“O
povo se identificava com as chanchadas, pois, utilizando a comicidade, a
paródia e, muitas vezes, o deboche, elas feriam na carne as mazelas maiores e
menores da sociedade brasileira, como a falta d’água e de luz, a burocracia que
emperrava o serviço público, a corrupção, a carestia, o nepotismo, o
clientelismo, a malandragem ostensiva ou discreta dos políticos e dos
empresários. Todas as chanchadas tinham o seu mocinho, a namorada do mocinho, o
anti-herói e sua gangue, a dupla encarregada da comicidade, a feia que se
apaixona por um dos cômicos, os números musicais, e, quase sempre, as inesquecíveis
brigas de boate. As chanchadas faziam, a seu modo, um painel do cotidiano, que
afetava (e ainda afeta) duramente a população, principalmente os mais pobres.
Através das chanchadas o povo ria de sua própria desgraça, o que, talvez, fosse
uma maneira de aliviar ou escarnecer o sofrimento do dia a dia. Eu me vingo – rindo.
Assim eram as chanchadas.” (Aguiar, pág.62)
Ronaldo Conde Aguiar, Guia do Passado – Alegrias, venturas e esperanças: os anos 1950 e suas adjacências
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