nesse texto, La Boétie se pergunta: ‘Como pode ser que tantos homens, tantos burgos, tantas cidades, tantas nações suportam às vezes um tirano só, que tem apenas o poderio que lhes dão?’. Creio que essa seja uma das questões mais importantes que a arqueologia, não só na Amazônia, pode ajudar a entender. Por que, após dezenas de milhares de anos vivendo como caçadores-coletores, as sociedades humanas abriram mão de sua liberdade em prol da agricultura e do Estado? Os povos antigos da Amazônia central escaparam desse desígnio, desenvolvendo maneiras engenhosas de vida no bosque tropical. Essa é uma lição que vale a pena ser aprendida, nem que seja por seu valor ético.” (Neves, pág. 196).

 

Eduardo Góes Neves, arqueólogo brasileiro em Sob os tempos do equinócio: Oito mil anos de história na Amazônia central.

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