Baía da Guanabara e rio Tietê: saneamento avança devagar

sábado, 31 de outubro de 2015
"'Sertão' é termo usado já por Caminha, denotando o vasto e desconhecido interior da colônia, longe do mar. A partir do século XV, com a expansão, a palavra (antes empregada para designar áreas situadas em Portugal mas distantes de Lisboa) passou a nomear espaços sobre os quais pouco ou nada se sabe."  -  Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling  -  Brasil: uma biografia  

Apesar de terem se desenvolvido de maneiras diferentes, as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo têm problemas semelhantes na área do saneamento. A poluição de seus principais recursos hídricos - a baía da Guanabara e o rio Tietê - contribui para que as cidades percam em atratividade turística e qualidade de vida para seus moradores.
O Rio de Janeiro sempre foi alvo de visitantes, desde os tempos do Descobrimento. Foram os portugueses que estabeleceram a primeira feitoria na baía da Guanabara em 1504, a fim de explorar o pau-brasil. A fundação da cidade ocorreu em 1565 por Estácio de Sá, principalmente como reação aos franceses, que também já havia se estabelecido na região. As águas calmas e relativamente abrigadas da baía, rapidamente transformaram a cidade em uma das principais metrópoles da colônia portuguesa, junto com Recife e Salvador. Transformada em capital da colônia em 1763 e capital do império português em 1808, com a mudança da casa real portuguesa para o Brasil devido às Guerra Napoleônicas, a cidade do Rio de Janeiro foi por longo tempo a mais importante cidade do Brasil. Centro político, administrativo, comercial e financeiro do império e da Primeira República até 1930, a cidade tinha 275 mil habitantes em 1872, passando para 812 mil em 1900; 2,4 milhões em 1950 e 5,8 milhões de habitantes em 2000.
O crescimento da metrópole, no entanto, não foi acompanhado por obras de saneamento. Ao longo da história da cidade, a maior parte de seus efluentes e dos municípios vizinhos caía nos 55 rios que deságuam na baía. Atualmente, os esgotos de 10 milhões de pessoas e de 12 mil indústrias - cerca de 18.400 litros por segundo - são descarregados na Baía da Guanabara. Nos últimos 20 anos o governo estadual investiu 10 bilhões de reais e precisará alocar outros R$ 20 bilhões para em 20 anos sanear a baía e seus rios. Segundo o governador Pezão, até as Olimpíadas (2016) cerca de 40% do volume do esgoto que deságua na baía, gerado por 16 municípios da região metropolitana carioca, serão tratados. 
São Paulo foi pouco populosa durante a maior parte de sua história. Sem relevância econômica ou política, a cidade via grande parte de seus habitantes partirem em expedições para o interior à procura de riquezas minerais e escravos índios. Outra parte da população vivia em chácaras e sítios nos arredores da cidade e só vinha ao núcleo urbano, onde possuíam casa, em dias de festa religiosa. A cidade começou efetivamente a crescer em tamanho e número de habitantes a partir da segunda metade do século XIX, impulsionada pelo desenvolvimento econômico trazido pelo café. Assim em 1872 São Paulo tinha 31 mil habitantes, em 1900 240 mil; 2,2 milhões em 1950 e 10,4 milhões em 2000.
Os efluentes da crescente metrópole eram descarregados em córregos que sucessivamente acabavam desaguando no rio Tietê. A poluição do rio começou a se tornar mais aguda a partir dos anos 1930, com o aumento da população e da atividade industrial em sua bacia. O projeto de limpeza do Tietê teve início em 1992 e até 2015 foram investidos 3,6 bilhões de dólares. Em 35 municípios, que com São Paulo formam a bacia do Alto Tietê, 84% dos esgotos são coletados e 70% têm tratamento. Apesar da meta de universalizar o saneamento básico no estado de São Paulo até 2020, não há certeza de que até lá o rio estará limpo.
(Imagens: pinturas de August Macke)

"Política e Educação", de Paulo Freire

sábado, 24 de outubro de 2015
"Enquanto nos gabinetes de Brasília decisões sobre o controle dos agrotóxicos são postergadas, ingredientes químicos proibidos no exterior são pulverizados sobre os vegetais nas lavouras do país."  -  Jornal Folha de São Paulo de 4/10/2015

No prefácio, Paulo Freire declara que se preocupa em não tomar uma posição dogmática em relação à realidade política e à prática pedagógica. Fala da importância da ação política, do aprendizado através da constante curiosidade. Nestes tempos pós-modernos, a educação é prática indispensável aos seres humanos, inseridos no contexto da história. O objetivo de Freire é provocar uma compreensão crítica da história e da educação.
Educação permanente e as cidades educativas
Novamente neste artigo, Freire aborda a questão da educação como um processo permanente na vida. Neste contexto, o pensamento pós-moderno rompe com todas as verdades dogmáticas da pedagogia e “se funda numa prática educativa crescentemente desocultoradora de verdades. Verdade cuja ocultação interessa às classes dominantes da sociedade” (pags.17 e 18). 17 e 18). O processo educacional é uma constante na vida do homem. Por se saber finito e inconcluso, o ser humano tem em si o impulso para entender e aprender. A Cidade educativa no fundo “somos nós e nós somos a Cidade” (pag.23). 23), com nossos sonhos de uma política voltada para o bem da comunidade, através da educação. Mas o conceito passa também pelos edifícios públicos, a maneira como a Cidade é tratada pelos governantes, a superação dos preconceitos, da fome e o fomento da tolerância. 
Educação de adultos hoje
O conceito de educação de adultos transformou-se atualmente em educação popular, incorporando a alfabetização e a profissionalização. Todavia, é preciso que o conteúdo daquilo que vai se ensinar tenha a ver com a cotidianidade dos diversos tipos de alunos. Por outro lado, os educadores descobriram que a educação de adultos também é processo permanente de refletir a militância. A Educação Popular deve ser a facilitadora da compreensão científica que grupos e movimentos podem e devem ter acerca de suas experiências. Fator importante da Educação Popular é a leitura crítica do mundo. No fim do texto, Freire afirma: “é possível vida sem sonho, mas não existência humana e História sem sonho” (pag.30). 30).
Anotações sobre unidade na diversidade
Neste texto, Freire constata que existem a) diferenças de classe, raça, gênero e de nações; b) essas diferenças geram ideologias, de um lado discriminatórias, de outro de resistência; c) é impossível compreender as diferenças sem analisar as ideologias e a relação destas com o poder e a fraqueza; e d) é impossível de pensar em uma forma de superação da opressão, da discriminação e da passividade sem uma compreensão crítica da História e seus projetos político-pedagógicos. 
Uma interpretação histórica que visa manter a situação, o status-quo inalterado é o que enxerga o futuro como pré-dado, como destino. No entanto, a História, segundo Freire, é tempo de possibilidades e não de determinação. Pensar a História como possibilidade é pensar a educação também como possibilidade.
Qualidade e educação
A partir do título de um evento, “Educação e qualidade”, Freire desenvolve três outros temas: educação para qualidade, qualidade da educação e educação e qualidade de vida. Freire parte do pressuposto de que não existe educação apolítica, descompromissada, neutra. Ao afirmar isto, os educadores devem explicar aos seus educandos que existem outras posições políticas e visões de mundo que não as suas e que os educandos podem e devem ter seus próprios sonhos, diferentes daqueles dos educadores. Nesta situação os educadores devem Ter uma posição ética e democrática, a fim de poder defender o direito de que seus educandos divirjam deles. Da mesma forma, a educação não é neutra, nem a valoração que se dá a ela.

Não importa em que tipo de qualidade se fale na educação, aquela é sempre uma questão de política, demandando uma decisão de materializá-la.
Alfabetização como elemento de formação da cidadania
A própria alfabetização já é um ato político, porém sempre de atuação limitada. Freire compara o processo de educação nas diversas fases da história brasileira: do fim dos anos cinqüenta ao começo dos anos sessenta e o período militar. A prática é diferente a as experiências não podem ser transplantadas – podem ser reinventadas.
Freire fala das diferenças de classes, suas características e a função do educador como contribuinte no processo de esclarecimento das classes mais exploradas. Cita o caso onde uma educadora interferiu favoravelmente, ajudando o desenvolvimento de uma menina marginalizada. Freire comenta que a escola, apesar de servir basicamente aos interesses das classes dominantes, tem como tarefa revelar as contradições do mundo as classes oprimidas, apontando possibilidades de superação da situação, através da ação de educadores conscientes.
Freire também menciona diversos educadores que tiveram contato com a cultura popular em diversas situações, e revela a dificuldade destes em adaptar-se à cultura popular, já que estavam imbuídos de conceitos teóricos.     
Do direito de criticar – do dever de não mentir ao criticar
Pode-se criticar, mas não usar a mentira para reforçar nossa crítica. Da mesma maneira, é preciso aprendera aceitar críticas honestas e saber que atuando no mundo estamos sujeitos a críticas. Geralmente, em qualquer crítica que fazemos, devemos conhecer o assunto que criticamos.
O educador deve Ter muito cuidado ao proferir suas críticas na presença dos educandos, de modo a não influenciá-los negativamente.
Educação e participação comunitária
A prática educativa é uma prática social, histórica e condicionada por diversos fatos. Todavia, dada sua evolução biológica e social, o homem é uma espécie “programada para aprender”. A educação implica: a) a presença do educador e do educando; b) objetivos; e c) métodos, processos, técnicas de ensino, materiais didáticos.
A educação deve ser organizada de tal modo a possibilitar com que os grupos populares efetivamente obtenham acesso à educação. Para alcançar este estado é necessário fomentar a participação popular através de mecanismos políticos.
Ninguém nasce feito: é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos
Paulo Freire conta neste artigo sua trajetória pessoal. Desde sua infância de menino de classe média em Recife, na década de 20 (do século XX), sua convivência com colegas pobres, seus estudos e leituras, até sua primeira aula como professor. Relembra sua atuação no SESI (Serviços Social da Indústria) à frente de diversos projetos que lhe proporcionaram muito aprendizado. Revela como desenvolveu o “método Paulo Freire”, que é, na realidade, “a compreensão dialética da educação, vivamente preocupada com o processo de conhecer, em que educadores e educandos devem assumir o papel crítico de sujeitos cognoscentes”.  86). Depois Freire narra sua prática como coordenador do Programa Nacional de Alfabetização, abolido pelo golpe de 1964. Depois disso, o exílio e as viagens e palestras, durante 16 anos.
Educação e responsabilidade 
Em qualquer ambiente de trabalho precisamos ter nossos direitos respeitados, bem como cumprir nossos deveres. A educação deve levar responsabilidade, ultrapassando o antagonismo ainda hoje existente entre educação libertadora e responsável e a prática educadora autoritária, antidemocrática e domesticadora. A educação tem como tarefa principal a prática libertadora e progressista, todavia sempre direcionada pela ética que “vem das entranhas mesmas do fenômeno humano, da natureza humana, constituindo-se História, como vocação para o ser mais”.
Escola pública e educação popular
A principal questão colocada neste artigo é se é possível fazer educação popular na rede pública ou, colocado de outra forma, afirmativa: e educação popular pode realizar-se apenas no espaço informal na prática político-pedagógica fora da escola, nos movimentos populares.
Toda a prática educativa está sujeita a limitações: ideológicas, epistemológicas, políticas econômicas e culturais. Todavia, a tarefa dos educadores é a desocultação das verdades, ou seja, apresentar as verdades e a distorção de fatos que trabalham a favor dos interesses dominantes. Por outro lado, os grupos dominantes não assistirão passivos a denúncia de seus estratagemas de poder, e exercerão uma pressão sobre os educadores conscientes.
Tanto a direita quanto a esquerda conservadora não tem interesse em promover o avanço educacional das classes populares. Muitos setores da esquerda preferem influenciar o povo através de propaganda política, ao invés do conhecimento, capacitando-o a analisar a realidade.
Em seguida, Freire conta um pouco de sua experiência como Secretário da Educação, em São Paulo, durante a administração da prefeita Luiza Erundina (1989-1992). Durante sua administração Freire procurou implantar um sistema de ensino mais democrático, voltado as necessidades da massa do povo.
Universidade católica – reflexões em torno de suas tarefas
Freire discorre sobre a diferença que há entre um teólogo conservador e um teólogo progressista (à época ainda se falava em “teologia da libertação”). O teólogo progressista, não importa se vivendo no Nordeste ou em Boston, teria visão parecida. Da mesma forma o teólogo conservador teria a mesma visão, não importando onde vivesse. A diferença básica entre as duas visões é a maneira diferente de enxergar o ser humano, criando uma dicotomia entre “espiritualidade” e “mundanidade”.

Um dos principais atributos da universidade católica, segundo Paulo Freire, é a afirmação da tolerância, em todos os sentidos. Esta tolerância deve-se concretizar nas pesquisas, na docência, nas relações entre os diversos departamentos. Em suma, a universidade católica deve ser aberta a diferentes ideologias, religiões (ou até à ausência desta), à ciência, ao progresso da tecnologia e outros. A universidade deve preservar a liberdade dos educadores na sua prática docente.
(Imagens: pinturas de Lee Eggstein)

Extinção em massa

sábado, 17 de outubro de 2015
"El mas importante encuentro de mi vida: Bach. Después, Dostoyevski; luego, los escépticos griegos, después Buda... luego, pero qué importa lo que venga luego...  -  E. M. Cioran  -  Cuadernos 1957-1972

Não sabemos ao certo quantas espécies existem na Terra. A estimativa mais recente, divulgada em 2011 pelo Instituto Censo da Vida Marinha (Census of Marine Life - http://www.coml.org/), informa que o planeta tem 8,7 milhões de espécies vivas; 6,5 milhões vivendo na Terra e 2,2 milhões habitando os oceanos. A pesquisa, segundo o Instituto, pode ter uma margem de erro de 1,3 milhões de espécies para mais ou para menos. Estes dados não incluem seres vivos que não possuem núcleo celular, como as bactéria e os vírus, cujo número de espécies pode exceder o dos outros seres vivos. As espécies vivas efetivamente conhecidas e catalogadas giram em torno de 1,2 milhões. Assim, mais de sete milhões de tipos de seres vivos continuam desconhecidos e ainda não foram estudados.
O estudo de novas espécies acrescenta mais conhecimentos sobre a diversidade da vida no planeta e sua evolução. Copiando formas e propriedades da natureza através da engenharia biomimética, indústrias desenvolvem novos materiais e produtos. A medicina descobre novas drogas e a pesquisa agrícola aprofunda seu conhecimento sobre solos, novas espécies de plantas cultiváveis e técnicas de plantio. Por isso é importante a proteção da biodiversidade do planeta.
Nos últimos 500 milhões de anos a vida do planeta foi afetada por diversos cataclismos que causaram grande mortandade entre as espécies vivas. Estes acontecimentos, que podiam se estender por milhões de anos, foram chamados de extinções em massa - quando ecossistemas são totalmente destruídos ou afetados de tal maneira, que a vida já não é mais possível. A ciência conta cinco grandes extinções; sendo a maior delas a extinção do período Permiano, há cerca de 250 milhões de anos, que eliminou 95% de todas as espécies marinhas e 70% das terrestres. A outra extinção em massa importante - especialmente para nós, mamíferos - foi a extinção do Cretáceo-Paleógeno, ocorrida há 65 milhões de anos, exterminando 60% de toda a vida, incluindo todas os tipos de dinossauros, espécie dominante que foi substituída pelos mamíferos.
Fala-se hoje de uma sexta extinção, causada pelo homem, que começou há cerca de 50 mil anos, quando nossa espécie passou a ocupar novas regiões. Indícios do rápido desaparecimento de espécies, associadas à chegada do homo sapiens, são encontrados na Europa,  Austrália e Américas. Com a disseminação da prática da agricultura, há nove mil anos, o processo se acelerou cada vez mais, aumentando com a industrialização. Somos hoje uma civilização planetária, abrigando 7,5 bilhões de pessoas, explorando todos os recursos disponíveis, à custa da sobrevivência das outras espécies. Segundo estudo da universidade de Stanford, desaparecem anualmente entre 11 e 58 mil espécies (o número é uma estimativa em função do número de espécies existentes); outras tiveram suas populações reduzidas em até 30% nos últimos quarenta anos. Cálculos estimam que cerca de cinco mil espécies estão sendo dizimadas a cada ano nas florestas tropicais.
O empobrecimento destes ecossistemas torna-os mais vulneráveis aos fenômenos climáticos e a todo tipo de pragas. Apesar disso, continuamos mantendo nosso sistema de exploração dos recursos, ignorando tudo aquilo que para nós não tem uso imediato. Essa ignorância pode nos custar caro; podemos estar destruindo nossas possibilidades de sobrevivência.
(Imagens: pinturas de Ludwig Meidner) 

Cinco séculos de relações brasileiras e alemãs

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

"Um estudo do Departamento Estadual do Trabalho, em 1912, abrangendo 33 indústrias têxteis - 31 da capital, uma de Santos e outra de São Bernardo - concluiu que, de um total de 10.204 operários, apenas 1.843, ou 18%, eram brasileiros. Os italianos constituíam-se em 59% do total, 8% eram portugueses, e o restante de outras nacionalidades."  -  Roberto Pompeu de Toledo  -  A capital da vertigem - Uma história de São Paulo de 1900 a 1954

A Alemanha é o maior parceiro do Brasil na área de projetos de preservação ambiental. Desde o início desta cooperação em 1963, a Alemanha já disponibilizou mais de 1,5 bilhões de euros em recursos investidos em centenas de projetos.  
O interesse dos alemães pelo Brasil e suas riquezas naturais vem desde o início do século XIX. Com a abertura dos portos do Brasil às nações amigas e a vinda da família real portuguesa ao Rio de Janeiro (1808), o País começou a ser visitado por expedições científicas de várias nações. Os pesquisadores alemães, em especial, deram grandes contribuições para o estudo da fauna, flora e da cultura indígena. Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852), por exemplo, chegou a reunir uma coleção de 1.600 espécies de borboletas. O naturalista e etnólogo Friedrich Sellow (1789-1831) membro da expedição do príncipe renano Maximiliano zu Wied-Neuwied (1782-1867), além de suas pesquisas em botânica, foi o autor do primeiro guia para imigrantes. Johann Baptiste von Spix (1781-1826) e Carl Friedrich Phillip von Martius (1794-1868) participaram de uma missão que viajou pelo interior do Brasil de 1817 a 1820 e rendeu a coleta de mais de 9 mil espécies de plantas e animais, que formaram a base da coleção do Museu de História Natural de Munique. Martius também pesquisou a cultura indígena e a flora local, tendo escrito uma das maiores obras de botânica jamais publicada, a Flora brasiliensis. 
Os programas de cooperação entre o Brasil e a Alemanha concentram-se atualmente em dois temas principais: a proteção do clima e da biodiversidade. Os programas de cooperação são financiados principalmente pelo Ministério da Cooperação da Alemanha (BMZ) e atuam em dois segmentos principais: a) a proteção e o manejo sustentável da floresta amazônica e b) a difusão das energias renováveis e da eficiência energética. Com referência à floresta amazônica, os programas se concretizam através de ações em três principais frentes: 1) Áreas de proteção e manejo de recursos sustentáveis; 2) Demarcação e proteção sustentável de áreas indígenas; e 3) Ordenamento territorial, desenvolvimento regional e gestão ambiental. Em relação à questão energética, o programa de fomento é colocado em prática através do financiamento de projetos de geração de energia renovável ou eficiência energética, incluindo transferência de tecnologia e treinamento de mão de obra. Os programas são implantados através da colaboração de governos, universidades, instituições públicas ou privadas e ONGs, em estreita cooperação com as agências executoras alemãs atuantes no Brasil: a GIZ (cooperação técnica); a  KfW (financiamento público) e DEG (financiamento privado). 
Ao longo dos últimos trinta anos a cooperação ambiental entre o Brasil e a Alemanha já apoiou diversos projetos de importância, tais como: o Projeto Áreas Protegidas da Amazônia – ARPA; projetos de proteção e preservação da Mata Atlântica com diversas secretarias estaduais de meio ambiente; projetos de gestão de resíduos e áreas contaminadas em parceria com agências ambientais estaduais; projetos de energia renovável, entre muitos outros. Além disso, a Alemanha foi também o maior contribuinte no programa para a Proteção das Florestas Tropicais (PPG-7 1993-2009), tendo aportado mais de 300 milhões de euros em recursos.
A rede das Câmaras de Indústria e Comércio Brasil-Alemanha (AHK) congrega mais de 1,7 mil empresas privadas de capital ou tecnologia alemã em todo o Brasil. Apoiadas pelo Ministério da Economia e Tecnologia da Alemanha (BMWi) as Câmaras promovem a cooperação entre empresas e instituições privadas alemãs e brasileiras, nos diferentes segmentos do setor de meio ambiente e energia renovável. Através de diversas iniciativas de marketing – eventos, publicações, estudos de mercado, delegações – esta instituição contribui no aumento da cooperação entre os setores privados dos dois países.
Através de outros ministérios, como o Ministério para Educação e Pesquisa (BMBF), o Ministério do Meio Ambiente (BMU) e de instituições como o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), a Alemanha mantêm uma série de programas de transferência de tecnologia, pesquisa e capacitação com instituições brasileiras na área de meio ambiente e de energia. Alguns destes programas contam também com a participação de outros países da América Latina.
A colaboração entre a Alemanha e o Brasil nos setores de meio ambiente e energias renováveis já tem trazido muitos resultados. A ação das agências e empresas alemãs, em colaboração com instituições, empresas e ONGs locais, tem proporcionado a incorporação de know how e vem permitindo a realização de projetos em diversas regiões do País. Muitas destas iniciativas como, por exemplo, a colocação de painéis fotovoltaicos em estádios de futebol tem efeito multiplicador na divulgação destas tecnologias. Assim, através da colaboração entre os dois países, poderão ser economizados recursos naturais importantes, necessários para o futuro da humanidade.
(Imagens: pinturas de Conrad Felixmüller)

Eficiência energética no Brasil

sábado, 10 de outubro de 2015
"Buda exortou-nos a usar a nossa consciência para compreender que não somos uma parte da natureza, que todos somos a natureza."  -  Jennifer Michael Hecht  -  Dúvida, uma história

Historicamente a eficiência energética é tema recente no Brasil, já que até por volta de 1990 o país sempre produzia mais eletricidade do que consumia. Em 2001, quando o país passou por uma crise de abastecimento de eletricidade - também por falta de chuvas - foi dado início às primeiras ações de eficiência energética e apoio às energias renováveis. Nos últimos anos pouco foi feito para fomentar o uso mais eficiente da energia elétrica. Apenas acidentes de percurso, como o aumento dos custos de eletricidade devido ao baixo nível dos reservatórios e à falta de planejamento no setor, levaram o consumidor e as empresas a adotarem algumas medidas de economia.
No entanto, o desperdício de eletricidade ainda é muito grande na economia brasileira. Apenas 67% da energia elétrica gerada chega ao consumo, já que os restantes 37% são perdidos durante a longa transmissão. Os setores que mais consomem energia são: as indústrias (48%); residências (22%); comércio (14%); setor público (8%); agropecuária (4%) e outros (4%). Segundo a EPE (Empresa de Pesquisa Energética do Ministério das Minas e Energia), os setores com maior potencial de redução são o industrial, o comércio e o setor público.
Quanto à energia elétrica, atualmente o país se vê diante da seguinte situação: A) É preciso estabelecer uma estratégia para garantir a segurança energética, já que não existem mais grandes áreas para a construção de hidrelétricas, além da reação dos ambientalistas a este tipo de projeto. A energia nuclear é cara, demorada, além de ter muitos opositores no país. B) O grande potencial das energias renováveis (solar, eólica, biomassa) começa apenas agora a ser explorado e ainda é uma contribuição pequena na matriz elétrica. Além disso, este tipo de energia só poderá atender parte da demanda; C) O consumo de energia só tenderá a aumentar, já que a crise é passageira e a economia voltará a crescer, reativando o consumo e, consequentemente, o comércio e a indústria.
É preciso, concluem empresários e governo, implantar medidas de eficiência energética, já que o custo de geração deste insumo não deverá cair mais - pelo menos nos próximos anos. O Ministério das Minas e Energia já traçou alguns planos para o uso mais eficiente da eletricidade em colaboração com o Conselho Nacional da Indústria (CNI) e apoio financeiro do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). As medidas, no entanto, pouco efeito tiveram na redução do consumo de eletricidade no país. A EPE estima que em 2023 a energia conservada será de 54.222 GWh (gigawatt/hora), ou 6,5% do consumo total do país. Todavia, até o momento não existe um plano detalhado de como alcançar esta economia.



O país também passa por uma crise de eletricidade. Não porque não tenhamos condições de gerar mais energia, ao contrário; o Brasil é um dos países com maior potencial energético. O que nos falta é uma efetiva ordenação e planejamento do setor, estabelecendo objetivos para a geração e para a economia de eletricidade. Deste modo, o atual momento de crise deveria ser aproveitado para avaliar e reestruturar o setor energético em bases mais modernas, preparando o país para as novas fases de crescimento que estão por vir. É preciso que também neste setor o país incorpore tecnologias mais modernas e eficientes, que possam poupar recursos naturais e propiciar vida melhor aos brasileiros.
(Imagens: pinturas de Hermann Max Pechstein)

Produção de carne e redução do CO²

sábado, 3 de outubro de 2015
"Afastamento, publicidade e uniformidade são modos de ser do 'a gente' e constituem aquilo que conhecemos como 'massificação e mediocridade' (die Öffentlichkeit). A massificação e a mediocridade controlam de imediato cada maneira pela qual o mundo e o ser-aí são interpretados."  -  Martin Heidegger  -  Todos nós... ninguém

O Brasil, devido a sua extensão territorial e clima propício, é talhado para o agronegócio. Não é por outra razão que quase 50% das vendas internacionais brasileiras são de produtos deste setor. Especialistas preveem que nos próximos anos, com o aumento da população mundial e do consumo de carne, o Brasil terá um papel cada vez mais importante na produção deste alimento para o mundo.
A carne bovina é e continuará sendo por muito tempo a mais importante fonte de proteínas para a humanidade. O aumento do padrão econômico de milhões de pessoas faz com que o consumo de carne continue crescendo, haja vista o que vem ocorrendo na China e entre a classe média ascendente, de religião islâmica, na Índia. Com o aumento da demanda, o Brasil expandiu em 727% suas exportações de carne entre 2000 e 2014, o que representou um salto de 779 milhões de dólares para 6,4 bilhões de dólares.
No entanto, não somos os únicos fornecedores de carne no mercado mundial e com certeza a competição com países como os Estados Unidos, Argentina, Canadá e Austrália poderá, no futuro, ser cheia de surpresas. Guerra de preços, barreiras não alfandegárias, cotas, entre outros, podem ser problemas com os quais nosso setor agropecuário poderá se defrontar, nos próximos cinco a dez anos.
Para evitarmos incorrer em uma guerra de preços com nossos concorrentes, precisamos aumentar a nossa produtividade. Segundo o jornalista Marcelo Leite, do jornal Folha de São Paulo, a pecuária bovina tem baixíssima densidade, alocando menos de 100 cabeças por quilômetro quadrado (km²), o que faz com que a atividade ocupe 2,2 milhões de km², dos quais 700 mil km² na Amazônia. Esta ocupação se dá à custa da derrubada da floresta nativa. Mesmo assim, nossa pecuária é muito ineficiente. Com 211 milhões de cabeças - o maior rebanho do mundo - produzimos 9,1 milhões de toneladas de carne, enquanto que os Estados Unidos, com 88 milhões de reses, produziram 11,7 milhões de toneladas.    
Outro aspecto negativo, que poderá gerar barreiras comerciais à nossa carne e aos seu derivados, é a grande emissão de metano, durante o processo de digestão de bois e vacas. O metano, como sabemos, é um dos gases de efeito estufa, responsável pelo aquecimento da atmosfera e das mudanças do clima. Os 115 milhões de toneladas de gás carbônico emitido por nosso rebanho, é equivalente à poluição produzida por uma frota de 115 milhões de veículos 1.0, rodando cada um 20 mil quilômetros por ano. Uma quantidade imensa de gás poluente.
Uma possível solução é apresentada pela Universidade Federal de Minas Gerais, em associação com a ONG Aliança da Terra e pesquisadores americanos. Constatou-se que com uma melhor alimentação e em confinamento, o gado cresceria mais rápido, chegaria mais cedo ao tempo de abate e assim ficaria menos tempo no pasto, ruminando e arrotado o gás metano.


A solução significaria um grande avanço, pois liberaria terras para a necessária expansão da agricultura, reduzindo o desmatamento, além de colocar o Brasil entre os países empenhados na redução de emissões - fato que terá um papel cada vez mais relevante nas relações comerciais internacionais. Assim, não seria surpresa se no futuro certos países estabelecessem barreiras e cotas para a carne e derivados, produzidos por nações não preocupadas com a redução de dióxido de carbono gerado pela sua agropecuária.
(Imagens: cenas do filme "O gabinete do Dr. Caligari" (1919)