O funcionamento da economia mundial reflete
a ignorância, ou pelo menos uma desconsideração, com alguns princípios da
natureza que a ciência identificou ao longo dos últimos cem anos. A pesquisa descobriu
que não existem ações isoladas e que toda atividade humana exerce influência no
ambiente local e global. Sabemos que os recursos naturais não são inesgotáveis
e que a espécie humana tem um grande impacto sobre o planeta Terra. Somos hoje
mais de oito bilhões de pessoas que, bem ou mal, se alimentam, geram resíduos,
utilizam água e exercem diversas atividades, que modificam o ambiente natural da
região onde atuam e de toda a Terra.
Tomemos como exemplo a atividade
agrícola. Sabemos que a agricultura é o setor da economia mundial que mais
consome água; cerca de 60% das reservas disponíveis. As constantes cargas de defensivos
agrícolas (agrotóxicos) jogados sobre cada colheita acabam penetrando no solo e
matando grande parte dos microrganismos que mantêm a terra saudável e
produtiva, como era originalmente. O arado, revirando o solo, expõe a terra às
intempéries, fazendo com que as substâncias nutritivas contidas na terra sejam
arrastadas pela chuva e pelo vento. O passo seguinte então é tentar devolver à
terra sua fertilidade, através da aplicação de fertilizantes – produtos químicos
derivados do petróleo – à base de nitrogênio, fósforo e potássio. Todavia,
parte dos produtos aplicados não penetra no solo, que perdeu sua
permeabilidade, sendo arrastados pelas fortes chuvas para os rios, poluindo-os.
Desta maneira, trata-se apenas de uma questão de tempo, para que os solos se
tornem cada vez mais pobres e – círculo vicioso – necessitando aplicações
crescentes de defensivos agrícolas e de fertilizantes. Como termina este
processo?
Outras atividades econômicas funcionam
da mesma maneira, sem considerar suas consequências sobre o restante da
natureza. Preocupamo-nos apenas com o benefício que queremos obter, sem atentar
para a maneira como influímos sobre o todo circundante. Exemplo extremo desta
situação é a atuação da indústria pesqueira em todo o mundo. Depois de um
aumento da frota de barcos e da utilização de métodos eletrônicos cada vez mais
sofisticados para localizar os cardumes, a produtividade da pesca aumentou
tanto que diversas espécies de peixes já não conseguiam mais se reproduzir na
velocidade e quantidade em que vinham sendo pescados. O resultado é que nos
últimos dez anos a produtividade deste setor vem caindo, causando desemprego e
crise econômica em regiões de pesca, além de quase extinguir certas espécies de
peixes. Como será no futuro?
A maneira como vimos explorando a
floresta amazônica é outro exemplo desta forma míope de exercer uma atividade
econômica predatória. Extensas áreas de floresta, incluindo plantas e animais
desconhecidos da ciência, são derrubadas e transformadas em carvão e cinza,
para dar lugar à cultura de soja ou à criação de gado. Estas atividades
acabarão por desgastar completamente o solo, que é fértil por causa da camada
orgânica, gerada pela cobertura florestal de que dispunha. Guardadas as
proporções, é o mesmo que dinamitar o morro do Pão de Açúcar, para calçar as
ruas do Rio de Janeiro com paralelepípedos.
Nossa economia ainda atua como se os
recursos naturais fossem inexauríveis e como se a sistemática destruição do
meio ambiente, que vimos empreendendo para manter o sistema em funcionamento,
não tivesse qualquer consequência no futuro. O nosso modo de exploração
dos recursos naturais, baseado em uma estrutura econômica que privatiza os
benefícios e socializa os prejuízos, pode nos levar ao caos econômico e social.
(Imagens: fotografias de Carl Mydans)
(Versão alterada de texto publicado originalmente no livro "Como está a questão ambiental"?, de Ricardo E. Rose)
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