"Nada existe que os homens gostem mais de conservar e que tanto desperdicem como a própria vida" - La Bruyère - Caracteres
O consumo de produtos orgânicos – principalmente os vegetais
– ainda é bastante reduzido em todo o mundo. Se nos países desenvolvidos a
parte da população com maior poder aquisitivo e consciente em ralação às
questões de meio ambiente e saúde consome mais produtos orgânicos, o mesmo não
acontece em outras partes do mundo. Este fato se reflete, por exemplo, na área
de agricultura ocupada por orgânicos em todo o mundo, que representa apenas 1%
de toda área plantada. No Brasil a situação também não é melhor, apesar do
gradual aumento do consumo e das exportações destes produtos nos últimos anos.
Mesmo assim, o mercado mundial de produtos orgânicos certificados movimentou
cerca de US$ 90 bilhões em 2010.
Por definição, produto orgânico é aquele para cujo
crescimento ou preparo não tenha sido usado nenhum tipo de herbicida, fungicida
ou adubo químico no caso de vegetais; conservantes, corantes e outras
substâncias químicas sintéticas quando se tratar de produtos acabados. Da mesma
forma existem produtos orgânicos de origem animal – carnes e outros produtos
derivados de animais – aos quais também não são adicionadas substâncias químicas.
Sob aspecto legal, a agricultura orgânica foi aprovada no
Brasil pela Lei 10.831 de 23/12/2003 e posteriormente regulamentada com a
publicação do Decreto 6323 de 27/12/2007. Assim como os produtos, as próprias
propriedades onde são produzidos os orgânicos precisam atender a uma série de
exigências, sendo auditadas e certificadas por entidades competentes. Para se
caracterizar como unidade de produção orgânica, a propriedade deve incorporar
aspectos ambientais (como a manutenção das áreas de preservação permanente e
uso racional dos recursos naturais); econômicos (seja a conservação das espécies
agrícolas e da produção locais); e sociais (a melhoria da qualidade de vida de
todos aqueles envolvidos na produção). Além disso, todas as unidades de
produção orgânica devem ter um Plano de Manejo Orgânico (PMO), que prevê, entre
outros aspectos: a manutenção da biodiversidade, a conservação dos recursos
naturais e do solo; a prevenção da contaminação da área por substâncias
tóxicas, inclusive espécies geneticamente modificadas.
Recentemente pesquisadores do Centro para Políticas de Saúde
da universidade de Stanford realizaram um estudo publicado originalmente na
revista americana Annals of Internal
Medicine. Foram examinados 237 casos que comparam os níveis de nutrientes e
contaminantes em frutas, vegetais, grãos, carne, aves, ovos e leite de origem
orgânica e não orgânica. Uma das primeiras constatações é que não foi
encontrada nenhuma diferença na quantidade de vitaminas entre os dois tipos de
produtos. Todavia, outro aspecto levantado chama atenção: o consumo de produtos
orgânicos reduz a exposição aos resíduos de pesticidas e bactérias resistentes
a antibióticos – fato evidentemente positivo para a saúde dos consumidores.
Com relação à produtividade existe uma diferença entre a
agricultura orgânica e a convencional – esta última cerca de 20% a 25% mais
produtiva. Tal vantagem foi determinada através de recentes pesquisas e é bem menor
do que se estimava no passado. No caso da soja e do milho – cultivos que ocupam
extensas áreas e demandam grandes volumes de agrotóxicos – esta diferença pode
cair para 10%.
(Imagens: fotografias de Oliver Wutscher)
0 comments:
Postar um comentário