Cláudio
Abramo nasceu em São Paulo em 6 de
abril de 1923 e
morreu na mesma cidade em 12
de agosto de 1987.
Foi um dos mais destacados jornalistas brasileiros, tendo sido responsável pelas
mudanças no estilo, na formatação e no conteúdo em dois dos maiores jornais brasileiros;
os paulistas, “O Estado de São Paulo” (1952-1963)
e a “Folha de São Paulo” (1975-1976).
Claudio foi o filho mais
novo de Vincenzo Abramo e Iole Scarmagnan; era neto do anarquista
italiano Bortolo Scarmagnan e
fazia parte de uma família muito influente na arte, na imprensa e na política
brasileira no século XX. Seus irmãos foram o gravador Lívio
Abramo, os jornalistas Athos
Abramo e Fúlvio
Abramo, a atriz Lélia
Abramo, a professora Beatriz Abramo e Mário Abramo. Claudio
também foi tio de Perseu Abramo, também um jornalista da
mesma cepa ideológica, que militou até sua morte no Partido dos Trabalhadores,
sendo hoje nome da Fundação criada pelo PT para formar novos quadros políticos.
Foi casado com a
artista plástica e chargista (a primeira mulher chargista na imprensa
brasileira) de origem alemã, Hilde
Weber, com quem teve um filho, Claudio Weber Abramo,
que também se tornaria famoso jornalista. Mais tarde, Claudio casou-se
com Radha Abramo,
crítica de arte e também sua prima, com quem teve duas filhas: a socióloga Barbara
Abramo e a jornalista Berenice Abramo.
Fluente em italiano, francês
e inglês, Claudio na política seguia linha comunista trotskista. No
entanto, seu entusiasmo pela carreira jornalística fez com que abandonasse a
militância política, dedicando-se totalmente ao seu trabalho. Tinha um estilo
de jornalismo conciso e imparcial, influenciado pelo jornalismo norte-americano,
hoje presente na maior parte dos grandes veículos de informação brasileiros,
substituindo os antigos textos longos e opinativos. Seus mestres no jornalismo foram
os jornalistas Lívio Xavier, Ermínio Saccheta e Mário Pedrosa; todos ligados ao
movimento da esquerda brasileira.
Diferentemente de seus
irmãos mais velhos que estudaram no Colégio Dante Alighieri (tradicional
colégio da cultura italiana em São Paulo), Claudio cursou apenas o curso primário,
tendo obtido o diploma ginasial, prestando um exame de Madureza, aos
46 anos de idade. Segundo declaração de Geraldo de Barros, amigo de Cláudio, "Ele (Cláudio) se orgulhava de duas coisas:
ser autodidata e ter sido testamenteiro de Oswald de Andrade, de quem foi amigo.”.
Em 1945,
aos 22 anos, foi um dos criadores do “Jornal de São Paulo”, dirigido pelo
poeta Guilherme de Almeida. Em 1947,
passa pelos “Diários Associados”, e, no início de 1948,
começa a colaborar com “O Estado de São Paulo”.
Nos anos de 1951 e 1952,
Claudio frequentou a Escola de Altos
Estudos em Ciências Sociais (EHESS) de Paris, a convite do governo
francês. Naquela cidade, morou no Hotel de L'Academia, na rua de Saint-Pères,
assim como outros brasileiros, de quem viria a ser amigo: o artista
plástico Geraldo de Barros, o
matemático Carlos Lira e
o físico Jorge Leal. Estabeleceu relação muito próxima de Mário
Pedrosa, que dividia, também em Paris, um apartamento com o
crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes. Claudio
adotou Mário Pedrosa como seu mestre no jornalismo e este era um dos poucos que
podia repreender Claudio, mesmo quando este já chegava aos sessenta anos. Nesta
estadia em Paris inicia namoro com Radha Abramo, que viria a ser sua segunda
esposa.
Em 1953, de
volta ao Brasil, assume o cargo de secretário de redação de “O Estado de
S. Paulo”, tornando-se o profissional mais jovem a assumir este cargo. Ali,
em colaboração com o também jornalista Giannino Carta, diretor do jornal, inicia
o processo de modernização e profissionalização do veículo. Em 1962, a família
Mesquita, dona do jornal, inicia um processo de aproximação dos militares que
conspiravam contra o governo eleito de João
Goulart. Não concordando com esta situação, Claudio, pressionado,
pede demissão em 1963.
Em seguida, assessora o
então ministro da Fazenda, Carvalho
Pinto, que deixou o cargo no fim daquele ano. Logo depois, Claudio foi contratado para reformar o tabloide “A Nação”, mas, após
demitir quase toda a redação, fechou o jornal em janeiro de 1964. Seu
emprego, Claudio foi contratado por Octavio Frias de Oliveira,
dono da “Folha de São Paulo”, para que começasse a trabalhar no ano
seguinte como chefe de produção. No jornal, foi recebido com inamistosamente
por chefias contrárias à sua contratação. Nos primeiros anos de atuação no
jornal, devido a sua instabilidade financeira, pouco conseguiu fazer. Dessa
forma, Claudio foi afastado da direção em 1972. Nessa época, foi perseguido pela
ditadura e chegou a ser preso, em 1975,
acusado de subversão.
Ao longo dos anos seguintes,
Claudio volta a trabalhar na “Folha de São Paulo”, que havia mudado sua linha
editorial, na companhia de outros nomes famosos da imprensa, como Paulo Francis e Alberto
Dines, além de intelectuais de várias correntes ideológicas
para as recém-criadas páginas de opinião. Entre as mudanças estabelecidas
no jornal, buscou uma primeira página mais agressiva e maior rigor na apuração
das notícias, independente das pressões. Coordenou, a partir de 1978, o
recém-criado conselho editorial do jornal. As reformas que implantou
na Folha influenciaram os rumos do jornalismo brasileiro na década
de 70.
Ao sair da “Folha”, Claudio
juntou-se a Mino Carta (que também havia saído da revista “Veja” por
perseguição política) para fundarem o “Jornal da República”. Também esteve à frente da “Leia Livros”,
publicação criada em sociedade com a editora Brasiliense em 1978. Colaborou
com a revista “Senhor Vogue”, (de Luis Carta, Mino Carta e Domingo
Alzugaray) de abril de 1978 a abril de 1979. Foi correspondente do
jornal “Folha de São Paulo” em Londres, no período de 1980 a 1982, e
em Paris, até 1984. Em
1984, assumiu a coluna “São Paulo”, na página 2 da “Folha de São Paulo”, e
em novembro de 1985 retomou
colaboração com a revista “Senhor”. Estas colaborações só se interromperam
com seu falecimento.
Em 1985, Claudio lecionou jornalismo
na pós-graduação na Universidade de São Paulo, na
condição de professor “Notório
saber”.
Vítima de insuficiência
cardíaca morreu em 14 de Agosto de 1987 aos 64 anos.
Postumamente, em 1988,
publicou-se o livro A regra do jogo,
reunindo artigos sobre política, literatura, impressões de viagens e um ensaio
autobiográfico.
Frases de Claudio Abramo
“Brasília é uma cidade curiosa, geométrica (alguém já disse que para
viver ali é preciso saber resolver teoremas), hierática, burocratizada,
autoritária – mas belíssima.” (Brasília à flor da pele);
“Um homem é feito na infância, aperfeiçoado na adolescência e
cristalizado na idade madura. Depois dos quarenta a existência humana, a não
ser para os asiáticos, que têm o segredo da vida longeva e produtiva, assinala
realmente uma decadência interminável, até que ela se torna insuportável: toda
a razão da vida se concentra em algumas coisas muito específicas, em seres,
sobretudo, e daí o conflito que se trava no interior de cada ser humano, quando
aquilo que ele quis ser para duas, três ou quatro pessoas – pois é nisso que se
concentra nossa vida – deixou de ser o que realmente se quis ser e parecer.”
(Inventário da infância perdida);
“Tive uma formação clássica humanística. Cresci numa família de
revolucionários; meu avô era anarquista, todos os meus irmãos eram trotsquistas.
Sou autodidata, não frequentai escola. (...) Mas li muito, desde menino, e
sempre frequentei pessoas que me ajudariam intelectualmente. Minha família era
formada de gente culta, que lia muito.” (Da introdução);
“A burguesia brasileira não apenas é refratária a qualquer reforma,
mesmo moderada (como nos mostram os trabalhos da Constituinte). Como ela quase
sempre se alia aos competidores e dominadores, as multinacionais e os bancos
estrangeiros, como prova a campanha desenvolvida aqui contra a ideia do
‘calote’ que iríamos passar aos credores a noção do ‘calote’ é uma noção absolutamente absurda, desde que partamos do
princípio de que não devemos pagar a dívida externa porque não podemos.” (a
burguesia submissa);
“O jornalismo é antes de tudo e sobretudo a prática diária da
inteligência e o exercício cotidiano do caráter.”;
“Minha ética como marceneiro é igual à minha ética como jornalista – não
tenho duas.”
(Fontes: Wikipedia; Portal dos Jornalistas; Revista Imprensa – Jornalismo e Comunicação; Livro “A regra do Jogo”)
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