Wanda Pimentel (1943-2019)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023



 Conheça mais sobre a vida e obra da artista no link 

GUIA DAS ARTES abaixo:


https://www.guiadasartes.com.br/wanda-pimentel/biografia


Leituras diárias

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023


 

“De acordo com os fundamentos do marxismo, o homem é um agente que intervém no mundo para transformá-lo conforme uma vontade consciente. Baseado nesses fundamentos, a fim de formular sistemas filosóficos e teorias capazes de subsidiar um projeto de revolução, Gramsci conferiu uma importância especial ao estudo das representações, das ideias, das formas de sensibilidade, dos preconceitos, das superstições, da consciência, dos projetos, das estratégias, das paixões, dos desejos — em suma, conferiu uma importância especial ao estudo da subjetividade, das superestruturas, das ideologias. A teoria da revolução deveria estar voltada, sobretudo, para a esfera da cultura, tendo em vista o desenvolvimento da consciência crítica das massas, porque no homem é que estariam concentradas as possibilidades cognitivas e emocionais para a sua libertação.

Ao estudar as teorias da história de Marx e Engels, bem como a revolução russa, Gramsci concluiu que não existe uma tática apropriada para todas as situações históricas. Em cada país, em cada época, os partidos comunistas deveriam formular um plano de ação específico, adequado para a realidade histórica e geograficamente determinada.” (Yamauti, pág 125)

 

Nilson Nobuaki Yamauti, Gramsci: os clássicos da teoria política revolucionária

Aparício Torelly (Barão de Itararé)

domingo, 26 de fevereiro de 2023


 

Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé (Rio Grande29 de janeiro de 1895 — Rio de Janeiro27 de novembro de 1971), foi um jornalistaescritor e pioneiro no humorismo político brasileiro.

Sua mãe, Maria Amélia, filha de um estadunidense descendente de russos, teve morte trágica, suicidou-se quando tinha 18 anos e ele 18 meses; seu pai, filho de um italiano com uma gaúcha, enviou-o a um internato jesuíta em São Leopoldo (RS). Apparício Torelly iniciou-se no humorismo em 1908 no jornalzinho "Capim Seco", do colégio onde estudava, satirizando a disciplina dos padres jesuítas de São Leopoldo.

Em 1918, durante suas férias, sofre um AVC quando andava na fazenda de um tio. Abandona o curso de Medicina no quarto ano e começa a escrever. Publica sonetos e artigos em jornais e revistas, como a “Revista Kodak”, "A Máscara" e "Maneca". Em 1925 entra para “O Globo” de Irineu Marinho. Com a morte de Irineu, Apporelly foi convidado por Mário Rodrigues (pai de Nelson Rodrigues) a ser colaborador do jornal “A Manhã”. 

Ainda em 1925, no mês de dezembro, Apparício Torelly estreava na primeira página com seus sonetos de humor que, geralmente, tinham como tema um político da época. Sua coluna humorística fez sucesso e também na primeira página, em 1926, começou a escrever a coluna "A Manhã tem mais…". Neste mesmo ano criou o semanário que viria a se tornar o maior e mais popular jornal de humor da história do Brasil. Bem ao seu estilo de paródias, o novo jornal da capital federal tinha o nome de “A Manha”, e usava a mesma tipologia do jornal em que Apparício trabalhava, sem o til, fazendo toda diferença, que era reforçada com a frase ladeando o título: "Quem não chora, não mama". Para estréia tão libertadora, Apporelly não perdeu a data de 13 de maio de 1926. “A Manha” logo virou independente.

Durante a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas partiu de trem rumo à capital federal, então o Rio de Janeiro, propagou-se pela imprensa que haveria uma batalha sangrenta em Itararé. Isto foi vastamente divulgado na imprensa. Apporelly não ficou de fora desta tendência. Esta batalha ocorreria entre as tropas fiéis a Washington Luís e as da Aliança Liberal que, sob o comando de Getúlio Vargas, vinham do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder. A cidade de Itararé fica na divisa de São Paulo com o Paraná, mas antes que houvesse a batalha "mais sangrenta da América do Sul", fizeram acordos. Uma junta governativa assumia o poder no Rio de Janeiro e não aconteceu nenhum conflito. Na verdade, em outubro de 1930, Apparício se autodeclarara “Duque” nas páginas de “A Manha”: Mas como ele próprio anunciara semanas depois, "como prova de modéstia, passei a Barão."

Na manhã de 19 de outubro de 1934, Apparício  saía de casa em Copacabana, no número 188 da rua Saint-Romain, rumo ao Centro, onde trabalhava, quando seu carro, um Chrysler, foi interceptado por dois veículos. Cinco homens, alguns deles armados, sequestraram o editor do Jornal do Povo.

"Tem família?", perguntou um dos sequestradores, já com os carros batendo em retirada. "Isso não vem ao caso", respondeu o sequestrado. "Nem é da conta dos senhores". "Escreva despedindo-se", continuou o sujeito. "É um favor que lhe prestamos". "Dispenso-o", retrucou a vítima.

Logo, Torelly descobriu que os homens que se diziam policiais eram, na verdade, oficiais da Marinha. Estavam indignados com a publicação de um folhetim sobre a Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro João Cândido (1880-1969), o Almirante Negro. Como Torelly se recusou a suspender a publicação, que denunciava os maus-tratos na Marinha, foi espancado.

Os sequestradores cortaram seus cabelos, furaram os pneus de seu carro e o abandonaram, quase nu, num local deserto. Na tarde daquele mesmo dia, uma sexta-feira, depois de voltar para a redação, Torelly pendurou, na porta de sua sala, uma placa com os dizeres: "Entre sem bater".

O jornal “A Manha” circulou até fins de 1935, quando o Barão foi preso por ligações com o Partido Comunista Brasileiro, então clandestino. Foi libertado em dezembro de 1936, já ostentando a volumosa barba que cultivaria por boa parte de sua vida. Retomou o jornal por um curto período, até que viesse nova interrupção, ao longo de todo o Estado Novo e voltando em edições espasmódicas até 1959.

No mês de novembro de 1935, uma parte da ANL sob a liderança do PCB iniciou em Natal, em Recife e no Rio de Janeiro uma insurreição armada, que acabou sufocada em pouco tempo pelas forças governamentais. Seguiu-se ao levante uma onda de repressão sobre os aliancistas e A Manha deixou de circular em 1936, com a prisão de Torelli, acusado de participação na rebelião. Após a instauração do Estado Novo (1937-1945) em novembro de 1937, Torelli foi companheiro de cela no presídio da rua Frei Caneca do escritor Graciliano Ramos, que o citou em seu livro “Memórias do cárcere”. Na ocasião Torelli declarou a Graciliano que havia adotado inicialmente o título de duque de Itararé, passando depois a barão “como prova de modéstia”.

Depois de libertado, foi delegado do Distrito Federal ao I Congresso Brasileiro de Escritores, que se realizou em São Paulo, promovido pela Associação Brasileira de Escritores, de 22 a 27 de janeiro de 1945. O congresso, que reuniu expressivo número de intelectuais de variadas tendências políticas e emitiu uma declaração em favor da democracia e das liberdades públicas, constituiu uma contundente tomada de posição contra o Estado Novo. Quando do decreto de anistia de 18 de abril de 1945, pelo qual foi beneficiado, Aparício Torelli declarou: “A anistia é um ato pelo qual os governos resolvem perdoar generosamente as injustiças e os crimes que eles mesmos cometeram.”

Recriou “A Manha” em 1946 e nessa nova fase o jornal contava entre seus colaboradores com Rubem Braga, José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda, Carlos Lacerda, Raul Lima e Pompeu de Sousa.

Torelli elegeu-se vereador pelo Distrito Federal, na legenda do PCB, nas eleições de janeiro de 1947. Com o cancelamento do registro do partido em maio de 1947 e a posterior cassação dos parlamentares comunistas em janeiro de 1948, perdeu o mandato. Nessa época colaborou no jornal “Para Todos”, quinzenário de cultura brasileira, dirigido por Jorge Amado, e lançou também o “Almanaque”. A “Manha” perdurou até 1957, quando Torelli deixou o jornalismo para se dedicar a viagens durante as quais fazia palestras.

Em 1963 visitou a República Popular da China como conferencista. Poucos anos depois, doente, passou a viver em seu apartamento no Rio de Janeiro, de onde raramente saía. Faleceu nessa mesma cidade em 27 de novembro de 1971.

 

Frases de Aparício Torelli (Barão de Itararé):

 

“Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.”;

De onde menos se espera, daí é que não sai nada.”;

Quem empresta, adeus.”;

Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.”;

Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.”;

Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.”.

 

 

(Fontes: Wikipedia; BBC News Brasil; FGV CPDOC; Revista BULA)

Clima e educação ambiental

sábado, 25 de fevereiro de 2023

 


"Quem refletiu muito sobre a eternidade, a morte, a vida, o tempo e o sofrimento, é impossível que tenha um sentimento definido, uma visão precisa e uma convicção determinada sobre todas essas coisas."   -   Emil Cioran   -   O livro das ilusões                

Assim como o aumento da criminalidade no Brasil, o assunto das mudanças climáticas tornou-se tema recorrente. Quase não há semana em que não apareçam na imprensa novos fatos, alertando sobre a gravidade do problema e a necessidade de se implantar medidas efetivas de redução das emissões de gases de efeito estufa. Mas, assim como no caso da criminalidade no Brasil, também no caso do clima, os países continuam atuando de maneira ineficiente, implantando soluções pontuais, sem atacar a origem do problema. No caso do Brasil, a criminalidade só será reduzida com a melhoria das condições sociais e econômicas de grande parte da população, o que implica a desconcentração das riquezas produzidas pela sociedade, em poder de poucos. A sociedade mundial, de maneira parecida, só chegará à gradual diminuição das emissões, quando reduzir o consumo de recursos naturais, atividade centralizada nos países desenvolvidos. O aumento da anomia social e da degradação climática (e biológica) são dois aspectos da concentração da renda, característica do sistema econômico capitalista.

Inócuo discutirmos aspectos da segurança pública no país, já que não conhecemos o assunto de maneira aprofundada. Nas mídias estão disponíveis casos concretos de todos os tipos, depoimentos de pessoas que atuam na área, e estudos de especialistas apontando causas e medidas corretivas. Concentraremos nosso texto, portanto, no tema das mudanças climáticas.

Ao longo das últimas duas décadas, praticamente não houve ano em que não fossem constatados novos fenômenos atmosféricos relacionados ao clima – chuvas torrenciais, furacões, pesadas nevascas, secas prolongadas. O que se observa não é um simples aumento gradual da temperatura média da atmosfera do planeta (fato colocado em cheque pelos negacionistas climáticos no passado), mas a incidência cada vez maior de extremos climáticos: temperaturas e precipitações acima daquelas usuais no passado. O ano de 2023 já começou em condições climáticas excepcionais no inverno europeu, onde no dia 1/1/2023 a temperatura em Bilbao, na Espanha, atingiu os 25,1 graus Celsius; Dresden, na Alemanha teve 19,4 graus Celsius em 31/12/2022; e o norte da Dinamarca registrou 12,6 graus Celsius nos primeiros dias de janeiro. À mesma época, o leste dos Estados Unidos enfrentava uma das mais pesadas nevascas das últimas décadas, e a geralmente seca Califórnia era castigada por chuvas torrenciais, causando grandes inundações. No Brasil, chamam a atenção as violentas chuvas registradas no Litoral Norte do estado de São Paulo, onde no dia 19 de fevereiro a precipitação pluviométrica foi a mais intensa registrada há décadas - algumas fontes reportam que a chuva ocorrida na cidade de Bertioga em 24 horas, 683 mm, foi a mais alta já registrada no país. . 

Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), elaborado em dezembro de 2022, informa que em 2023 a temperatura global deverá ficar entre 1,08 graus e 1,32 graus Celsius acima da média do período pré-industrial, que sempre é utilizado como base para estas medições.. Segundo especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ligado à ONU, “mesmo limitando o aquecimento a uma alta de até 1,5 º C na temperatura (acima da média do período pré-industrial), ondas de calor, inundações e outros eventos extremos aumentarão de forma ‘sem precedentes’ em sua magnitude, frequência, localização ou época do ano em que ocorrem, adverte o IPCC.” - o que parece já estar ocorrendo. A taxa de aumento do nível do mar, segundo o órgão, dobrou desde 1993, subindo quase 10 mm desde janeiro de 2020, atingindo um recorde em 2020 – o qual, no entanto, tende a ser ultrapassado. Apenas dos últimos 36 meses (desde meados de 2019), o nível dos oceanos aumentou 10% em relação a todo o período desde o início das medições, iniciadas há 30 anos. As geleiras dos Alpes mostraram um derretimento recorde em 2022 e as da Groenlândia perderam volume significativo pelo 26º ano seguido.

Todos estes fenômenos climáticos também exercem um impacto negativo sobre as atividades humanas. O calor excessivo no verão do hemisfério Norte em 2022, fez com que tivessem que ser implantadas medidas de economia de energia na costa Oeste dos Estados Unidos. Fábricas na China, na região de Sichuan, suspenderam todas as atividades durante seis dias, devido ao racionamento de energia, comprometendo a fabricação de semicondutores exportados para todo o mundo. Estudo realizado pelo instituto americano Gallup para avaliar como a onda de calor afeta a vida das pessoas, constatou que “em média, a população global experimentou três vezes mais dias de calor extremo em 2020 do que em 2008, e o bem estar também diminuiu 6,5% neste período. Pesquisadores também descobriram que, como a crise climática está elevando ainda mais a temperatura, o bem estar global pode diminuir em mais de 17% até o final desta década.” (Site CNN Brasil 31/8/2022).

Além de causar mal estar, o aumento médio da temperatura do planeta também provocará problemas de saúde na população. Um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), alerta todos os países que até 2050 todas as crianças e adolescentes estarão expostos a ondas de calor cada vez mais frequentes, a maior parte delas morando nos países pobres – atualmente já são 560 milhões. Dada esta situação, governos federais, estaduais e municipais terão que ampliar investimentos em saneamento básico, serviços de saúde, vacinação, educação, higiene e nutrição. O aumento da temperatura fará com que aumentem, principalmente em nações pobres localizadas na zona tropical (a maioria), os casos de malária, dengue, febre amarela, doenças respiratórias e vasculares, infecções viróticas, etc.

Atualmente 55% da população mundial vivem em cidades – no Brasil são mais de 85% - e o deslocamento de populações do campo para cidade só tende a aumentar, principalmente nos países pobres, os mais afetados pelas mudanças do clima. No entanto é nas cidades, onde vive a maior parte da população, que as mudanças climáticas se farão sentir com mais força. O exemplo recente das chuvas torrenciais que caíram sobre as cidades de São Sebastião e Bertioga, em São Paulo, e os 140 municípios gaúchos em situação de emergência decretada em razão da estiagem, são um evidente exemplo disso. 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) órgão ligado à ONU, estima que a poluição do ar urbano seja responsável por 24% das mortes por doenças cardíacas, 25% das mortes por acidente vascular cerebral (AVC), 29% das mortes por câncer do pulmão e 43% das mortes por problemas respiratórios em geral. Estes números são mais reduzidos em cidades que dispõem de cobertura vegetal como arborização nas ruas, áreas verdes, amplos parques e pequenas reservas florestais, que contribuem para reduzir a poluição, principalmente a particulada, e diminuir a temperatura média do ar. Áreas verdes também são importantes sumidouros de água nos períodos de chuva, contribuindo para evitar enchentes. 

No entanto, este tipo de ordenamento urbano ocorre geralmente em cidades de pequeno e médio porte, onde a administração municipal dispõe de recursos financeiros e pessoal capacitado para implantar e manter medidas de proteção e manutenção do ambiente urbano. Outro aspecto importante é o grau de conscientização da população em relação à questão da preservação do ambiente. Cidadãos esclarecidos sobre seus direitos podem exercer uma influência positiva sobre administrações municipais – às vezes na forma de uma efetiva pressão popular –, para fazer com que estas cumpram com suas obrigações estabelecidas pela Constituição e por legislação específica. O papel do cidadão na melhoria da qualidade ambiental da vida na cidades é cada vez mais importante.

A conscientização da população, todavia, só é alcançada através de diversas ações de educação ambiental nas escolas e atividades junto à comunidade. Nesse quesito o poder público ainda deixa muito a desejar. Apesar de ter sido criada em 1999, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), que deveria estar presente em todos os níveis do ensino brasileiro, poucas vezes recebeu a devida importância dos governos nos diversos níveis. Com relação à educação ambiental nas escolas, basta consultar a internet e ver que é diminuto o número de artigos que discutem e analisam o tema. No site do Ministério do Meio Ambiente (que pouca atenção recebeu dos governos Temer e Bolsonaro, por sinal), encontra-se pouco material sobre o assunto; a maior parte ainda elaborada nos governos Lula. Em todos estes anos, desde 2010, a ação mais importante que conseguimos identificar nesta área, foi a criação da Campanha Junho Verde na Política Nacional da Educação Ambiental, sancionada em julho de 2022, estabelecendo que “poderes públicos foram encarregados de trazer o debate da conscientização ambiental junto a escolas, igrejas e comunidades (sic).” É como escreve o jornalista Aparício Torelli, o Barão de Itararé (1895-1971): "De onde menos se espera, daí é que não sai nada". Enfim, mais do mesmo, com os mesmos efeitos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) criada também no governo Lula em 2010 e que até agora também pouco avançou.

Em termos gerais, segundo as informações e os poucos dados disponíveis na internet, a educação ambiental nas escolas públicas é superficial. O setor do ensino particular parece dar mais atenção ao assunto, dependendo do tipo da escola e da região onde se situa. De modo geral, todavia, estudos realizados por diversos pesquisadores concluíram que o ensino da educação ambiental é superficial e pouco voltado para temas e atividades práticas, devido à falta de recursos materiais e humanos. Trecho de um estudo feito por estudantes do Centro Universitário Assis Gurgácz e apresentado no 7º Congresso Internacional de Educação em maio de 2019 diz o seguinte:

“(...) a falta de material didático que aborda a questão ambiental, faz com que seja fundamental a busca por outras metodologias e materiais que possam auxiliar na sala de aula. A falta de interesse por parte da comunidade em geral e também pelos órgãos públicos é notável, nem mesmo a comunidade participativa da escola, como pais, professores, alunos, e vizinhos colaboram com projetos socioambientais quando raramente são realizados. Coisas simples como coleta de resíduos, descarte adequado dos dejetos e troca de informações sobre a ecologia, são geralmente ignorados e colocados de lado, representando a falta do conhecimento da vida e da preservação da mesma.” (Bragagnollo, Guedes e Oliveira).

É exatamente a educação ambiental, tão valorizada nos países desenvolvidos, atraindo cada vez mais o interesse dos jovens – estes os mais preocupados com os rumos da questão ambiental no planeta –, que no Brasil é tratada com desdém, e às vezes até com desprezo, como o fizeram muitos representantes do governo Bolsonaro e continua fazendo parte significativa dos políticos e empresários. As melhores iniciativas de educação ambiental no país devem-se a grupos organizados, como: ONGs, associações de bairro, escolas, grupos de interesse, algumas poucas prefeituras, empresas, e muitos voluntários de boa vontade.

Infelizmente evoluímos (ou involuímos?) para uma situação na qual, por diversos motivos, o interesse e o cuidado com o meio ambiente, a natureza, os recursos naturais, diminuiu bastante ao longo dos últimos dez anos. O entusiasmo com as primeiras reuniões das Conferências da ONU sobre Mudanças Climáticas (Conference of Parts – COP) arrefeceu consideravelmente ao longo dos últimos anos. As diversas promessas feitas em acordos, principalmente pelos países ricos, não foram cumpridas em parte ou em sua totalidade. Crises econômicas, conflitos regionais e interesses estratégicos, eram os motivos alegados para que planos estabelecidos não avançassem. Diversas práticas de gestão ambiental em empresas, implantadas principalmente nas indústrias transnacionais mundo afora (ISO 14000, Triple bottom line, a recente ESG, etc.), muitas vezes não passam de “greenwashing”; uma maneira enganosa de apresentar a empresa ou um produto como ambientalmente correto, quando não é. No Brasil, a crise econômica que teve início em 2014 também foi responsável pela interrupção de diversas iniciativas ambientais; tanto na área privada quanto pública. Como se diz por aí: “Quando o caixa está no vermelho, o verde perde o interesse”.

O capitalismo financeiro visa o ganho máximo para acionistas e diretores (vejam-se os casos recentes das lojas Americanas e da Light). O empreendimento, a empresa, é um meio para multiplicar os lucros, o que faz com que as preocupações com o impacto ambiental das atividades e o bem estar dos funcionários, sejam colocadas em segundo plano (casos Vale e Samarco, em Minas Gerais).

Se a humanidade não conseguir reverter o processo de aquecimento global, as condições de vida sobre o planeta se tornarão cada vez mais difíceis, tanto para nossa espécie e para todas as outras. Algumas sofrerão mais e, provavelmente, desaparecerão mais rápido, como já vem ocorrendo. Outras espécies, incluindo a nossa, os sapiens, dotados de uma resiliência maior devido a fatores naturais e, no nosso caso, culturais, continuarão existindo sobre o planeta em condições cada vez mais precárias. Calor e frio intensos, escassez de água, de alimentos, de energia, de necessidades básicas. A decadência será gradual, mas inexorável. Por isso é preciso mudar nossa maneira de viver, principalmente através de uma nova educação baseada em novas premissas, em novos valores, que levem em consideração a preservação dos recursos naturais, com a mudança de nosso modo de produzir e consumir.



(Imagens: pinturas de Gabriele Münter) 

Vantagens da leitura

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

 


(Fonte: Blog Livraria 3:16)

O dreno financeiro do Brasil (buraco negro financeiro)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

LEIA ARTIGO DO ECONOMISTA LADISLAW DOWBOR: "DRENO FINANCEIRO QUE PARALISA O PAÍS: A FARSA DO DÉFICIT".

ENTENDA POR QUE O DINHEIRO QUE FALTA PARA MUITOS, É DRENADO PARA POUCOS, COMO NUM BURACO NEGRO. VEJA NO LINK ABAIXO:

https://dowbor.org/2023/02/o-dreno-financeiro-que-paralisa-o-pais-a-farsa-do-deficit.html

 


Rock and Roll Queen - Mott The Hoople

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

 As melhores músicas do rock 


Mott The Hoople 

Album: Mott The Hoople (1969)

Música: Rock and Roll Queen




https://www.youtube.com/watch?v=dNYGpPdguko


Mott the Hoople foi uma banda inglesa de glam rock de Herefordshire dos anos 70, e que tinha também forte influência de R&B. Eles são conhecidos pela canção "All The Young Dudes", escrita para eles por seu fã, David Bowie. A canção foi utilizada recentemente no filme "Juno" e também utilizada no jogo Guitar Hero: Aerosmith. Um de seus integrantes, o guitarrista e compositor Mick Ralphs, viria a formar ao lado de Paul Rodgers e Simon Kirk, ambos da banda de blues rock Free, o Bad Company em 1974, uma das mais influentes bandas dos anos 70 com grande aceitação no mercado fonográfico americano.

O Mott the Hoople que teve seu debut com Mott The Hoople(1969), teve sua fase mais popular com os discos All The Young Dudes (1972), Mott (1973) e The Hoople (1974). Sua melhor fase contava com Ian Hunter(vocal, guitarra e piano), Mick Ralphs(guitarra, vocal), Pete "Overend" Watts(baixo), Verden Allen(órgão) e Dale "Buffin" Griffin(bateria). Não desmerecendo os discos de intensidade densa Mad Shadows(1970) e Wildlife(1971), este último seguia influências da música Folk, com passagens acústicas, mantendo um clima mais melancólico e introspectivo, não menos significativo em sua carreira. Na atualidade, o vocalista do Def LeppardJoe Elliott, formou uma banda chamada Down 'n' Outz, feita especialmente para tocar covers do Mott the Hoople e da carreira de Ian Hunter solo.

 

(Fonte do texto: Wikipedia)

Gerson de Azeredo Coutinho (1900-1967)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

 


Conheça mais sobre a vida e obra do artista no link GUIA DAS ARTES abaixo:

Leituras diárias

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023


 

“Na concepção de Lobato, o Brasil era vítima de uma indolência atávica. Acompanhando os estudos sobre a formação nacional, que ganhavam grande impulso na época e estão na base da consciência sobre o Brasil moderno. Lobato transitou de um enfoque naturalista desta indolência, atribuída a fatores raciais e climáticos, ao enfoque sociológico que passou a predominar nos anos 1930, deslocando sua causação para fatores ligados à organização material da sociedade. Nosso autor voltou-se sucessivamente, assim, para o combate das queimadas, depois das endemias do sertão (impaludismo, amarelão, mal de Chagas, etc.). O infame Jeca Tatu foi sendo, passo a passo, historicizado, sua condição atrelada à forma de organização da sociedade em lugar de a uma preguiça supostamente inata e mórbida. Já nos anos 1930, Lobato – sempre à busca de soluções espetaculares – resolve que ferro e petróleo, ícones da energia norte-americana, seriam o antídoto infalível contra nossa indolência, não agora natural, mas histórica.” (Frias Filho, pág. 80)

 

Otavio Frias Filho, Seleção Natural – Ensaios de cultura e política


Daniel Piza (1970-2011)

domingo, 19 de fevereiro de 2023

 



Daniel Luiz de Toledo Piza (São Paulo28 de março de 1970 — Gonçalves30 de dezembro de 2011) foi um jornalistaescritor e crítico de artes plásticas brasileiro.

Estudou Direito na Universidade de São Paulo. Começou sua carreira de jornalista em “O Estado de S. Paulo” (1991-92), onde foi repórter do “Caderno2” e editor-assistente do “Cultura”. Trabalhou em seguida na “Folha de S. Paulo” (1992-95), como redator, repórter e editor-assistente da “Ilustrada”, cobrindo especialmente as áreas de livros e artes plásticas. Foi editor do caderno de cultura da Gazeta Mercantil e atou como comentarista esportivo na Rede CBN. Em maio de 2000, retornou ao “Estadão” como editor-executivo e colunista cultural. Colaborou regularmente para as revistas “Bravo!”, “Continente Multicultural e Classe”, entre outras publicações. Traduziu seis livros, entre eles: Benito Cereno, de Herman Melville (1993); A máquina do tempo, de H. G. Wells (1994), e A arte da ficção, de Henry James (1995). Foi organizador de seis livros: Waaal – o dicionário da corte, de Paulo Francis; O Teatro das Idéias, de Bernard Shaw (1996); Cinco mulheres, de Lima Barreto, Trechos de Os sertões, de Euclides da Cunha (1997). A vida como performance, de Kenneth Tynan (2004), Dentro da baleia - ensaios, de George Orwell (2005)

Daniel era casado com a também jornalista Renata Piza, e pai de três filhos.

Daniel Piza escreveu os livros: As Senhoritas de Nova York - Descoberta de Pablo Picasso (1996); Questão de Gosto - Ensaios e Resenhas (2000); Mundois (2001); Ora, Bolas - Da Copa de 98 ao Penta (2002);  Leituras do Brasil (2003); Jornalismo Cultural (2003); Ayrton Senna (2003); Academia Brasileira de Letras - Histórias e Revelações (2003); Paulo Francis - Brasil na Cabeça (2003); Perfis & Entrevistas (2004); Mistérios da Literatura - Poe, Machado, Conrad e Kafka (2005); Machado de Assis - Um Gênio Brasileiro (2005); Contemporâneo de Mim –Dez Anos da Coluna Sinopse (2006); Aforismos sem Juízo (2006); Noites Urbanas (2010); Amazônia de Euclides (2010); Dez Anos que Encolheram o Mundo (2011).

 

Frases de Daniel Piza:

 

Liberdade não se dá. Liberdade se tem.”;

É preciso distinguir os que nadam contra a corrente e os que nadam na corrente do contra.”;

Uma cultura deixa de ser cultura quando podemos resumi-la.”;

O tédio mais deletério não é o de não fazer nada. É o de fazer o que não se quer.”;

Se eu fosse escolher um símbolo para o século XX, não seria o cinema, a TV, o carro, as guerras ou qualquer outro; seria a praia. Pessoas em trajes exíguos bronzeando-se na areia e banhando-se no mar é um hábito realmente novo.”;

Pouca gente nota que o pop, a cultura midiática que tem marcado este século, tem suas raízes em gêneros menores do século passado, misturando opereta, melodrama, circo, banda, etc. Em versão industrial (cinema, TV, gravadoras), esses gêneros adquiriram uma presença cultural muito maior, enriquecendo o reino da mediocridade.”. 

 

 

(Fontes consultadas: Wikipedia; Site Editora Contexto; Tiro de Letra; Site Pensador; Livro Questão de Gosto – Ensaios e resenhas)

Fyodor Mikhailovich Dostoevsky (1821-1881)

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Leia obras do escritor russo Fyodor M. Dostoevsky, um dos maiores escritores da literatura universal.


 Baixe os livros no link Infolivros.org abaixo:

https://www.infolivros.org/autores/classicos/livros-fyodor-dostoyevsky/

Fome

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

 


(Fonte: Patria Latina)

Nunca mais!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023


 (Fonte: CONIC - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil)

Prologue - Renaissance

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

 As melhores músicas do rock


Renaissance

Album: Prologue (1972)

Música: Prologue 




https://www.youtube.com/watch?v=41H8smI0dJI&list=PL4D831F451F324FD8


Renaissance  é uma banda de rock progressivo do Reino Unido popular nos anos 1970. Considerada uma das melhores bandas progressivas nesse período ao lado de YesPink FloydGenesisCamelFocusEloy e Gentle Giant.

Os ex-membros da banda The Yardbirds Paul Samwell-SmithKeith Relf e Jim McCarty organizaram um novo grupo dedicado à experimentação entre rockmúsica folclórica e música erudita. Juntamente com o baixista Louis Cenammo, o pianista John Hawken e a vocalista Jane (irmã de Relf) lançaram dois álbuns com a Elektra Records e Island Records, mas logo se dissolveram, deixando McCarty para reformular uma nova formação para a banda, na qual entraram e saíram vários membros. Apesar disso, logo depois McCarty também deixou o grupo.

A nova formação, provavelmente a mais famosa na história da banda, consistia de Annie Haslam no vocal, Michael Dunford no violãoJohn Tout no piano, Jon Camp no baixo e vocal e Terry Sullivan na bateria. Lançaram Prologue em 1972, com músicas escritas por Dunford e McCarty e letras pela poetisa Betty Thatcher. Nos anos 1970 a banda teve uma carreira bem sucedida comercialmente. Influenciados pela música erudita, incluiam em suas canções referências a compositores como BachChopinAlbinoniDebussyRachmaninoffRimsky-Korsakov e Prokofiev, entre outros. De 1973 a 1977, eles lançaram 4 ótimos álbuns de estúdio e um ao vivo: Ashes are Burning (73), Turn of the Cards (74), Scheherazade and Other Stories (75), Live at Carnegie Hall (76) e Novella (77).

 

(Fonte do texto: Wikipedia)

 


Juros altos atrapalham o crescimento do país!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023



(Imagem: InfoMoney)

A alta taxa de juros atualmente em vigor no país, atrapalha o crescimento e pode causar uma grande recessão. Não temos inflação de demanda; não há consumo excessivo, ao contrário. Portanto, o Banco Central tem que baixar esta taxa.

Veja artigo do ICL Economia sobre a alta taxa de juros, abaixo: 

Rodolfo Amoedo (1857-1941)

 


Conheça mais sobre a vida e obra do artista no link GUIA DAS ARTES abaixo:

Leituras diárias

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

 



“E, segundo o grau de certeza, um sistema metafísico poderia decerto conceber-se como a síntese do conhecimento de uma época e, hoje, existe a tendência para o manter nesta forma. Mas, em primeiro lugar, semelhante síntese não garante a certeza de que a ação necessita e, por isso, uma tal metafísica é uma sombra insubstancial do que outrora a metafísica foi. Já não consegue levar a cabo a sua função, a saber, oferecer àqueles que se convenceram do caráter insustentável dos dogmas e ideais de vida religiosos uma posição firme para o sentimento vital e uma meta segura da ação. Talvez seja agradável aos eruditos reunir num sistema todo o conjunto do saber da sua época, mas receio que, para o indivíduo que olha as estrelas e pretende associar o valor da sua existência, a meta da sua ação, a este desconhecido, tal lhe surja como embuste escolar.” (Dilthey, pág. 19)

 

Wilhelm Dilthey, Teoria das concepções do mundo


José Condé (1917-1971)

domingo, 12 de fevereiro de 2023

 


José Ferreira Condé, conhecido por José Condé, nasceu na cidade de Caruaru, no agreste de Pernambuco, no dia 22 de outubro de 1917. Fez seus primeiros estudos em sua cidade natal. Em 1930, após a morte de seu pai, muda-se para Petrópolis, no Rio de Janeiro, levado por seu irmão Elísio Condé que então estudava medicina no Rio de Janeiro. Em Petrópolis matricula-se no internato do Colégio Plínio Leite, onde funda o Grêmio Literário Alberto de Oliveira e dirige dois pequenos jornais – “Pra Você” e o “Jaú”, no qual publica seu primeiro conto.

Em 1934 muda-se para o Rio de Janeiro, para fazer o vestibular de Direito. Nessa época publica o poema A Feira de Caruaru na revista “O Cruzeiro”. Ingressa na Faculdade de Direito de Niterói e ao mesmo tempo começa a fazer contato com as obras da moderna literatura nacional e escreve reportagens na imprensa. Em 1939, depois de formado, passa por diversos empregos, até ser nomeado para um cargo no Instituto dos Bancários, instituição aonde chega a atingir o cargo de procurador. Neste ano, formado em Direito, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde passa a trabalhar para diversos jornais, produzindo crônicas e outros textos de caráter literário. 

Caminhos na sombra, seu primeiro livro, foi publicado em 1945, com o selo da José Olympio Editora. Neste período trabalhou um tempo como colunista num jornal chamado “O Jornal” escrevendo crônicas com o pseudônimo de Mr. Chips. Em 1950 publica Onda Selvagem, um romance urbano, que recebeu o Prêmio Malheiro Dias no concurso da revista O Cruzeiro. Ainda nesse período, trabalharia no “Correio da Manhã”, assinando uma coluna sobre literatura chamada “Escritores e Livros”. Juntamente com os seus irmãos João e Elísio, funda em 1949 o “Jornal das Letras”.

Em 1951 publica no Jornal das Letras Histórias da Cidade Morta – pequenas narrativas de conteúdo dramático, passadas na cidade de Santa Rita, representando as cidades brasileiras que tiveram sua decadência com a abolição da escravatura. A obra recebeu o Prêmio Fábio Prado, da União Brasileira de Escritores de São Paulo. Em 1956 escreve Os Dias Antigos, novelas onde retoma ao tema da abolição da escravatura. Recebe o Prêmio Paula Brito da Prefeitura do Rio de Janeiro. Posteriormente, essas obras foram reunidas sob o título geral de Santa Rita.

A obra de José Condé retrata simultaneamente o regionalismo e o urbano, numa linha que caminha por diferentes estilos: o dramático, o fantástico, o épico e o pitoresco. Seus melhores momentos são no regionalismo. Em 1960 publica Terra de Caruaru, obra que ganhou o Prêmio Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras. Na obra, o autor faz um levantamento histórico e sociológico de sua terra, mostrando o modo de vida da cidade, as histórias do cangaço, os problemas da política local, casos dramáticos e pitorescos, seus tipos humanos, com seus dramas de amor, de vingança e solidão. Em 1961 a obra também foi editada em Portugal.

José Condé faleceu no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, no dia 27 de setembro de 1971.

Dentre as principais obras do escritor, estão: Caminhos na sombra (novelas, 1949); Onda selvagem (romance, 1950); Histórias da cidade morta (contos, 1951); Os dias antigos (novelas, 1955); Um ramo para Luísa (novela, 1959); Terra de Caruaru (romance, 1960); Santa Rita (Histórias da Cidade Morta e Os Dias Antigos em um só volume, 1961); Vento do amanhecer em Macambira (romance fragmentário,1962); Noite contra noite (romance, 1965); Pensão Riso da Noite: Rua das Mágoas (cerveja, sanfona e amor)(novelas, 1966); Como uma tarde em dezembro (romance, 1967); Tempo, vida, solidão (novelas, 1971); As chuvas (novelas, 1972).

 

Frase de José Condé:

Caruaru está dentro de mim e corre em minhas veias, diluída em ternura.”

 

(Fontes: eBiografia Dilva Frazão; Revista Continente; Revista Medium – Frank Junior; Wikipedia; Repositário UFPB – O caso José Condé – Tese de doutorado de Edson Tavares Costa)


DIA DE DARWIN


 (Fonte: CRBio-6)

Aniversário do nascimento de Charles Robert Darwin (12 de fevereiro de 1809)

O que nos diz um quadro

sábado, 11 de fevereiro de 2023

"Pelo que tenho visto da intuição, ela me parece ser o produto de um tipo de imparcialidade intelectual. Infelizmente, porém, as pessoas raramente são imparciais no que concerne às coisas supremas, aos grande problemas da ciência e da vida."   -   Sigmund Freud   -   Além do principio de prazer   


Recentemente, fazendo uma pesquisa na internet sobre pintores brasileiros dos séculos XIX e XX, me deparei com alguns quadros do pintor primitivista Emygdio Emiliano de Souza (1867-1949), nascido na histórica cidade de Itanhaém, no litoral Sul de São Paulo. O artista, que começou como autodidata, foi influenciado por seu contemporâneo Benedito Calixto (1853-1927), outro pintor itanhaense que se tornou famoso, retratando paisagens e cenas da história brasileira. Alfredo Volpi (1896-1988) pintor ítalo-brasileiro da segunda geração do modernismo, famoso por suas pinturas de bandeirinhas e casarios, frequentador de Itanhaém nos anos 1940, tornou-se amigo e admirador das obras de Emygdio. Este, para sobreviver, exerceu diversas profissões ao longo de sua vida; professor de escola primária, funcionário público e chefe da estação de trem da antiga Estrada de Ferro Sorocabana em Peruíbe, hoje cidade de Peruíbe, então subdistrito do município de Itanhaém. Artista versátil e criativo, Emygdio, além de pintor, também foi escritor, folclorista, autor de peças teatrais e compositor.

Em toda a produção do pintor, principalmente para quem conhece a região, chamam atenção os quadros retratando aspectos da cidade de Itanhaém, entre os anos 1920 e 1940, quando a cidade ainda era pequena e recebia poucos turistas – que chegavam à cidade pelos trens da Sorocabana, ferrovia desativada nos anos 1990. No entanto, o quadro que mais me interessou foi uma pintura que Emygdio executou ainda jovem, aos 19 anos, retratando a praça central da então freguesia de Peruíbe – o artista escreve “Peruhybe”, – datando de 1886. A obra retrata a praça matriz e sua pequena igreja com as casas do entorno. Desde este período, a igreja foi ampliada nos anos 1970, a praça sofreu várias remodelações (cerca de três entre os anos 1960 e 2000) e as casas do entorno foram substituídas por outras e por um pequeno edifício.

A cena do quadro retrata a festa junina de São João Batista, padroeiro de Peruíbe – a povoação, originariamente um aldeamento indígena do início do século XVI, recebeu o nome de São João Batista de Peruíbe, dado pelos jesuítas. Interessante olharmos a cópia do quadro (disponível na internet em https://www.guiadasartes.com.br/emidio-de-souza/quadros-do) e imaginar que a cena retrata uma festa de São João, que efetivamente ocorreu no dia 24 de junho de 1886, uma quinta-feira (fui verificar!), possivelmente ao final da tarde. Deve ter sido um dia com temperatura mais baixa do que a média, pois as pessoas estão vestindo roupas mais pesadas, incomuns para uma cidade litorânea (ou talvez roupas mais formais para um dia de festejos). Pode-se notar também a presença de personagens com instrumentos musicais, possivelmente uma pequena banda de música, e ao fundo outros indivíduos soltando fogos.

O jovem Emygdio provavelmente pegou seus apetrechos de pintura, colocou tudo em um cavalo ou numa charrete, e partiu de Itanhaém pela manhã, em direção sul, para o povoado de Peruíbe. A distância é de 25 quilômetros; percurso que deve ter sido feito pela praia em três horas a cavalo trotando. A ferrovia só chegaria 28 anos mais tarde, em 1914, e a rodovia somente na década de 1960, praticamente 80 anos depois daquela festa de São João retratada no quadro – coincidentemente o automóvel seria inventado naquele mesmo ano de 1886, na Alemanha. Hoje tudo para nós é história, mas nossos antepassados deste período nem imaginavam o que ocorria em outras partes do mundo.  

Numa perspectiva histórica, a situação do país e da região onde foi pintado o quadro é bastante distinta da atual. Em 1886 o Brasil ainda era uma monarquia escravista, cuja principal atividade econômica estava na agricultura do café, dominada por latifundiários; grupo social que detinha a hegemonia sobre a economia e a política do país. Antevendo a iminente abolição do sistema escravista, esta elite se organizava para substituir a mão de obra escravizada pela dos imigrantes europeus – notadamente italianos e espanhóis. Em 1888 seria abolida a escravidão e em 1889 proclamada a República; movimentos que representavam o surgimento de novos grupos sociais no quadro histórico do país. O país, apesar de seu imenso potencial e algumas iniciativas, como a do Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza, 1831-1889), praticamente não tinha qualquer indústria.

Em 1886 a vila de Peruíbe era uma freguesia, um subdistrito do município de Itanhaém, que ao norte fazia divisa com a também histórica cidade de São Vicente, e ao sul com a também antiga Iguape, fundada em 1538. No entanto, em um mapa da antiga província de São Paulo, elaborado pela “Sociedade Promotora de Immigração de São Paulo” em 1886, não aparece qualquer menção ao povoado de Peruíbe. (Disponível em:

https://www.novomilenio.inf.br/santos/mapa268g.htm).

Segundo dados históricos, antes da chegada dos portugueses à região por volta de 1535, já existiam ali aldeamentos indígenas. Peruíbe, em língua tupi-guarani quer dizer “rio do tubarão”, provavelmente devido à grande quantidade dessa espécie de peixe cartilaginoso encontrável nas águas marinhas desta região. São João Batista de Peruíbe (ou Peruhybe) começou como um ou vários aldeamento de indígenas do ramo tupiniquim, estabelecidos pelos padres jesuítas na terceira década do século XVI. Nos anos seguintes os religiosos, entre outros o português Leonardo Nunes (apelidado pelos índios de Abarêbebê, o padre voador) e o canariense José de Anchieta, visitaram regularmente a região, mantendo a organização e a prática religiosa nas aldeias. Existem indícios de que por esta época foi fundada uma ermida, em local hoje situado a aproximadamente sete quilômetros do centro da cidade. Na mesma área, no século XVIII, a ordem franciscana fundou uma igreja que em poucas décadas foi abandonada e da qual atualmente restam apenas ruínas, conhecidas como Ruínas do Abarêbebê. Estas são tidas erroneamente, por alguns, como datando da ocupação original, no século XVI. Depois, no século XIX, formou-se uma pequena aldeia de pescadores onde hoje está localizado o centro da cidade e a praça da matriz, retratada pelo pintor Emygdio Emiliano de Souza em seu quadro. Este núcleo urbano recente é que daria origem à atual cidade de Peruíbe.

Em 1914 chega a Peruíbe a linha férrea da Estrada de Ferro Sorocabana, ligando São Paulo – através de percurso pela então despovoada zona sul da cidade (atualmente os bairros de Santo Amaro, Cidade Dutra, Parelheiros, Marsillac) e passando por São Vicente e Itanhaém – a Juquiá, no Vale do Ribeira. A ferrovia trouxe certo progresso para a vila de Peruíbe, possibilitando acesso mais fácil à capital, apesar das oito horas de percurso para cobrir os cerca de 170 quilômetros, que então separavam o povoado da capital por via férrea (93 quilômetros em linha reta). O trem possibilitou o acesso a produtos antes indisponíveis, não tanto pela distância, mas muito mais pelo terreno acidentado; os rios, a floresta e a Serra do Mar. Fato surpreendente, aliás, mas explicável, é que esta região, relativamente perto de São Paulo, tenha ficado isolada por tanto tempo.

Em 1959 Peruíbe tornou-se município autônomo, emancipando-se de Itanhaém. No início dos anos 1960, com a expansão da rede rodoviária por todo o país promovida pelo governo Kubitschek, dá-se início à construção da estrada de acesso à cidade através de Itanhaém e à via de acesso à rodovia Regis Bittencourt, através do Vale do Ribeira. O acesso facilitou a vinda de turistas e novos moradores, fazendo com que da pequena vila de pouco mais de quatro mil habitantes nos anos 1920 e cerca de 15 mil moradores nos anos 1960, surgisse a cidade com quase 70 mil habitantes em 2022.

O passado da cidade, que pesquisado ainda poderia revelar aspectos interessantes e pouco conhecidos da história local e do país, desperta pouco interesse da maior parte de seus moradores e administradores.


(Imagens: pinturas de Emygdio Emiliano de Souza, retratando paisagens de Itanhaém)