Considerações sobre o filme "O homem urso"

sábado, 28 de julho de 2018
"A ninguém foi dada a posse da vida, a todos foi dado o usufruto."   -   Lucrecio   -   Da Natureza

Considerações sobre o filme “O homem Urso”, de Werner Herzog
Filme: The Grizzly Man (O homem-urso)
Direção: Werner Herzog
Tema: Documentário sobre a vida de Timothy Treadwell
País: Estados Unidos, 2005,
Timothy Treadwell viveu e filmou a vida dos ursos do Alasca durante dez anos. A cada ano passava três a quatro meses sozinho com os ursos, conversando e tentando entender sua vida, vivendo em uma barraca, sem qualquer tipo de arma. Treadwell era personagens de seus próprios filmes. O documentário mostra diversas cenas, rodadas por ele mesmo, conversando com os ursos e explicando aos espectadores as ações dos animais, que ocorriam efetivamente alguns metros à sua frente. Treadwell declarava que queria um encontro com os ursos além do conceito humano-animal. Via a si mesmo como um guardião dos animais.
Em muitas cenas do documentário, Treadwell se comunica com os ursos e dizia que pretendia se tornar um animal selvagem como eles. Em outras cenas declarava que queria chamar a atenção do mundo para a degradação ambiental que estava ocorrendo no Alasca, colocando em perigo todo o complexo sistema ecológico onde viviam os ursos e outras espécies de animais que também aparecem nos filmes.
Durante o período em que não estava sozinho no Alasca, Treadwell fazia conferência para diversos tipos de público; empresários, políticos, estudantes, sempre ressaltando a importância de se proteger a região do Alasca e seus animais. Por outro lado Treadwell também foi alvo de críticas, principalmente por parte daqueles que tinham algo a perder, caso o controle ambiental sobre a região se tornasse mais rígido.
Quando estava no Alasca, Treadwell agia e se comportava como um urso. Sentia-se imbuído de uma missão que só ele podia desempenhar e declarou em várias filmagens que morreria pelos animais, que tentava proteger. Índios cujas tribos no passado habitavam a região, declararam no documentário que esta havia sido a grande loucura de Treadwell; tentar ultrapassar este abismo que existe entre o homem e o animal.

Em 2001, ao findar mais um período de permanência com os ursos, Treadwell e sua companheira Amy foram destroçados por um urso na região chamada de Labirinto dos Ursos.
O documentário entrevista o piloto de avião que viria buscá-los, para levá-los de volta à cidade mais próxima. Ao chegar ao acampamento o aviador chamou pelo casal e não escutou resposta. Viu diversas coisas espalhadas no chãos e um urso, mastigando algo de aparência estranha e suja de sangue. O urso estava inquieto e avançava em direção ao piloto. A dedução dos fatos foi imediata. Entrou de novo em seu monomotor e levantou voo. Voltou horas depois, trazendo alguns caçadores que mataram e evisceraram o urso, encontrando em seu estômago pedaços de tecidos e corpos humanos – parte dos corpos de Timothy e Amy.  
Timothy Treadwell era filho de uma família de classe média baixa, nasceu e cresceu na Flórida. Conseguiu uma bolsa de estudos na faculdade por ser bom nadador, participando do time de natação. Aos vinte e poucos anos começa a beber, sofre uma queda. Não pode mais nadar e também abandona a faculdade. Logo depois mudou-se para a Califórnia, onde tentou uma carreira como ator de seriados para a TV, todavia sem muito sucesso. Então começa a frequentar as praias, onde se torna instrutor de surfe. Apresenta-se como sendo australiano (muda até seu sotaque), órfão, que tinha se mudado para os Estados Unidos. É neste período que Timothy começa a fazer uso de drogas. Segundo depoimentos de amigos, tinha uma personalidade problemática, vivendo determinado período da sua vida entre a legalidade e a ilegalidade. Por fim, depois de uma overdose que quase o mata, Timothy Treadwell passa por uma transformação. A partir deste época passa longas temporadas no Alasca, vivendo entre os ursos.
Em seus últimos períodos de permanência no Alasca, Treadwell começa a apresentar indícios de paranoia. Reclama dos visitantes, acha que os caçadores querem matá-lo. Viola a regra do parque, que permite uma aproximação máxima de 90 metros dos ursos.
Treadwell morreu tentando salvar sua companheira. Enquanto o urso os atacava, sua câmera, apesar de não mostrar imagem, estava gravando os sons de sua luta com o urso e seus gritos dizendo que Amy corresse para salvar a vida.
No fim, deixou alguns críticos, muitos admiradores e alguns amigos que o conheciam mais de perto, como realmente era em todos os seus aspectos humanos, bons e ruins.
Durante o documentário, Werner Herzog, além de dirigir, também narra o filme. Ao final, depois de contar toda a história e entrevistar todos os envolvidos, Herzog diz que Timothy Treadwell foi um sonhador, foi talvez o personagem do próprio filme (aquele que nunca pode estrelar). “Olhando para os ursos não vejo aquilo que Treadwell via e amava, vejo apenas a indiferença e a fome da natureza”.
O filme trata de uma história real, mostrando cenas do homem que passou por tudo que aqui é narrado. Até que ponto o documentário de Herzog romanceou a vida de um jovem, que do fracasso alcançou fama internacional? Ao que parece, tudo foi feito de uma maneira honesta e respeitosa, inclusive poupando parentes e amigos. O filme suscita perguntas como: Afinal, o que é uma vida humana? O que é verdade sobre a vida de uma pessoa? Como sabemos? Qual é o sentido ou valor que damos a nossa e à vida dos nossos semelhantes? O que é uma vida ética e como sabemos ser ética? 

O filme também tem uma lição filosófica. Olhando a Natureza, pensamos inconscientemente que, de certo modo, ela está aí para nós humanos podermos manipulá-la. Ou, como Treadwell pretendia, conviver com ela em paz. Nietzsche dizia que somos estranhos neste universo, que este não foi feito para nós. Assim como os ursos, somos passageiros, elos de uma longa cadeia.
(Imagens: Timothy Treadwell e sua companheira Amie Huguenard, ursos [Time e International Association of Bear Reserach and Management])

Notas rápidas (homenagem a G. C. Lichtenberg)

quarta-feira, 25 de julho de 2018


Parcela do todo

Nossa mais sofisticada maneira de olhar o universo é a ciência.

A ciência, no entanto, é baseada em nossas percepções; não é a realidade em si. Isto por dois motivos. Primeiro, porque todos os instrumentos da ciência são baseados na nossa maneira de ver a natureza, o universo. Nossos telescópios, microscópios, aparelhos de comunicação, ferramentas; tudo foi desenvolvido baseado na maneira como vemos e também agimos no mundo, dada a forma de nossa anatomia.

Segundo, sabemos através da nossa ciência que nossa maneira de experimentar, de ver o mundo, não é absoluta; é especificamente humana. As outras espécies, com diversas variações, não enxergam, degustam, tateiam, escutam o mundo como nós.

Assim, parodiando o filósofo Heráclito de Éfeso do século V AEC, podemos dizer que se os animais tivessem um ciência – e uma tecnologia, talvez como consequência – interpretariam e agiriam no mundo de acordo com suas percepções. Haveria, talvez, uma civilização tecnológica da formiga, ou talvez dos golfinhos...

Essa ideia é muito bonita. Permite imaginar que não somos as mais importantes criaturas da Terra – ou talvez do universo. Desenvolvemos o que chamamos de "mente" por um acidente da evolução, mas podemos e devemos pensar que somos apenas uma pequena parcela do todo, junto com as outras criaturas vivas (e, talvez, até com o resto).

(Imagem: gravura representando G. C. LIchtenberg)


Corrupção em cinco fases

sábado, 21 de julho de 2018
"Em Paris, houve uma época em que um príncipe de sangue e seus cortesãos divertiam-se à noite roubando os que passavam nas ruas, arrombando as portas, lutando com a sentinela. Essa época pode ser considerada a época heroica dos arrombadores."   -   Honoré de Balzac   -   Código dos homens honestos

(o relato aqui apresentado é fictício e não corresponde a acontecimentos da vida real. Texto apresentado na Academia Peruibense de Letras)


Corrupção em cinco fases

Primeira fase: iniciando

Um pequeno roubo, pouca coisa, e ninguém percebe. Um desvio um pouco maior e, mais uma vez, ninguém se dá conta. Por que será?

Aí eu observo os outros; percebo que eles também estão fraudando! Aumento gradativamente os desfalques e ninguém percebe – ou fingem que não percebem. Se não viram nada, nem eu.


Segunda fase: vamos nos organizar

As gatunagens são cada vez maiores e frequentes. Alguém vai ver o que acontece, penso.
“Precisamos nos organizar!”, digo. A rapina, como qualquer atividade lucrativa, tem que estar sujeita a certas regras.

“Façamo-las então! Vamos combinar: afanando de maneira organizada nunca seremos pegos e poderemos aumentar os nossos saques cada vez mais. Se alguém perceber e quiser nos denunciar, colocamos no esquema!”

Com essa facilidade, ninguém recusará uma oportunidade de enriquecer tanto em tão pouco tempo!


Terceira fase: toda fonte tem um limite. Precisamos ampliar nossa atuação!

Nossa fonte de benefícios não vai crescer na mesma proporção das nossas retiradas.

“Precisamos criar esquemas de exploração maiores para continuarmos no negócio”, decide a comissão. Vamos formar novas alianças, cooptar novos aliados, ampliar nossa rede de atuação.


Quarta fase: fomos descobertos, e agora?

“Senhores, nosso correligionário NNN foi preso. Existem algumas provas contra ele. Vai falar e entregar todo o esquema para livrar-se de pena maior!”

Aguardamos os acontecimentos. Temos a vantagem da lentidão da Justiça e da ampla possibilidade de impetrar recursos. Nossos advogados, quando bem pagos, fazem maravilhas!


Quinta fase: não esquenta, aqui é o Brasil!

“Essa Justiça é uma beleza. Cadeia por longo tempo é só pra pobre e quem não é bem relacionado!”

Se formos presos, ficaremos apenas alguns dias, no máximo semanas. Logo nos concederão prisão domiciliar. Nossos juízes são camaradas! Aí poderemos reaver parte do dinheiro e, assim que a poeira baixar, voltarmos ao nosso negócio!

“Ah, esse país é uma maravilha! Que povo, que nada! Esse país é nosso, é dos espertos!”

(Imagem: dinheiro, muito dinheiro, produto de roubo)

Notas rápidas (homenagem a G. C. Lichtenberg)

quarta-feira, 18 de julho de 2018


Processo da vida


Em praias pouco movimentadas observamos uma profusão de organismos. Diversos tipos de moluscos (conchas), crustáceos, peixes, aves. Isto sem enxergarmos as milhares de variedades de bactérias e vírus habitando a água do mar; bilhões de indivíduos para cada litro de água, segundo a ciência.

Quantas espécies de seres vivos, que número incontável de indivíduos!

Sem querer recorrer a simplistas explicações religiosas, me pergunto de onde vem este impulso, esta força, para produzir tanta diversidade em tanta profusão – e tudo destinado a deixar de ser e voltar a fazer parte do processo da vida?

(Imagem: gravura representando G. C. Lichtenberg)

Dualismo e sentido da história (final)

sábado, 14 de julho de 2018
"O modernismo é de essência democrática: ele separa a arte da tradição e da imitação e, simultaneamente, coordena um processo de legitimação de todos os temas."   -   Gilles Lipovetsky   - A Era do Vazio

O pensamento moderno acabou com o dualismo “matéria – espírito”, pelo menos como o enxerga a religião. A tendência no pensamento filosófico de uma forma geral, acentuadamente a partir do início do século XX, é o de um monismo materialista ou fisicalista. Não existe nenhum mundo ou dimensão além deste que vivemos, dominado pela matéria e pela energia. Com relação ao sentido da história, é conceito comum entre a maioria dos pensadores, que a história não tem qualquer sentido, além daquele que o homem possa lhe dar.

Diferente do que pensam as religiões, a visão moderna, influenciada principalmente pela ciência, não vê sentido algum - como finalidade última - na história individual, na história da humanidade ou na história do universo. Este, passa por diversas fases de desenvolvimento desde seu surgimento com uma explosão inicial (conhecida como teoria do “big-bang”) até acabar em morte térmica depois de centenas de bilhões de anos, segundo uma das teorias da ciência.

O avanço das pesquisas na astrofísica e da cosmologia permite atualmente a construção de outras teorias – baseadas em projeções matemáticas – que apresentam diferentes variantes do surgimento e evolução do universo. A hipótese do “universo cíclico”, diz que o atual universo no qual existimos não é o único nem o primeiro; cálculos baseados em teorias físicas permitem afirmar que antes existiam outros e ao atual se seguirão novos. Outra teoria, a dos multiversos, diz que além do nosso também existe um número muito grande de outros universos, cada um com características diferentes do nosso.

Assim, fora de uma visão religiosa da história do universo e da humana, a moderna ciência e a filosofia não pensam mais em um “sentido último” ou em uma “outra dimensão”, na forma de um mundo além deste. Tal posição já vinha se delineando na maioria dos pensadores no final do século XIX, com as descobertas das ciências físicas e com as ideias da filosofia. A ideia do universo e do desenrolar histórico completamente “dessacralizado”, como dizia o sociólogo Max Weber, tornou-se hegemônica ao longo do século XX. 
(Imagens: Christian Rohlfs) 

Previsão incorreta

sábado, 7 de julho de 2018
"Não devemos invejar as riquezas de certas pessoas; pagaram por elas um preço elevado que não nos convinha: trocaram-nas por seu sossego, sua saúde, sua honra e sua consciência. É uma negócio muito caro, do qual não se tira lucro."   -   La Bruyère   -   Caracteres

A atividade de inteligência de mercado procura reunir informações e dados de um determinado setor e ordená-los de maneira que permitam tirar conclusões. Estas, podem ser de interesse de uma determinada empresa, ou daqueles que de uma maneira mais ampla também têm interesse neste determinado setor. Em outras palavras, baseados em informações e dados de um mercado (e uma série de informações de outros mercados a ele ligados), podemos planejar a estratégia de uma empresa ou inferir o comportamento futuro deste mercado, com margem de erro aceitável.  Mas, não é só isso; seria fácil, se tudo fosse tão simples.

A economia, como se sabe, é um sistema complexo, definido como aquele cujas propriedades não são uma consequência direta e necessária de seus constituintes, ou seja, seu desenvolvimento não pode ser inferido diretamente do comportamento das partes que o constituem. Assim, a economia – nome genérico de um macro sistema constituído de inúmeros subsistemas – comporta-se geralmente de maneira pouco ou nada previsível, pelo menos para os atuais níveis de conhecimento humano. O mesmo se aplica ao setor da economia que se convencionou chamar de mercado ambiental. Basta tentarmos enumerar alguns subsistemas que o compõem: mercado do saneamento ambiental (tratamento de água e esgoto); mercado de gestão de resíduos (domésticos, hospitalares e industriais); mercado da poluição atmosférica (veicular, industrial entre as principais); preservação, tratamento e descontaminação de solos; reflorestamento e áreas de proteção, entre outros. Imagine-se o número de agentes econômicos envolvidos em todas estas atividades. Além disso, é preciso também considerar que o avanço tecnológico faz com que surjam a cada dia novas demandas e, consequentemente, novos mercados.


Em uma primeira avaliação, já é possível estimar que o mercado ambiental está sujeito às mais variadas influencias. Desde a disponibilidade de recursos financeiros por parte de governos e empresas privadas para a implantação de projetos, à aprovação de leis que podem criar demandas tecnológicas ao impedirem determinadas práticas de alto impacto ambiental. Da necessidade de cumprir normas técnicas internacionais, no caso de exportadores de determinados produtos, até a identificação de novos fornecedores de matérias primas, extraídas ou fabricadas por processos menos poluentes. Resumidamente, três fatores exercem forte influência em mercados ambientais em desenvolvimento: a) disponibilidade de recursos; b) legislação e normas técnicas; e) desenvolvimento de tecnologias mais eficientes.

Disto exposto, é fácil depreender que a tarefa da inteligência de mercado num setor altamente complexo como este não é trabalho fácil. A grande quantidade de elementos que entram em consideração – e a escolha dos que exercem mais ou menos influência no quadro geral – pode confundir as análises e levar a conclusões que mais tarde não se confirmarão. Forma-se uma “hipótese desalinhada” do provável desenvolvimento do mercado, o que faz com que as conclusões da análise teórica também acabem se desencontrando da realidade no futuro.

Como exemplo disso, apresentamos uma avaliação do desenvolvimento do mercado brasileiro de tecnologias ambientais que elaboramos em início de 2013. Depois de expor um resumo dos fatores econômicos, sociais e tecnológicos que contribuíram para formar o quadro do mercado à época (2013), mostramos e discutimos alguns dados e números sobre este mercado, dividindo-o nos segmentos de saneamento, gestão de resíduos e controle da poluição atmosférica. Finalizando, baseado em várias informações, dados, previsões setoriais e macroeconômicas das quais dispúnhamos à época, arriscamos construir um quadro do desenvolvimento do mercado brasileiro de tecnologias ambientais, tentando apontar a provável situação futura.

Dividimos nossa perspectiva sobre o mercado futuro de tecnologias ambientais no Brasil em três áreas: a) as tendências econômicas; b) as tendências políticas e jurídicas; e c) tendências tecnológicas.


     a)  Tendências econômicas:
Na questão das tendências econômicas havíamos previsto um aumento dos investimentos em infraestrutura em função de programas de financiamento como o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e a implantação de legislação reguladora, a Política Nacional de  Resíduos Sólidos (PNRS). Hoje sabemos que em final de 2013 já se descortinava uma crise econômica no país, que, entre outros efeitos ao longo do tempo, reduziu drasticamente os recursos do governo, diminuindo repasses para o PAC, e, mais especificamente, para o setor de saneamento. Por outro lado, a PNRS, depois de prevista para 2012, teve sua implantação prorrogada para 2018. Mesmo assim, os avanços foram pífios, já que a maior parte dos municípios não dispõe, até o momento, de recursos para dar início às práticas de atendimento da lei.

Também havíamos previsto uma maior internacionalização da cadeia produtiva brasileira, através do aporte de investimentos estrangeiros e o crescimento das exportações, o que provocaria um aumento da capacidade produtiva e, consequentemente, o aumento dos investimentos em meio ambiente. O que efetivamente ocorreu é que a cadeia produtiva local se internacionalizou em parte de outra forma. Assim, parte das empresas deixaram de fabricar no Brasil e passaram a licenciar fabricantes chineses. Isto ocorreu de maneira acentuada na indústria autopeças, que fechou muitas de suas unidades de produção e passou a comprar de fabricantes da China, apondo sua marca aos produtos.

Em consequência do aumento do padrão econômico médio da população, havíamos previsto o aumento das exigências dos consumidores em relação aos produtos, inclusive no que se refere aos aspectos de sustentabilidade. O que ocorreu, como sabemos, é que o padrão econômico da maior parte da população caiu visivelmente e as exigências dos consumidores se limitaram ao preço do produto.  


      b) Tendências políticas e jurídicas:
No aspecto das tendências políticas e jurídicas havíamos previsto que os novos governos dariam mais importância às questões ambientais. Neste quesito o que ocorreu é que a presidente foi reeleita e continuou a manter a mesma orientação de seu primeiro governo, com relação à estratégia na área ambiental. A agravante em seu segundo mandato foi a redução de verbas para o Ministério de Meio Ambiente (entre outros), fato que se acentuou ainda mais quando assumiu o vice-presidente Temer, depois do impedimento de Dilma Rousseff.

Outro aspecto que havíamos previsto com relação às tendências econômicas e jurídicas foi a pressão que exerceriam os acordos internacionais e as barreias não alfandegárias instituídas por países e blocos econômicos. Todavia, a dinâmica internacional das negociações dos acordos ambientais foi diferente, principalmente com a eleições de Trump e suas consequências na atuação dos Estados Unidos no cenário internacional da proteção ambiental. Como sabemos, internamente o presidente Trump cancelou diversos programas ambientais implantados por seu antecessor, e a nível internacional abandonou o Acordo Mundial sobre o Clima. 

Também havíamos considerado que uma maior atividade econômica levaria, muito provavelmente, a uma melhor aplicação da legislação ambiental por parte das agências controladoras. A retração da economia, no entanto, levou a uma menor atividade produtiva, menor arrecadação de impostos e, assim, a uma diminuição dos recursos direcionados para as agências controladoras e reguladoras.


      c) Tendências tecnológicas:
Na nossa previsão de uma economia em crescimento acelerado, antevíamos uma crescente concorrência interna e externa por recursos e insumos. Esta rivalidade levaria a uma necessidade de otimizar processos produtivos para uso mais eficiente do input, de modo a colocar produtos com preços mais competitivos nos mercados. A melhoria dos processos teria um impacto ambiental bastante positivo, reduzindo emissões em geral e aumentando a demanda por tecnologias ambientais.
O crescimento das energias renováveis, que também havíamos previsto como tendência tecnológica, foi praticamente a única de nosso estudo que se concretizou. Primeiramente a energia eólica e, a partir de 2017, a energia solar; ambas mostraram um rápido crescimento que só tende a aumentar. Interessante observar que os leilões de energia – através dos quais também se compra energia eólica e solar – são organizados pelo governo, mas financiados exclusivamente pelo setor privado nacional e internacional. Planejamento, construção, operação e financiamento; tudo está a cargo da iniciativa privada, sem depender de recursos do Estado.

Por último, havíamos apostado que empresas locais, colocadas numa situação de competição dado o crescimento da economia, demandariam tecnologias mais eficientes, o que teria como consequência o aumento na procura por equipamentos e serviços ambientais. Todavia, a crise econômica na qual o país afundou, fez com que projetos de ampliação ou retrofit de unidades de produção fossem postergados.


Concluindo:

No caso de nossa análise, a “hipótese desalinhada” do provável desenvolvimento do mercado – fazendo com que as conclusões da análise teórica também acabassem se desencontrando da realidade no futuro - foi, principalmente, não termos considerado a crise que se abateria sobre a economia brasileira, principalmente a partir de 2014 – e cujas nuvens escuras ainda eram pouco visíveis no horizonte em início de 2013. Se àquela época já se previa um crise, sua profundidade e extensão ainda não era antevista pela maior parte dos economistas. Assim, um colapso econômico de proporções extraordinárias, fez com que nossas previsões sobre o futuro do mercado de tecnologias ambientais extrapolasse completamente a “margem de erro aceitável”, mencionada no início deste artigo.
(Imagens: pinturas de Max Pechstein)

Notas rápidas (homenagem a G. C. Lichtenberg)

quarta-feira, 4 de julho de 2018


Mudanças climáticas, sim ou não? 

O fenômeno das mudanças climáticas ainda não é do conhecimento de todos. Para parte das pessoas a ideia ainda não é clara. Isto acaba gerando muita confusão na compreensão e uso deste conceito científico.

Que o acúmulo de gás carbônico na atmosfera provoca o efeito estufa quando o calor não consegue sair de um espaço fechado, seja uma estufa ou a atmosfera terrestre, é um fato conhecido pela ciência desde o século XIX. E é isto o que ocorre quando, através de suas atividades econômicas, a civilização mundial descarrega excesso de gás carbônico – ou outros gases com o mesmo efeito – na atmosfera.

Resumidamente, isto quer dizer que nosso planeta está se aquecendo, principalmente os oceanos, que funcionam como condicionador da temperatura e do clima da Terra.

Os efeitos desde fenômeno já começam a se fazer sentir, apesar de alguns, em sua maioria movidos por interesses econômicos, negarem as evidências.

Certeza absoluta de que o fenômeno está ocorrendo a ciência quase já tem. Ainda não tem a “certeza científica” de que nós humanos somos os principais causadores. Tudo indica que sim, mas...

Mesmo assim, devemos agir como se pudéssemos efetivamente interferir no desenvolvimento deste processo, diminuindo as emissões de gases. Se estivermos errados em nossa avaliação, nada teremos perdido diminuindo a emissão, ao contrário, teremos melhorado a qualidade do ar que respiramos, no mínimo.

Mas, se estivermos certos em nossas avaliações e pouco ou nada fizermos para diminuir as emissões, poderemos estar decretando a extinção de diversas espécies e, a médio prazo, talvez até a nossa.

(Imagem: gravura representando G. C. Lichtenberg)