“Mas
hoje em dia, a ascensão de grandes empresas de tecnologia e das redes sociais
nos faz lembrar que a maldição da grandeza não consiste apenas em preços mais
elevados para o consumidor. O Facebook
é gratuito. E inflige danos à democracia. Seu vasto poder, livre de
regulamentações, permite uma interferência externa nas nossas eleições e a
disseminação livre, numa escala sem precedentes, de fomentadores do ódio, de
teorias da conspiração, notícias falsas e desinformação. Essas perniciosas
consequências cívicas são reconhecidas atualmente.
Menos
óbvio é o efeito corrosivo em nossa capacidade de concentração. Sequestrar
nossa atenção, colher nossas informações pessoais e vendê-las para empresas que
nos empurram anúncios alinhados a nossos gostos não é apenas uma ameaça à nossa
privacidade. É também algo que mina a postura paciente e atenta em relação ao
mundo, necessária à deliberação democrática.
Não
estamos acostumados a lidar com as consequências cívicas do poder econômico. Na
maior parte do tempo, nossos debates sobre política econômica versam sobre o
crescimento e, em menor grau, em torno da justiça distributiva. Discutimos como
aumentar o tamanho do bolo e como distribuir as fatias, o que também é uma forma
muito limitada de pensar a economia. Essa ideia presume erradamente que o
objetivo de uma economia é maximizar o bem-estar dos consumidores. Mas não
somos apenas consumidores. Somos também cidadãos democráticos. Enquanto
cidadãos e cidadãs, temos interesse na criação de uma economia acolhedora ao
projeto de autogoverno. Isso significa que o poder econômico deve estar sujeito
ao controle democrático.” (Sandel, pág. 21).
Michael J. Sandel (1953- ) filósofo, escritor e professor estadunidense em O descontentamento da democracia: Uma nova abordagem para tempos periculosos.
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