Duas boas notícias para o clima da Terra

sábado, 29 de outubro de 2016

"Morra enquanto estiver vivo
  E esteja totalmente morto.
  Então faça o que quiser,
  Tudo estará bem."  

Bunan, mestre zen citado por Philip Kapleau em "Roda da vida e da morte."


Duas boas notícias sobre o meio ambiente, especificamente sobre as mudanças climáticas, foram recentemente publicadas na imprensa. São parte de uma tendência que aos poucos parece se impor em todo o mundo, à medida que se torna mais conhecido o fenômeno das mudanças climáticas e suas consequências em médio e longo prazo sobre nossa civilização.
A primeira diz respeito ao aumento do uso de energias renováveis. O estado de São Paulo ocupa o segundo lugar em número de conexões de microgeração, tendo aumentado o número de pontos de 106 em 2015, para 711 em 2016 – uma expansão de 670%. No país já são 4.955 pontos de energia solar e 39 de energia eólica. A microgeração de energia distribuída é a geração de eletricidade através de uma central geradora com potência instalada menor ou igual a 100 kW, utilizando fontes de energia renovável, como fotovoltaica, eólica, biomassa, entre outras. Se até há pouco tempo a energia solar fotovoltaica era vista apenas em filmes e reportagens, atualmente ela começa a se tornar comum, incentivada pela resolução 482/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), possibilitando a autogeração de eletricidade com posterior desconto na conta de luz. O Ministério das Minas e Energia prevê que até 2024, cerca de 700 mil consumidores residenciais e comerciais deverão utilizar pequenas unidades de energia fotovoltaica.
O aumento do uso das energias renováveis é positivo para o país. A maior parte da eletricidade no Brasil é gerada a partir de fontes renováveis, como a água, o vento e a biomassa. No entanto, apesar dos reservatórios das hidrelétricas voltarem a ter água, uma parte significativa de nossa eletricidade – cerca de 8% – ainda provém das termelétricas movidas a óleo ou carvão mineral. Diminuir cada vez mais a dependência de combustíveis fósseis, emissores de gases poluentes, ajudará o país a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
Outro fato positivo divulgado pela mídia é a assinatura de um acordo mundial, visando eliminar progressivamente as emissões dos HFCs (hidrofluorcarbonetos). Estes gases passaram a ser usados em sistemas de ar condicionado, refrigeradores e sistemas de refrigeração para substituir os gases CFC (clorofluorcarbonos), que destruíam a camada de ozônio da Terra. No entanto, descobriu-se que o HFC tem capacidade de captar calor 14.800 vezes superior ao dióxido de carbono (CO²), contribuindo bastante para o aquecimento da atmosfera.
Segundo o acordo, a Europa e os Estados Unidos, que dispõem das maiores quantidades de aparelhos e sistemas de refrigeração e ar condicionado, serão obrigados a reduzirem suas emissões deste gás em 10% até 2019 e 85% até 2036, tendo como base os níveis de emissão de 2001-2013. Os demais países, incluindo o Brasil, deverão começar a diminuir as emissões deste gás a partir de 2024. Segundo os cientistas, a redução do HFC na atmosfera poderá evitar o aumento de 0,5ºC na temperatura medial global até 2100.
Fatos como esses mostram que tanto local como globalmente está aumentando a conscientização em relação ao meio ambiente. Se muitas vezes, como no caso do Brasil, a motivação é econômica (a autogeração de eletricidade é mais barata), isto é um indicativo de que as tecnologias limpas tendem a tornar-se mais econômicas e deverão substituir aquelas mais poluentes.
(Imagens: pinturas de Edward Munch)

Divagando sobre o tempo

quarta-feira, 26 de outubro de 2016
"Do mesmo modo, o triste plantador de uma vinha hoje velha e enfezada acusa a ação do tempo, queixa-se repetidamente da sua geração e resmunga que os homens antigos, cheios de piedade, passavam uma vida fácil num pequeno campo, quando era menor a quantidade de terra que cabia a cada um: e não vê que tudo se enfraquece pouco a pouco e se dirige para o esquife, fatigado pelo decrépito tempo da idade."  -  Tito Lucrécio Caro  -  Da natureza

Platão falava “que tudo está se tornando, nada é”.
Lembro-me de quando era criança e passava férias na praia. Ao lado de nossa casa havia uma família de caiçaras, que morava em uma casa de madeira, um pouco melhor que um barraco. Pois bem, passou o tempo e alguns anos depois estas pessoas construíram uma casa de tijolos. Viveram lá por mais alguns anos. Depois morreu o patriarca da família e eles também se mudaram, vendendo a casa para veranistas de São Paulo.

Pergunto-me onde está aquela casa de madeira que primeiro conheci e como tudo foi se transformar em outra coisa, no mesmo espaço, mas completamente diferente habitado por outros indivíduos, com histórias completamente diferentes.

Como entender esta mudança?
É este processo de mudança completamente aleatório, sem qualquer vínculo com o passado? Em outras palavras, o que uma coisa – neste caso a casa de madeira, habitada por caiçaras, que lá viviam suas vidas – tem a ver com o que existe lá agora, a casa de tijolos, eventualmente visitada por pessoas em férias e vazia na maior parte do tempo fora da época de temporada?

Existe uma ordem de mudança nisto, ou seja, há uma maneira de, partindo do presente, fazermos uma idéia do passado? Talvez olhando o fato de certa maneira sim, com relação à substituição da casa de madeira pela de tijolos. O que não sabemos é porque esta mudança ocorreu – como saberemos o que levou os antigos habitantes construir uma casa de tijolos e depois vendê-la?

Isto nos leva a outra questão, muito antiga e não respondida ainda, mas tratada por inúmeros filósofos e físicos: o que é o fluxo do tempo? Penso que não há fluxo nenhum. O que ocorre são transformações na matéria; movimento no espaço, mudanças na aparência (quebra, envelhecimento, doença, destruição por substâncias ou organismos, por exemplo). Trata-se, essencialmente, de transformação da matéria, principalmente no nível atômico e subatômico (as menores partículas das quais é constituída a matéria).

Imagino que se fosse possível cessar completamente o movimento dos átomos, dos elétrons, fótons e todas as outras subpartículas, não haveria mais qualquer movimento na matéria, não ocorreriam mais interações e transformações e o que nós chamamos de fluxo do tempo pararia. Não havendo mais qualquer tipo de transformação na matéria, não há mais escoamento do tempo. Um universo congelado.

Mas, voltando ao exemplo inicial, da casa do caiçara transformada em casa de praia. A transformação das coisas ocorre porque na natureza (penso aqui nos fatores não-humanos) existem duas principais tendências: a entropia crescente, ou seja, a desagregação e perda de energia e organização, como afirma o segundo princípio da termodinâmica. A outra tendência, presente em todos os seres vivos, é a tendência de aumentar e manter a organização – a entropia decrescente. (Fica a pergunta se formações cristalinas podem ser incluídas nessa segunda tendência). Todos os seres vivos lutam contra a desagregação, representados pelo desgaste do organismo (gradual falência dos órgãos e demais sistemas de manutenção da vida) e doenças (ataques de outros seres vivos, como bactérias e fungos e não vivos, como os vírus).
(Imagens: pinturas de Gabriele Münter)

A ameaça da degradação dos solos

sábado, 22 de outubro de 2016
"Como poderão ver, tudo se constrói a partir do eixo de um condicional: se algo existe em vez de nada, então existem fatos que tornam possível a existência das coisas que existem. Este é o chamado condicional de base."  -  Markus Gabriel  -  O sentido da existência - Para um novo realismo ontológico

A destruição de solos férteis é um dos mais graves problemas a serem enfrentados pela maioria dos países. Assim como o efeito estufa, a poluição dos oceanos e a diminuição dos recursos hídricos, o desaparecimento de solos agricultáveis é mais um fator de preocupação com relação ao futuro da humanidade.
Atualmente cerca de 38% das terras do planeta são usadas para atividades agrícolas. No entanto, em grande parte dos países, principalmente as nações pobres, a agricultura tem sido feita de maneira insustentável, sem levar em conta o impacto da atividade sobre o meio ambiente e os demais recursos naturais, principalmente o solo. Assim, por exemplo, a falta de técnicas de combate à erosão, como o plantio em terraços, faz com que a chuva arraste parte da terra fértil, encharcada de adubos e defensivos agrícolas, para a parte mais baixa do terreno e dali para os riachos e córregos.
A eliminação da mata ciliar que vai beirando os cursos d’água, tendo para estes uma função protetora, faz com que parte da terra lavada pela chuva da área de plantio, acabe assoreando os rios e poluindo suas águas com excesso de fertilizantes e defensivos. Muitas vezes são destes mesmos rios que os agricultores vizinhos e cidades da região captam água para consumo humano. Ao mesmo tempo, não penetrando devidamente no solo, o lençol freático não é suficientemente abastecido com água, sofrendo queda constante e forçando os agricultores a buscarem água em profundidades cada vez maiores – fato que acontece na Índia e no Paquistão há alguns anos e que por fim secará o subsolo.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) a degradação do solo é definida como uma mudança na saúde da terra, com a diminuição da capacidade dos ecossistemas que se desenvolvem sobre este solo, de fornecerem bens e serviços. Esta mudança não se limita à disponibilidade de água; inclui presença ou não de microrganismos endógenos, composição balanceada de minerais e de matéria orgânica, acidez e aeração correta, entre outros fatores.
Nem todos os solos são naturalmente propícios à agricultura, há que corrigi-los. Da mesma forma, solos originalmente indicados para o plantio são desequilibrados por uma prática incorreta. Esta é a razão pela qual a atividade humana aumentou em 10 a 40 vezes a velocidade de ocorrência da erosão, em comparação às condições naturais. Aqui vale lembrar que a natureza leva em média 500 anos para repor 2,5 cm de solo fértil. A prática agrícola necessita em média de uma camada de 15 a 30 cm de solo e esgota 2,5 cm deste solo fértil a cada 25 anos. Com isso, os Estados Unidos estão perdendo solo 10 vezes mais rápido que a capacidade natural de reposição; a China e a Índia 30 a 40 vezes.
Uma das maiores preocupações da FAO é manter a produtividade dos solos, para que no futuro não ocorra uma queda na produção de alimentos. Desflorestamento, formação excessiva de pastos, técnicas agrícolas ultrapassadas, são os maiores responsáveis pela perda de solos férteis no Brasil. Num mundo que em 40 anos perdeu 30% de seus solos aráveis, nosso país ainda está em posição privilegiada, mas precisa aumentar os cuidados com a manutenção desse patrimônio natural. Fertilidade é um presente da natureza, que para ser recuperado demanda muito tempo e recursos.    
(Imagens: fotografias de August Sander)

Meio ambiente e eleições municipais

sábado, 15 de outubro de 2016
"A Fotografia não rememora o passado (não há nada de proustiano em uma foto). O efeito que ela produz em mim não é o de restituir o que abolido (pelo tempo, pela distância), mas o de atestar que o que vejo de fato existiu."  -  Roland Barthes  -  A câmara clara

Estamos a alguns dias das eleições municipais de 2016. A crise econômica e principalmente a nova legislação eleitoral, fez com que nesse ano as campanhas fossem mais modestas e menos ruidosas. Porém os temas tratados pelos candidatos continuam os de sempre: saúde, educação, transporte, segurança, emprego, entre os principais. Na maior parte das cidades o emprego e a saúde se tornaram prioritários, refletindo o desmonte da economia e a falta de recursos no governo federal. Infelizmente, entra eleição e sai eleição, dada a falta de uma infraestrutura básica, continuamos a nos preocupar com os mesmos velhos problemas. Ainda estamos longe de incorporar novas tecnologias e conhecimentos à gestão pública, como já fazem outras comunidades mundo afora. 
Basicamente são poucas as novidades em relação aos anos eleitorais anteriores, até mesmo na pouca importância que partidos e candidatos continuam dando à questão ambiental. Saneamento, serviço que parte considerável das cidades brasileiras não dispõe – cerca de 50% – continua sendo tema completamente ausente dos debates. A realidade é que as cidades de pequeno e médio porte não têm recursos suficientes para implantar sistemas de coleta e tratamento de esgoto. Dependem dos governos estaduais e de recursos federais que, todos sabem, estão escassos ou indisponíveis. Sendo assim, não se toca no assunto, já que a maior parte dos munícipes nem se preocupa com o assunto, não sabendo que os efluentes de sua casa são descarregados no rio onde muitos pescam aos domingos.
Os candidatos a prefeito de São Paulo vêm apresentando algumas idéias com relação ao meio ambiente, dado que no caso da maior cidade do país não é possível fugir do assunto. Mas todas, segundo os especialistas, são propostas genéricas, muitas delas inevitáveis, já que se destinam a cumprir a lei – no caso a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que em São Paulo passará a vigorar a partir de 2018. Outras sugestões dos candidatos incluem a criação de um maior número de parques, a educação ambiental nas escolas, a introdução dos LEDs na iluminação pública e colocação de placas fotovoltaicas no topo dos prédios. Realmente, nada de novo. O que os candidatos vêm esquecendo é a necessidade de implantar medidas para reduzir as emissões veiculares, como a volta do Controlar que, cedo ou tarde, terá que ser reativado. A questão das enchentes é outro problema que a cada ano, na época das chuvas, volta a afetar grande parte da população.

Enquanto a administração pública seja na figura do prefeito, dos vereadores e na própria burocracia administrativa, não houver incorporado a importância do meio ambiente e dos recursos naturais, nossas cidades continuarão sendo malcuidadas, feias e sujas. Se o planejamento urbano continuar a ser orientado apenas pelos interesses econômicos ou por políticas imediatistas, ainda enfrentaremos os mesmos problemas urbanos por décadas. O cidadão brasileiro, tendo testemunhado a corrupção e inépcia administrativa que vem sendo colocada a público nos últimos meses, está cansado de continuar empregando administradores públicos incompetentes, quando não criminosos. As idéias da modernidade precisam ser incorporadas à ideologia e à pratica da gestão pública brasileira.
(Imagens: fotografias de Koen Wessing)

Gestão urbana e meio ambiente

sábado, 8 de outubro de 2016
"Por que nós compreendemos mal a seleção natural e por que o criacionismo se sai tão bem em um ambiente fundamentalista cristão? A resposta é que a nossa mente tem uma inclinação natural para aceitar uma perspectiva criacionista. Afinal de contas, o criacionismo foi criado pela mente humana, enquanto que a evolução por seleção natural é um fato descoberto."  -  Bruce M. Hood  -  Supersentido

Nas campanhas dos candidatos para as eleições municipais chamará mais uma vez atenção o pouco destaque que terão as questões ambientais. Ao invés de incorporarem o assunto como tema transversal, os candidatos se limitarão a atacar os sintomas - as péssimas condições do transporte, a falta de parques, as enchentes, e outros males que nos afetam há décadas - ao invés de atacar as causas, trazendo a ecologia para a gestão das cidades.
Um dos maiores problemas nas médias e grandes cidades brasileiras, a questão da mobilidade da população, tomou proporções tais que se transformou em fator gerador de grandes impactos ambientais e de problemas de saúde pública. Historicamente, o transporte urbano sempre foi tratado de maneira simplista, sem planejamento de longo prazo. As soluções sempre foram as de mais fácil introdução; ampliar o uso do ônibus e do automóvel particular, demandando menos recursos e tempo de implantação e rendendo dividendos já nas eleições seguintes. Cidades como Londres, Moscou e Paris, iniciaram a construção de seus sistemas metroviários no final do século XIX e na primeira década do século XX, enquanto que no Brasil a primeira linha foi iniciada nos anos 1970, em São Paulo.
Os parques públicos, construídos na maioria das grandes cidades principalmente para servirem de área de lazer e contato com o verde para as classes trabalhadoras, também não fizeram parte do planejamento das nossas administrações municipais. O problema é nítido nas periferias das grandes cidades, onde o poder público raramente considerou o lazer de seus moradores; em sua maioria trabalhadores assalariados de baixa renda. A falta de parques e outros locais de lazer e cultura é um dos fatores que contribuem com a sensação de falta de perspectivas da população que mora nos bairros mais afastados. Iniciativas recentes como a utilização de escolas para tais atividades são ações paliativas.
Todo verão voltam as enchentes, que afetam a vida de centenas de milhares de cidadãos. Não se trata, evidentemente, de um fenômeno que só ocorre nas cidades brasileiras. Várias cidades da Europa e dos Estados Unidos são regularmente afetadas por enchentes, provocadas principalmente pelo degelo da primavera, aumentando o volume dos rios. No Brasil o problema sempre foi empurrado com a barriga, tratado como fato inevitável, "acidente da natureza" (desculpa cara a uma cultura ainda supersticiosa), deixando a população à sua própria sorte – coincidentemente sempre os mais pobres. Investimentos na previsão e na prevenção de catástrofes, salvo raras exceções em cidades onde já ocorreram tragédias, ainda são pouco priorizadas já que os afetados têm pouca força política e econômica.

De uma maneira geral os candidatos e seus partidos ainda não se deram conta de que muitas das mazelas de nossas cidades poderiam ser minoradas se o aspecto ambiental fosse considerado no planejamento urbano. Ao longo da história das cidades acumularam-se problemas, que deram origem a outros. A intervenção do poder público sempre foi pontual, o que pouco contribuiu para dar um novo direcionamento ao crescimento urbano e às atividades econômicas e sociais que se exercem na cidade. A situação chegou a tal ponto, que já não existe mais um conjunto de soluções que possam melhorar em pouco tempo a condição dos centros urbanos. O que podemos esperar é que um sequencia de boas administrações comece gradualmente a ordenar o caos que se instalou.
(Imagens: pinturas medievais)

Morte da fauna silvestre nas estradas

sábado, 1 de outubro de 2016

“Se acredito na vida após a morte? Não sei nem se acredito na vida antes da morte! Acho que acredito na morte durante a vida.” - Groucho Marx

As autoestradas brasileiras são responsáveis por um número considerável de mortes de animais silvestres. Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estadas (CBEE), da universidade de Lavras, cerca de 475 milhões de animais silvestres são mortos por atropelamento no país por ano. Os dados representam uma taxa média e foram obtidos de 14 estudos científicos realizados por diversas fontes. Só para efeito de comparação, segundo dados do governo alemão publicados em 2012 na revista Focus online, são atropelados em média na Alemanha 500 mil animais por ano. Este número também é bastante significativo, considerando que o país é 23 vezes menor que o Brasil e tem um sistema rodoviário e de controle ambiental bastante organizado. Nos Estados Unidos, segundo dados publicados pelo jornal New York Times em 2010, são mortos um milhão de animais por dia, entre pássaros, répteis, mamíferos e anfíbios.
De uma maneira geral, os atropelamentos de animais se devem a alguns fatores comuns às diversas regiões. Diminuição das áreas de vegetação original, incêndios, seca, redução de alimentos, caça e extração ilegal de madeira; são fatores que fazem com que os animais se desloquem para salvar a vida e procurar alimentos em outro lugar. Nessa viagem, às vezes percorrendo dezenas de quilômetros, acabam chegando às autoestradas e, ao tentar atravessá-las, são atropelados e muitas vezes provocam acidentes graves.
Há casos como aqueles relatados em reportagem recente no jornal O Estado de São Paulo. Anhanguera, uma suçuarana macho jovem, recebeu este apelido por ter sido atropelada na rodovia com o mesmo nome. Acolhido em um centro de recuperação, recobrou a saúde e depois de um ano foi solto na Serra do Japi, na região de Jundiaí. Depois de um ano, o mesmo animal foi novamente atropelado e morto na rodovia Bandeirantes, que passa perto da serra. Destino semelhante teve um lobo guará, encontrado desorientado na região de Campinas. Solto novamente, se deslocou para uma área que pegou fogo, sendo atropelado enquanto fugia das chamas.
Segundo o especialista que coordena uma das unidades de recolhimento destes animais, existem dúvidas em relação ao elevado número de animais mortos, segundo as estatísticas. O que acontece, no entanto, é que somente 1% do número total de animais mortos é de grande portes. Os pequenos praticamente desaparecem prensados no asfalto ou são consumidos pelos urubus e carcarás. Isto quando não são imediatamente atirados para fora da pista, vindo a morrer em algum barranco da estrada.

Uma das soluções apresentadas para diminuir esta matança de animais silvestres é a aprovação do Projeto de Lei 466/2015, apresentado pelo deputado Ricardo Izar (PSD-SP), que tramita em regime de urgência na Câmara. O projeto cria regras para construção de estradas, coleta de dados sobre fluxos de animais e implantação de medidas que facilitem o movimento da fauna através das regiões, entre outras providências. O PL foi elaborado em conjunto com entidades ambientalistas e especialistas no assunto.
Enquanto o marco legal não é aprovado, os processos de licenciamento das rodovias estão exigindo providências, que possam reduzir os casos de atropelamento, principalmente nas regiões mais sujeitas a este tipo de acidente. É o mínimo que se pode fazer para preservar espécies animais muitas vezes ameaçadas.
(Imagens: Projetos da arquiteta Lina Bo Bardi)