“Em
face dessa contradição fundamental, Machado de Assis se obstina e desespera de
dar qualquer explicação. Nada poderá mais iludir essa sua ciência amarga,
porque nada poderá conciliar a condição absurda do homem. O animal não sabe que
morre, e o homem é o único que tem esse privilégio triste. A condição do homem
parece-lhe assim o resultado de uma maquinação cruel, como se ele fosse o
joguete de forças superiores e incompreensíveis. Em relação a essas forças, o
homem fica na mesma relação de dependência e ignorância que a borboleta preta
de um dos capítulos do livro, debatendo-se nas mãos da pessoa que a aprisiona
sem conhecer as suas intenções. Somos impotentes para alcançar a explicação de
tudo isso, e mais, parece que a razão não é só insuficiente, mas é incompatível
com a realidade, na qual só existe absurdo e contradição. Definido como um
racionalista, Machado entretanto prova os limites e a inanidade da razão em
face dos problemas últimos. A sandice, dirá ele continuando as suas alegorias,
é que investiga essas coisas, ‘o mistério da vida e da morte’.” (Barreto Filho,
pág. 116)
Barreto Filho, Introdução a Machado de Assis & outros ensaios
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