Pesca e impacto ambiental

sábado, 17 de dezembro de 2022

 

"A condição dos comediantes era infame entre os romanos e honrosa entre os gregos. E entre nós, o que é? Pensa-se deles como os romanos, vive-se com eles como os gregos."   -   La Bruyère   -   Caracteres 


O Brasil possui aproximadamente 8.000 quilômetros de praias, costões, enseadas e restingas, bastante propícios à atividade pesqueira. Pelo menos era assim até a algumas décadas. Atualmente, o que se percebe é que a quantidade de peixes vem diminuindo. A sobrepesca, ou seja, a captura em excesso de peixes e outras espécies marinhas, tem se tornado prática constante em nosso litoral e alto mar. Se, por um lado, existe pouco controle sobre a atividade pesqueira costeira, a fiscalização da atividade em alto mar é ainda menor. Não sabemos quantos barcos e de que nacionalidades estão pescando neste momento em águas territoriais brasileiras, a 100 ou 150 quilômetros do litoral. De acordo com relatório elaborado pela ong Greenpeace Brasil, cerca de 80% das espécies economicamente exploradas no país estão correndo risco devido ao excesso de pesca. 

Os problemas que afetam os ecossistemas marinhos são vários. Ainda é comum a pesca com redes de malhas finas (redes de arrasto), o que faz com que também os filhotes de peixes sejam capturados e mortos, além de destruir outras espécies sem valor comercial, mas importantes para a cadeia de alimentação da vida marinha. Outro fato que ainda ocorre é a pesca na época do defeso, período da desova de certas espécies de peixes, o que provoca a morte das fêmeas e a consequente diminuição das espécies. Os grandes aglomerados urbanos situados à beira-mar – cidades e balneários – também contribuem para a destruição dos ecossistemas marinhos, com o lançamento de lixo, esgoto, pesca amadora descontrolada e efluentes industriais nas águas dos oceanos.

O problema, todavia, não afeta só o Brasil, pois a quantidade de pescado em todo o mundo vem caindo a cada ano. Segundo matéria publicada pelo site da revista National Geographic em fevereiro de 2022, os “subsídios governamentais à indústria pesqueira continuam a ser um desafio significativo para reverter essa tendência preocupante. Uma pesquisa global descobriu que, em 2018, as nações gastaram cerca de R$ 114 bilhões com os chamados 'subsídios nocivos', que alimentam a pesca excessiva – um aumento de 6% em relação a 2009”. Aumenta a capacidade dos barcos e sofisticam-se cada vez mais os equipamentos. As frotas pesqueiras estão cada vez melhor aparelhadas, dispondo de instrumentação eletrônica capaz de localizar cardumes de peixes a dezenas de quilômetros de distância. Segundo um estudo realizado em 2006 e publicado na revista Science, a previsão é de que se os atuais volumes de pesca continuarem, os estoques mundiais de pescados entrarão em colapso até 2048. Na realidade, no entanto, os volumes de peixes e outros frutos do mar capturados só vem aumentando nos últimos dez anos. 

Em lugares onde o manejo da pesca não está em vigor ou é ineficiente, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as quantidades de pescado vai continuar diminuindo. Assim, de uma maneira geral, a não ser que os países que mais atuam na pesca – Noruega, Rússia, China, Estados Unidos, Taiwan e Japão, entre os principais – implantem medidas de ordenação e controle de suas frotas pesqueiras, a tendência é uma gradual diminuição no volume de pescado em todo o planeta. Outra medida importante, seria o aumento das áreas marinhas de proteção nos mares territoriais dos países, que no momento perfazem apenas 7,7% da áreas marinhas totais, e a implantação de áreas de proteção internacional – já que as áreas internacionais comportam 61% da áreas dos oceanos terrestres. 

No Brasil o Ministério da Pesca e da Aquicultura foi criado em 2009 e extinto em 2015, sem que tivesse realizado projetos importantes. Falta ainda ao país um órgão que possa munir os profissionais do setor da pesca com informação e capacitação, além de incentivar e diversificar as atividades de aquicultura, com uma estreita colaboração com outros ministérios, como o do Meio Ambiente e o (futuro) Ministério das Cidades.  


(Imagens: pinturas de Maria Caspar-Filser)

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