“A
afirmação de que a religião é inata, natural ao homem, é falsa se as ideias do
teísmo, isto é, da crença real em Deus, são atribuídas à religião em geral, mas
perfeitamente verdadeira se a religião é entendida como nada mais do que o
sentimento de dependência – o sentimento ou consciência do homem de que ele não
existe e não pode existir sem que outro seja distinto dele, de que ele não deve
sua existência a si mesmo. A religião, nesse sentido, está tão próxima do homem
quanto a luz está dos olhos, o ar dos pulmões, a comida do estômago. Religião é
levar a sério e confessar o que eu sou. Acima de tudo sou um ser que não existe
sem luz, sem ar, sem água, sem terra, sem comida, um ser dependente da
natureza. Essa dependência é, no animal e no homem animal, apenas uma
dependência inconsciente e desconsiderada; elevá-lo à consciência, imaginá-lo,
levá-lo a sério, confessá-lo é elevá-lo à religião. Assim toda a vida depende
da mudança das estações; mas só o homem celebra essa mudança em concepções
dramáticas, em atos festivos. Tais festivais, no entanto, que expressam e
representam nada mais do que a mudança das estações ou as figuras de luz da
lua, são os credos religiosos mais antigos, primeiros e reais da humanidade. O
ser divino revelado na natureza nada mais é do que a própria natureza, que se
revela, representa e se impõe ao homem como ser divino.” (Feuerbach, págs. 14 e
15)
Ludwig Feuerbach, A essência da religião (texto original consultado “The essence of religion”)
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