Outras leituras

quarta-feira, 5 de março de 2025


 

“Mas hoje em dia, a ascensão de grandes empresas de tecnologia e das redes sociais nos faz lembrar que a maldição da grandeza não consiste apenas em preços mais elevados para o consumidor. O Facebook é gratuito. E inflige danos à democracia. Seu vasto poder, livre de regulamentações, permite uma interferência externa nas nossas eleições e a disseminação livre, numa escala sem precedentes, de fomentadores do ódio, de teorias da conspiração, notícias falsas e desinformação. Essas perniciosas consequências cívicas são reconhecidas atualmente.

Menos óbvio é o efeito corrosivo em nossa capacidade de concentração. Sequestrar nossa atenção, colher nossas informações pessoais e vendê-las para empresas que nos empurram anúncios alinhados a nossos gostos não é apenas uma ameaça à nossa privacidade. É também algo que mina a postura paciente e atenta em relação ao mundo, necessária à deliberação democrática.

Não estamos acostumados a lidar com as consequências cívicas do poder econômico. Na maior parte do tempo, nossos debates sobre política econômica versam sobre o crescimento e, em menor grau, em torno da justiça distributiva. Discutimos como aumentar o tamanho do bolo e como distribuir as fatias, o que também é uma forma muito limitada de pensar a economia. Essa ideia presume erradamente que o objetivo de uma economia é maximizar o bem-estar dos consumidores. Mas não somos apenas consumidores. Somos também cidadãos democráticos. Enquanto cidadãos e cidadãs, temos interesse na criação de uma economia acolhedora ao projeto de autogoverno. Isso significa que o poder econômico deve estar sujeito ao controle democrático.” (Sandel, pág. 21).

 

Michael J. Sandel (1953- ) filósofo, escritor e professor estadunidense em   O descontentamento da democracia: Uma nova abordagem para tempos periculosos.

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