Obra seminal "A origem das espécies" continua atual

sábado, 28 de dezembro de 2013
"Não os encorajo, como o filósofo que se vale do martelo, a destruir enfim, por último e heróico esforço, as últimas superstições que repousariam ainda nas ciências e na democracia. É a definição mesma do monstro, da barbárie, dos ídolos, do martelo e da ruptura, que é preciso ser novamente retomada. Nunca houve bárbaros; nós nunca fomos modernos, nem mesmo em sonho - sobretudo em sonho!"  -  Bruno Latour  -  Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches 

Em 2013 o livro A Origem das Espécies, com o qual o cientista Charles Robert Darwin lançou a teoria da evolução, completou 154 anos. Publicado inicialmente em Londres, em novembro de 1859, com o nome Sobre a origem das espécies através da seleção natural, ou a preservação de raças favorecidas na luta pela vida, o trabalho de Darwin representa um marco importantíssimo na Ciência.
A idéia da evolução no mundo natural é relativamente recente. Até o século XVIII poucas pessoas admitiam a possibilidade de que podiam ocorrer mudanças na natureza. Todavia, com o desenvolvimento de ramos da ciência como a geologia e a paleontologia, os cientistas foram percebendo que o mundo havia mudado bastante durante as sucessivas eras. As rochas e os fósseis traziam informações de uma Terra diferente, povoada por animais e plantas que não mais existiam. Por que os seres vivos se transformavam ao longo do tempo? Haveria algum elo entre as espécies atuais e aquelas encontradas nos fósseis? (Ou seriam apenas animais que Deus não colocou na Arca de Noé, como diziam alguns religiosos da época?) O que faltava era desenvolver uma teoria que explicasse como estas alterações ocorriam.
Charles Darwin nasceu em 1809, na Inglaterra. Iniciou estudos de medicina, que depois abandonou, tentando uma carreira eclesiástica que também não terminou. Interessado no estudo da biologia, participou de uma viagem exploratória do navio MS Beagle, que durou de 1831 até 1836 e que lhe deu a oportunidade de estudar várias espécies de animais e plantas de todo o mundo. Ao voltar, tendo reunido muito material, Darwin pesquisou e aprimorou sua teoria durante mais de 20 anos, até que a tornou pública através livro A origem das espécies, em 1859. A “teoria da evolução”, como foi chamada, tornou-se uma das mais sólidas explicações de certos fatos em toda a história da Ciência, tendo sido comprovada por várias outras descobertas feitas por muitos outros cientistas, ao longo dos últimos 150 anos.  
A teoria de Darwin diz que nenhum indivíduo de uma mesma espécie – sejam formigas, aves, ratos ou humanos – é igual ao outro. Sempre haverá uma mínima diferença entre um indivíduo e outro; fato confirmado pela moderna genética. Estas diferenças – mínimas mutações genéticas transmitidas aos descendentes – podem se acentuar e transformar os sucessores em uma espécie diferente, desde que ao longo das gerações consigam sobreviver em seu meio ambiente (que também pode mudar) e aos competidores. Isolamento geográfico parece ter sido um dos mais importantes fatores na formação de novas espécies.
As mutações que provocam a gradual diferença entre indivíduos da mesma espécie são, entretanto, completamente aleatórias; não são provocadas por nenhuma lei ou força ou propósito. Este é a parte revolucionária e perigosa do pensamento de Darwin: as espécies transformam-se ou desaparecem sem que haja por trás deste processo qualquer objetivo, qualquer programa pré-definido. A conclusão pode parecer estranha, mas é assim mesmo que a evolução funciona. O “projeto inteligente” (intelligent design), concepção segundo a qual haveria uma intenção (divina) por trás da evolução, não tem fundamento na história da evolução.  Ainda com relação a isso, Darwin evitava usar a expressão “evolução”, que dá idéia de melhoria, preferindo usar o termo “transmutação”.
Hoje, passados mais de 150 anos do lançamento da Evolução das Espécies, ainda existem opositores da teoria. Para a Ciência, todavia, a teoria já está bastante comprovada. Sem ela não seriam possíveis os grandes avanços na biologia, genética, medicina, ecologia e várias outras ciências.
(Imagens: fotografias de Otto Umbehr)             

A crise da metafísica e o pensamento pós-moderno

sábado, 21 de dezembro de 2013
"Se desejamos tirar conclusões filosóficas a respeito de nossa existência, nosso significado e o significado do Universo, as conclusões devem ser baseadas em conhecimento empírico. Ter uma mente realmente aberta significa forçar nossa imaginação a se conformar com a evidência da realidade, e não o contrário, quer gostemos, quer não das consequências."  -  Lawrence M. Krauss  - Um universo que veio do nada 

A crise da metafísica estende-se por um período na história da filosofia; mais especificamente quando esta disciplina tem os seus princípios criticados e, de uma forma efetiva, colocados em questão. O processo, todavia, não ocorre em curto espaço de tempo e não é causado por um só pensador.
No final do período medieval a filosofia tomista, desenvolvida por Tomás de Aquino (1225-1274) e dominante desde o século XIII até o século XVI, perde sua hegemonia e passa a ser abalada (este o destino de qualquer escola filosófica) em seus diversos aspectos. Um dos primeiros pensadores críticos da filosofia da Baixa Idade Média foi o inglês Roger Bacon (1210-1294). Para este franciscano, são três as fontes do saber: a autoridade, a razão e a experiência. Em suas obras, sempre deu ênfase ao empirismo e à matemática, tendo sido o primeiro pensador ocidental a empregar a expressão “leis da natureza”. John Duns Scotus (1265-1308) foi um dos primeiros críticos especificamente do pensamento tomista. Segundo Scotus as verdades da fé não poderiam ser compreendidas pela razão. Por esse motivo, defendia uma separação entre a filosofia e a teologia. Sua ênfase nos aspectos volitivos da fé contribuem para que gradualmente a razão perca sua força para demonstrar aspectos da religião, isto é, da metafísica. Guilherme de Ockham (1285-1347), discípulo de Scotus, dá o passo seguinte nessa crítica, enfatizando que o conhecimento empírico é superior ao intelectual.
Vemos neste movimento o desenvolvimento do experimentalismo inglês, cujos mais importantes representantes atuavam na Universidade de Oxford. A experiência torna-se cada vez mais importante, abrindo caminho para o empirismo e o enfraquecimento dos diversos conceitos metafísicos. Idéias como "Deus" e "alma", não sendo sensíveis, não poderiam ser cognoscíveis. Da mesma forma que não são experienciáveis as noções de "substância", derivadas da filosofia aristotélica e incorporadas no tomismo.  
No século XV e XVI aumenta a disponibilidade de traduções de textos da Antiguidade grega e romana, popularizando entre a elite letrada autores clássicos da filosofia, como Platão e Aristóteles, e textos de escolas do período do helenístico. Pensadores das escolas atomista, epicurista, cética, cínica, cirenaica e filósofos romanos; todos desconhecidos durante a maior parte da Idade Média, tornaram-se acessíveis aos humanistas da Europa renascentista. Grande parte destas escolas não se ocupava da metafísica, dando mais atenção à ética, à lógica e à física.
Outro aspecto da gradual erosão da metafísica clássica é o surgimento da ciência teórica e do método experimental no século XVI e XVII, com Leonardo da Vinci (1452-1519); Galileu Galilei (1564-1642); Francis Bacon (1561-1626) e René Descartes (1596-1650), entre seus principais teóricos. Descartes, filósofo francês, foi o introdutor da moderna filosofia (metafísica) e da moderna matemática aplicada aos experimentos científicos. Na Inglaterra, desde o final do século XIV, desenvolve-se uma corrente de pensamento com forte tendência empirista contrária à metafísica, estendendo-se de John Duns Scotus, Guilherme de Ockham, passando por Francis Bacon e Thomas Hobbes (1588-1679) até chegar a John Locke (1632-1704) e David Hume (1711-1776).
A metafísica antiga e medieval, desenvolvida por Aristóteles e mantida em grande parte inalterada pelos pensadores da Idade Média, baseava-se no pressuposto de que a realidade existe em si mesma e assim se apresenta ao pensamento, à razão. No século XVII, Descartes reformulou as bases da moderna filosofia e com isso criou a moderna metafísica ou metafísica clássica. Esta estava baseada na ideia de que a mente humana ou razão poderia conhecer a realidade através de raciocínios ou conceitos, que representando as coisas, as transformam em objetos de conhecimento. Em suma, a mente com o uso da razão poderia conhecer a realidade.  Descartes em sua obra Discurso sobre o método, estabeleceu que a razão humana pode apreender a realidade, baseada no fato de que um ser infinito (Deus) garantia a realidade e sua inteligibilidade.
Hume, tendo como base a teoria do conhecimento, argumenta que o pensamento atua fazendo a associação de sensações, percepções e impressões, recebidas pelos sentidos e guardadas na memória. Assim, continua Hume, as idéias nada mais são do que hábitos mentais que operam baseados em associações de impressões semelhantes e sucessivas. A própria noção de causalidade é negada, não passando de um hábito repetido diversas vezes por nossa mente e levando-nos à crença de que há uma causalidade real. 
A crítica de Hume foi devastadora. Com ela perdem valor todos os conceitos da metafísica – Deus, alma, infinito, mundo, céu, perfeição, etc. – já que não passam de constructos mentais e não tendo nenhuma realidade objetiva. As idéias do pensador inglês demoraram algumas décadas para serem amplamente divulgadas entre outros filósofos europeus, mas desde então a metafísica como existia desde os gregos não era mais possível.
O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), ao ler o Tratado da Natureza humana de Hume, afirmou que este o havia “despertado do sono dogmático”, isto é, de sua crença inquestionável na metafísica clássica. Com isso dá início a uma crítica da razão teórica, ou seja, um estudo para determinar o que a razão pode ou não efetivamente conhecer. O filósofo realiza uma verdadeira “revolução copernicana” na filosofia, estabelecendo que não é a realidade que determina nossa maneira de pensar, como Hume argumenta, mas que é nossa maneira de pensar que determina a realidade. Através das formas a priori de sensibilidade (aquelas que existem antes da experiência) e dos conceitos a priori do entendimento, Kant demonstra que existem dois tipos de realidade: a) aquela que apreendemos através dos nossos “filtros” apriorísticos, os chamados fenômenos e b) a que é inapreensível à experiência e que Kant chama de noumeno. Sendo este noumeno ou “coisa-em-si o objeto da metafísica, então esta não é possível. Segundo escreve Marilena Chauí sobre este assunto:
A idéia metafísica de um Deus é a idéia de um ser que não pode nos aparecer sob forma de espaço e tempo; de um ser ao qual a categoria de causalidade não se aplica; de um ser que, nunca tendo sido dado a nós, é posto, entretanto, como fundamento e princípio de toda a realidade e de toda a verdade. Assim, a idéia metafísica de Deus escapa de todas as condições de possibilidade do conhecimento humano e, portanto, a metafísica usa ilegitimamente essa idéia para afirma que Deus existe e para dizer o que ele é. Kant emprega uma argumentação semelhante para dois outros objetos da metafísica: a existência da alma ou substância pensante e a discussão da finitude ou infinitude do mundo.” (Chauí, p. 200).  
A partir de Kant a metafísica deixa de ser realista (a realidade pode ser conhecida pelos sentidos) para se tornar idealista, ou seja, “a realidade estruturada pelas idéias produzidas pelo sujeito” (Chauí, p. 201). A escola idealista terá como seu maior representante o filósofo alemão Georg W.F. Hegel (1770-1831) e ao longo do século XIX terá como opositora a escola de pensamento materialista (Karl Marx, Ludwig Feuerbach, Friedrich Nietzsche, entre outros).

Um dos principais aspectos da pós-modernidade é a morte da ideologia ou de qualquer metanarrativa, seja religiosa (cristianismo e sua explicação da história humana) ou política (o marxismo que pretendia estabelecer uma sociedade comunista). Os acontecimentos históricos dos últimos 70 anos mostraram à humanidade que a crença em constructos quase metafísicos como “o progresso”, “a humanidade”, “a revolução”, só trouxeram mais sofrimento e destruição ao invés do “paraíso terrestre”. As Guerras, a evolução da tecnologia, e a falência das grandes ideologias políticas, são fatos que ajudaram a formar nossa visão de mundo pós-moderno.
Os pensadores em sua maioria se convenceram de que os sistemas políticos, religiosos e filosóficos não podem mais apresentar uma explicação da realidade nem indicar os caminhos que a humanidade deve seguir. Não se formulam mais sistemas filosóficos; o que sobrou foi a pluralidade de idéias, opiniões e pequenas narrativas, sob a égide do debate democrático. As verdades não existem mais, “só interpretações”, como escreveu Nietzsche.
O pensamento pós-moderno é herdeiro filosófico de Nietzsche e de Heidegger. De Nietzsche o pensamento pós-moderno herdou a crítica a todo tipo de idealismo; filosófico, ideológico e científico. A frase “Deus está morto” sintetiza a falência de todos os fundacionismos e a impossibilidade do pensamento metafísico. Heidegger, em parte herdeiro de Nietzsche, ainda aprofunda mais esta crítica, colocando-a como fato dado. Ernildo Stein filósofo, discípulo e tradutor da obra de Heidegger para o português fala em uma entrevista:
Talvez convenha dizer que Heidegger finalmente, sem nehuma inibição, libertou o ser humano como ser no mundo de qualquer amarra metafísica, deixando como tarefa sua, a instauração da verdade. Heidegger declara que não há verdades absolutas ou literalmente ‘não há verdades eternas’. A verdade só existe porque o ser humano opera com ela” (IHU On-Line, s/d).
E referindo-se especificamente à pós-modernidade:
“Assim como vivemos a chamada pós-modernidade e nela identificamos a fragmentação de toda a unidade entre a ciência, arte e religião, assim temos que reconhecer que, se ainda procuramos razões que não sejam razões da ciência, essas não são mais razões ou fundamentos metafísicos. O pós-metafísico é um mundo sem fundamentos absolutos.(IHU-On-line, s/d – negrito nosso)
Referência
A escolástica pós-tomista. Disponível em:
A superação da metafísica e o fim das verdades eternas. Disponível em:
Chauí, Marilena. Convite à filosofia – 13ª edição. São Paulo. Editora Ática: 2006, 424 p.  
(Imagens: fotografias de Franco Pinna)

Mudanças climáticas: o que nos espera

sábado, 14 de dezembro de 2013
"Quando pensamos no imenso caminho percorrido pela evolução desde talvez três bilhões de anos, na prodigiosa riqueza das estruturas que ela criou, na miraculosa eficiência das performances dos seres vivos, da bactéria ao homem, podemo-nos surpreender a duvidar de que tudo isso seja o produto de uma enorme teoria, tirando ao acaso números entre os quais uma seleção cega designou raros ganhadores."  -  Jacques Monod  -  O acaso e a necessidade

Há um fato que deverá afetar cada vez mais todas as atividades humanas: o fenômeno das mudanças climáticas. Estas alterações no clima, das quais já se fala desde o final dos anos 1980 e mais enfaticamente desde meados da década passada, terão influência principalmente sobre a economia. Apesar de não se saber ainda exatamente o quanto as emissões de gases provocadas por nossas atividades influenciam a temperatura da Terra e com isso o clima, já existe uma certeza muito grande de que nossa civilização tem sua parcela de culpa. O mais recente relatório preparado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, divulgado em final de setembro, traz informações mais exatas e aprofundadas sobre como a humanidade está alterando o clima e com isso interferindo com os ecossistemas terrestres.
O blog da revista americana Scientific American apresenta um artigo que aborda alguns aspectos do novo relatório do IPCC. O texto, assinado pelo editor da revista, Mark Fischetti, diz resumidamente em sua introdução que ocorrerá um aumento global das temperaturas do planeta e uma elevação do nível dos oceanos. Estes são apenas os dois aspectos principais do que ocorrerá; apresentando mais detalhes, o autor chama a atenção para as demais consequências do fenômeno.
Temperatura. Caso ocorram esforços para reduzir drasticamente as emissões de CO² (dióxido de carbono, um dos principais gases causadores das mudanças climáticas) o aumento da temperatura da atmosfera terrestre poderá ser menor que 2º Celsius até 2100, comparados com medições realizadas entre 1986 e 2005. Caso os países continuem emitindo gases no ritmo atual, a temperatura média neste período poderá se elevar em até mais 4,8º C. A variação pode não parecer drástica, mas cientistas afirmam que já uma elevação média de mais 3º C poderá ter consequências catastróficas na agricultura, na disponibilidade de água e, no caso do Brasil, na geração de eletricidade.
Nível do mar. Neste cenário descrito acima, o nível do mar poderá aumentar entre 26 cm e 98 cm. Mesmo uma elevação intermediária de 50 cm já colocará em risco muitas ilhas e provocará danos consideráveis - além de deslocamento de populações para áreas mais altas - em dezenas de cidades em todo o mundo.
Furacões. Deverá aumentar a intensidade dos ciclones que anualmente assolam a região do Caribe, a América Central e região Sul dos Estados Unidos, além de fenômenos semelhantes em outras regiões do globo. Poderão se tornar mais constantes os ciclones no Atlântico Sul, afetando principalmente o litoral dos estados da região Sul, segundo cientistas.

As consequências destes acontecimentos ainda são incalculáveis já que imprevisíveis, apesar de prováveis. Os governos, as grandes empresas e outras instituições de importância já conhecem o problema e sabem que certos acontecimentos são inevitáveis. O que a humanidade pode fazer para diminuir o impacto dos fenômenos climáticos é prepara-se com obras de infraestrutura, além de desenvolver e aplicar tecnologias que provoquem menos emissões de gases poluentes. No caso do Brasil o país deveria reduzir mais ainda o desflorestamento da Amazônia e do Cerrado, diminuir as emissões provocadas pelo setor agropecuário, investir na matriz energética renovável e reduzir a poluição nas grandes cidades.
(Imagens: fotografias de Roman Vishniac)  

Black friday: o consumidor é vítima mais uma vez

sábado, 7 de dezembro de 2013
"Isso gera um quebra-cabeça extraordinário. No registro fóssil nada vemos, salvo micróbios, durante os primeiros 3,5 bilhões de anos da história da Terra. Então, de repente, no espaço de talvez 40 milhões de anos, aparecem todos os tipos de corpos: corpos de plantas, de fungos, de animais; corpos por todo lado."  -  Neil Shubin  -  A história de quando éramos peixes

O Brasil possui atualmente cerca de 100 milhões de consumidores de classe média – pelo menos é o que o governo anuncia e muitas agências de propaganda “chapa branca” repetem obedientemente. Este consumidor, no entanto, não pode ser comparado ao cidadão de classe média americano ou europeu, cujo poder aquisitivo, mesmo nas camadas mais baixas, é cerca de cinco vezes maior. Além do salário médio nos Estados Unidos e na Europa ser mais alto do que o brasileiro, lá o poder de compra do dinheiro é maior do que no Brasil.
Por aqui, além da alta carga tributária que incide sobre as mercadorias, o preço de fábrica do produto também é mais alto. Não é por outra razão que o Brasil é um dos mais lucrativos mercados para a indústria automobilística, a indústria de eletro-eletrônicos e bens de consumo em geral. Até serviços e produtos alimentícios são, muitas vezes, mais caros do que no exterior. O País é assim um dos mais promissores mercados para todo tipo de produto, já que reúne uma imensa massa de consumidores que, privados desse direito durante a maior parte de suas vidas, estão prontos a comprar qualquer novidade – mesmo a custa de sacrifícios. Por outro lado o governo, através de diversos artifícios fiscais, fez do consumo um dos pilares sobre os quais pretendeu apoiar o desenvolvimento. Pena que até agora tenha esquecido de que a produção e o consumo são atividades que não podem prescindir de cidadãos instruídos e de infraestrutura – estradas, portos, trens, saneamento, funcionários públicos treinados, menos burocracia e administradores públicos capazes e honestos.
Já que o governo quer apoiar o desenvolvimento econômico e social do país na duvidosa tese do consumismo, é preciso que pelo menos crie condições para que isto ocorra. Ou seja, o Estado deve fazer com que o comércio de produtos e serviços funcione de maneira correta, com justiça. No entanto, é neste aspecto que o sistema apresenta outro entrave, já que não é isto que acontece no Brasil. Além dos preços espoliativos e da baixa qualidade dos serviços (telefonia, internet, bancos, planos privados de saúde, transporte aéreo, eletricidade, entre outros) e produtos, os consumidores continuam com pouca proteção. Se o comerciante tem vários mecanismos para se proteger, o consumidor conta apenas com as agências governamentais; em grande parte manipuladas politicamente, cujos cargos servem de moeda de troca para quem está no governo. Basta lembrar a indolência das agências reguladoras em controlar e punir empresas e oligopólios que dominam a economia brasileira e não entregam pelo que foram pagos.  

Este tipo de situação atinge seu auge, mostrando claramente como funciona o comércio no Brasil, em datas como o “black friday”. Imitação tupiniquim de um grande evento de consumo que ocorre nos Estados Unidos, a “corrida às compras” por aqui se transformou em mais uma oportunidade de fazer o desprotegido consumidor de otário. A tática de aumentar os preços semanas antes, para depois baixá-los a título de liquidação, tão criticada em 2012, foi novamente prática corrente de grandes e pequenos comerciantes. A situação é tão vergonhosa para o comércio no Brasil, que foi até motivo de crítica e piada no exterior. Mas, pelo menos em uma coisa estamos inovando: somos o único país cujo comércio faz a promoção “Tudo pela metade do dobro”!   
(Imagens: fotografias de Ansel Adams) 

O Brasil está preparado para um vazamento de petróleo?

sábado, 30 de novembro de 2013
"The new religious wars are now really culture wars. They are not just about scientific history - about what best accounts for the development of the human species, for instance - but more fundamentally about the meaning of human life  and what living well means."  -  Ronald Dworkin  - Religion without God

Em outubro de 2013 o governo realizou o leilão da área de exploração de petróleo do Campo de Libra, na região onde se encontra a reserva do pré-sal. Esta, como tem sido noticiado, deve ser uma das maiores reservas de petróleo do mundo, identificada nos últimos anos. No entanto, a principal dificuldade de exploração do pré-sal é que o petróleo se encontra a uma profundidade média de sete mil metros, abaixo de cerca de cinco mil metros de água e solo, e mais dois mil metros de sal, depositado ali por um antigo mar.
O risco e a dificuldade de extração são muito grandes, o que aumenta os custos de exploração dos poços, fato que provavelmente foi uma das causas do pouco interesse de outros participantes no leilão da área de Libra. O único grupo a apresentar uma proposta para a área foi um consórcio formado pela anglo-holandesa Shell, a francesa Total, as chinesas CNPC e CNOOC e a Petrobrás. Grandes grupos do setor petrolífero como a inglesa BP, as americanas Exxon e Chevron não participaram do leilão. No plano nacional o leilão também despertou críticas tanto por parte dos petroleiros, contrários à privatização e internacionalização da exploração da área, quanto de grupos empresariais e outros especialistas, que se manifestaram quanto à falta de planejamento do processo.
Além das críticas dos petroleiros e dos empresários, não faltaram também as manifestações dos grupos ambientalistas. Segundo levantamentos, a exploração da reserva petrolífera do Campo de Libra resultará em emissões de cerca de cinco bilhões de toneladas de CO², volume correspondente ao total das emissões do País durante três anos. Estimativas dão conta de que o potencial total de emissões do pré-sal é de 35 bilhões de toneladas CO², que colocarão o Brasil entre os dez maiores emissores de gases de efeito estufa – isto sem contar as emissões de gases resultantes do desmatamento da Amazônia e da pecuária.
Outro aspecto ainda longe de estar equacionado é a questão do Plano Nacional de
Contingência, que deve estabelecer as medidas a serem tomadas no caso de um vazamento petrolífero. O risco de acontecer um vazamento é bastante alto, dados os desafios técnicos e logísticos envolvendo toda a exploração de petróleo em águas tão profundas. Além disso, existe o fato de que com relação às plataformas de exploração o Brasil atua com equipamento antigo, já que cerca de um terço das plataformas utilizadas, segundo ambientalistas, tem 30 ou mais anos de funcionamento. Logo após o anúncio do resultado do leilão, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, veio a público defender maiores penalidades para os culpados por acidentes de derramamento de petróleo, que atualmente alcançam multas de até R$ 50 milhões. A ministra disse que não se devem estabelecer valores, já que a indenização pode ser de R$ 200 milhões ou R$ 1 bilhão, dependendo da situação.
As críticas quanto ao planejamento do leilão têm fundamento. No aspecto ambiental, por exemplo, ficou claro que o assunto não é prioridade, tendo sido discutido somente a posteriori, depois de o Plano Nacional de Contingências ter sido estabelecido por decreto presidencial. No entanto, existe uma longa distância, principalmente no Brasil, entre a discussão de um plano de contingências e seu efetivo funcionamento - sabemos o que aconteceu na região serrana do estado do Rio de Janeiro. Assim, no caso de ocorrer um vazamento de petróleo e o plano de contingências não funcionar, os grandes prejudicados serão os milhões de habitantes e turistas da região Sudeste do País.
(Imagens: fotografias de François Kollar)     

Pensamento político

sábado, 23 de novembro de 2013
"Devemos estar dispostos a agir como se as pessoas fossem admiráveis ou culpadas por virtudes ou falhas pessoais - como se o livre arbítrio existisse, muito embora saibamos que, do ponto de vista metafísico, não existe. (Será que esse paradoxo identifica uma hipocrisia mesquinha no cerne da vida social humana? Certamente. Existe alguma maneira de evitar isso? Não que eu saiba)."  - Geoffrey Miller  -  Darwin vai às comprar - sexo evolução e consumo

O pensamento político é a maneira como determinado grupo de pessoas – porque a política é sempre coletiva – encara a atividade política. Quanto ao ato de fazer política escreve Aristóteles:
“Sabemos que toda cidade é uma espécie de associação, e que toda associação se forma almejando algum bem, pois o homem trabalha somente pelo que ele considera um bem. Por isso, todas as sociedades sugerem um lucro – sobretudo a mais importante delas, pois visa um bem maior envolvendo todas as demais: a cidade ou a sociedade política.” (Aristóteles, 2007).
Assim, segundo o Estagirita, a atividade política visa ao bem da cidade; da sociedade, já que os homens só se empenham por aquilo que eles consideram um bem. São as diversas maneiras de encarar o bem da cidade, ou seja, da sociedade, que distingue as diferentes formas de pensamento político. Este parte de conceitos prévios – idéias elaboradas por grupos sociais – e a partir destes pressupostos é construído o pensamento político. Este por sua vez apontará maneiras como seus defensores pretendem tomar o poder e exercê-lo, quando governantes.
O pensamento político modernamente espelha os interesses de classes, de grupos econômicos e sociais, que se juntaram em uma agremiação – associação, sindicato, partido político ou grupos de pressão – e que no embate democrático planejam aprovar leis que beneficiem seus integrantes. Por exemplo, um sindicato organizado e atuando em empresas com forte poder econômico (como as indústrias automobilísticas e os bancos) tem interesse em aprovar mudanças na lei trabalhista, de modo a beneficiar seus filiados. Um partido político, formado em grande parte por latifundiários ou apoiado financeiramente por estes, almejará aprovar leis e projetos que beneficiem seus correligionários e rejeitar outros que representem algum tipo de perigo para seus membros – como, por exemplo, um Código Florestal mais restritivo.
Um pensamento político bem elaborado tem uma plataforma completa, com respostas e propostas para resolver a maior parte ou pelo menos os mais importantes problemas da sociedade onde atua. E é exatamente pelos objetivos políticos, sociais e econômicos que pretende alcançar e pela maneira como pretende alcançá-los, que se caracteriza a orientação política de um partido. Em seu estatuto o Partido dos Trabalhadores diz:
“Art. 1º. O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãos e cidadãs que se propõem a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático.” (Partido dos Trabalhadores, 2012).
No parágrafo acima o PT descreve o que é e a que se propõe. Nos outros capítulos e artigos o estatuto do partido, elaborado pela comissão executiva nacional, descreve a maneira como o partido se organizará e atuará; como participará das eleições e como será sua disciplina interna. Toda esta organização faz parte do pensamento político do partido, descrevendo sua organização e estratégia de poder.
Evidentemente existem varias linhas de pensamento político, representadas ou não por partidos políticos. Grupos atuando de forma semi-organizada às margens dos movimentos políticos, como os “black blocs”, que se tornaram famosos a partir das manifestações populares ocorridas desde junho de 2013, também têm sua forma de pensamento político. O mesmo é válido para grupos políticos que atuavam na clandestinidade na época da ditadura militar; seja à extrema direita, como o C.C.C. (Comando de Caça aos Comunistas) quanto os diversos grupos guerrilheiros colocados na extrema esquerda (ALN – Aliança Libertadora Nacional, VAR Palmares – Vanguarda Armada revolucionária Palmares, entre outros).
Em última instância podemos dizer que a maior parte das organizações humanas, visando defender algum tipo de interesse, tem algum tipo de pensamento político, mesmo que pouco elaborado. Este pensamento pode estar misturado a idéias preconcebidas, estratégias de poder e às vezes delírios de dominação. Por vezes, se existirem condições históricas para tal, tais pensamentos políticos podem levar ao aparecimento de organizações como o partido nazista, o partido comunista Kampuchea (cujos membros eram os assassinos do chamado Khmer vermelho) ou o grupo Al Qaeda.
A melhor maneira – pelo menos até hoje – de permitir o surgimento do pensamento político das mais variadas tendências possíveis, sem que uma corrente se sobreponhas às outras e obtenha a exclusividade do discurso (seja pelo voto ou pela força), é através da manutenção da democracia. Só a democracia garante o debate franco e aberto das diversas tendências do pensamento político. Afinal, como sabe a filosofia e a sabedoria popular, “ninguém é dono da verdade”, que, dizem, pode nem existir.
Referências:
Aristóteles. A Política. São Paulo. Editora Ícone: 2007, 272 p.
Estatuto do Partido dos Trabalhadores. Disponível em:
(Imagens: portas e janelas em Iguape, SP - fotografias de Ricardo E. Rose)

Saneamento: os melhores e os piores

sábado, 16 de novembro de 2013
"Os poetas, idiotas como crianças, se extasiam diante dos vagalumes errantes do infinito. Para mim que não sou - por sorte ou azar - nem versificador nem místico, o céu é somente o velório sinistro em que leio toda noite a sentença da minha irremediável nulidade."  -  Giovanni Papini  -  Gog 

Tratamento de esgoto ainda continua sendo um problema no Brasil. Governos se sucedem a nível municipal, estadual e federal, mas os avanços são lentos. Diz o ditado que "obra enterrada, que não aparece, não dá votos". No entanto, administradores públicos que ainda pensam desta maneira - e pelo ritmo e quantidade das obras parece que são muitos - deveriam rever suas ideias. O tratamento de esgoto, segundo pesquisas, está entrando na lista dos itens mais cobrados pela população, junto com a melhoria da educação e do atendimento médico.
Recente estudo elaborado sobre o tema do saneamento pelo Instituto Trata Brasil descobriu que 61,4% da população das 100 maiores cidades do País têm acesso à coleta de esgoto - enquanto a média restante no Brasil continua sendo de 48,1%. Todavia, o volume de esgoto tratado nestas mesmas 100 cidades alcançou 38,5%, enquanto no restante do País este percentual é de 37,5%. Sobre este ponto o estudo conclui que "a lenta velocidade de avanço nesses serviços compromete a possibilidade do País atingir a universalização do saneamento nos próximos 20 anos, prazo contido no Plano Nacional de Saneamento Básico do Governo Federal".
Outro problema que deveria ser prioridade nos ministérios da Integração Nacional e das Cidades, por exemplo, é a questão da disponibilidade de água potável. No Brasil em média 82,4% da população têm acesso ao líquido, com percentuais menores nos estados do Norte de Nordeste. Nas 100 maiores cidade do País este índice atinge os 92,2%.
Com relação à perda de água tratada - seja por vazamentos na tubulação ou roubo - o prejuízo médio nas 100 maiores cidades foi de 40,08%; maior do que a média do restante do País (38%). No total, apenas quatro das 100 cidades apresentaram perda de água menor do que 15%. 22% apresentaram índices entre 15% e 30%. Com isso, 74% das cidades têm perdas maiores que 30% e 14 delas acima dos 60%.
O estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil foi feito baseados em dados de 2011, os mais atuais disponíveis no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), do Ministério das Cidades. Dentre as 100 maiores cidades brasileiras pesquisadas, o município mineiro de Uberlândia é o que tem o melhor serviço de saneamento. A seguir vêm as cidades de Jundiaí (SP), Maringá (PR); as paulistas Limeira, Sorocaba, Franca, São José dos Campos, Santos e Ribeirão Preto, seguidas de Curitiba (PR). A lista das cidades que oferecem o pior serviço de saneamento é encabeçada por Ananindeua (PA), seguida por Santarém (PA), Macapá (AP), Joboatão de Guararapes (PE), Belém (PA), Porto Velho (RO), Duque de Caxias (RJ), São Luiz (MA), Teresina (PI) e Aparecida de Goiânia (GO). 
O Brasil é um dos países com os mais baixos índices de saneamento na América Latina. Muitas doenças, provocadas por águas contaminadas, ainda vitimam milhares de crianças em todo o País. O problema não é causado pela falta de recursos, já que bilhões de reais foram alocados para a construção dos estádios e demais obras de infraestrutura destinadas à Copa Mundial de Futebol em 2014. O que falta é priorizar o tema do saneamento; o que nos faz pensar: "Será que obra enterrada, que não aparece, não dá votos no Brasil?"
(Imagens: portas em Iguape, SP - fotografias de Ricardo E. Rose)

Mudança do clima afetará energia e agricultura

sábado, 9 de novembro de 2013
"Capitalismo é a crença impressionante de que os mais perversos entre os homens farão as coisas mais perversas para o bem maior de todos."  -  John Maynard Keynes  -  citado em Os 100 maiores visionários do século XX. 

No primeiro semestre deste ano, especialistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climática (IPCC) da ONU já haviam anunciado um grande aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE), que provocam o aquecimento da atmosfera e com isso as mudanças rápidas do clima. Recentemente, durante a primeira conferência nacional sobre o tema, especialistas brasileiros do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) lançaram um relatório sobre como estas mudanças afetarão o Brasil em aspectos econômicos e sociais.
A publicação em três volumes foi preparada por 350 especialistas e traz uma série de diferentes previsões sobre o que poderá acontecer, dependendo de um aumento maior ou menor da temperatura da Terra. Segundo o documento, a temperatura média no Brasil poderá aumentar de 3º C a 6º C até 2100, o que deverá trazer mudanças no regime de chuvas das diferentes regiões - fato que influenciará bastante a agricultura e a geração de energia.
Na região amazônica, por exemplo, a temperatura média poderá subir 6º C, o que poderá trazer uma mudança na distribuição das chuvas, fazendo com que os índices pluviométricos caiam em até 45%. O fenômeno fará com que bacias hidrográficas tenham menos volume de água, alterando a vegetação e a fauna e provocando impacto nas atividades econômicas. O documento diz que o rio Tocantins, por exemplo, passando por Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará, sofrerá uma redução em 30% em seu escoamento. Tal fato afetaria a geração de energia nas grandes hidrelétricas - Tucuruí, Estreito, além de outras ainda por construir - ao longo do rio, desestabilizando a rede nacional de eletricidade. Outro provável aspecto é que com a redução dos índices pluviométricos na Amazônia e queda da evapotranspiração na floresta, as nuvens de chuva que usualmente se deslocam desta região para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul, seriam menos volumosas.
Na região Nordeste o aumento da temperatura em mais 5,5º C aceleraria o processo de desertificação da região, destruindo o já bastante afetado bioma da Caatinga. A área do Agreste ficaria cada vez mais seca e imprópria para a atividade agrícola, provocando a gradual migração de milhões de sertanejos para as capitais ou outras regiões do país. Outra situação apresentada pelo relatório é o aumento de 30% das chuvas na maior parte da região Sudeste e de 40% no Sul. Ainda na região Sul, a bacia dos rios Paraná e Prata terá um aumento de vazão entre 10% a 40%.  
Com todas estas mudanças no regime das chuvas e nas temperaturas médias, o Brasil também enfrentará grandes desafios no setor agrícola. Especialistas que analisaram a situação preveem que a produtividade das culturas de soja poderá cair em 20% nos próximos sete anos, chegando a uma queda de 24% até 2050. Da mesma forma, a cultura do arroz poderá encolher em 7,5%, a do algodão 4,7% e a do milho 16%.
É importante observar que estas previsões não são sentenças e não ocorrerão da noite para o dia. Muito depende de como será o aumento das emissões por todo o globo. Países que até agora não assumiram compromisso de reduzir sua geração de gases, como a China, os Estados Unidos, o Japão e inclusive o Brasil, deverão adotar obrigações em futuro próximo. No caso do Brasil há que se investir muito mais na geração de energia de fontes renováveis e diminuir definitivamente os desmatamentos na Amazônia. 
(Imagens: portas em Iguape, SP - fotografias de Ricardo E.Rose) 

Mobilidade e mortalidade

sábado, 2 de novembro de 2013
"Considere sentenças como fios que ligam sinais e ruídos emitidos pelos organismos, fios capazes de ser associados aos fios que nós mesmos expressamos (através do processo que chamamos de 'tradução'). Considere crenças desejos e intenções - atitudes sentenciais em geral - como entidades que são postuladas para ajudar a predizer o comportamento dos organismos."  -  Richard Rorty  -  Ensaios sobre Heidegger e outros escritos filosóficos

Em seu relatório anual publicado em final de 2012, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) informa que a poluição do ar por ozônio bateu recorde na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Por um período de 98 dias em 2012 o paulistano respirou ar com padrões de ozônio bem acima dos normais, dado que em mais da metade dos dias do ano passado a contaminação da atmosfera por excesso de ozônio ficou nas categorias "regular", "inadequada" e "má". Das 19 estações de medição deste poluente espalhadas na região metropolitana, as de Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, e as de São Caetano do Sul, no ABC paulista, foram as que registraram o maior número de dias - 17 no total - de "estado de atenção".
O ozônio se forma a partir da reação entre óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, liberados na queima incompleta de combustíveis quando na presença do sol. O gás produz uma série de substâncias agressivas e aerossóis que afetam a saúde humana e a vegetação. A concentração de ozônio sofre influência das condições atmosféricas e da temperatura, apresentando maior acumulação entre a primavera e o verão. "Quem tem problemas como asma, rinite ou enfisema sofre mais. Mas a poluição também pode desencadear inflamações graves a longo prazo", segundo o pneumologista  Clystenes Soares, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O ozônio é gerado principalmente pelos gases de combustão liberados pelos quase 11 milhões de veículos que circulam nos 39 municípios da RMSP. Programas de controle de emissões veiculares até o momento só foram implantados no município de São Paulo, monitorando uma frota de cerca de 7,5 milhões de veículos. Apesar disso, nossos padrões de emissão - sejam para veículos a gasolina/álcool quanto para diesel - ainda continuam abaixo dos parâmetros estabelecidos em países mais avançados nesta área. Consequentemente, não havendo limites de emissões de poluentes mais restritivos para os veículos, os fabricantes também não se sentem obrigados a melhorarem a eficiência de seus veículos.  
Com isso o ar da região metropolitana torna-se cada vez mais poluído, situação que vem a afetar a saúde dos habitantes da cidade. Um estudo, realizado pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade e apresentado recentemente em um seminário sobre mobilidade urbana e saúde pública, informa que pelo menos 4.655 pessoas morreram em 2011 na capital paulista em decorrência da poluição do ar. Este número é superior ao de mortes anuais no trânsito (1.556), três vezes superior ao de vítimas de câncer de mama (1.277) e quase seis vezes superior ao de vítimas da Aids (874).

No caso das mortes causadas pela poluição, o difícil é comprovar que os poluentes atmosféricos sejam os únicos responsáveis pelos óbitos. Doenças pregressas - muitas delas provavelmente também causadas pela poluição - hábitos de vida, alimentação, predisposição genética, são fatores que associados à má qualidade do ar na RMSP contribuem para as mortes computadas no estudo.
Fato é que os índices de poluição atmosférica na RMSP são resultado de uma política de mobilidade míope, voltada para o transporte individual, sem contemplar a construção de sistemas de transporte público; mais eficientes e menos poluentes - principalmente se realizados sobre trilhos. A necessidade de ter um carro próprio transformou-se em um pesadelo mortal nas cidades grandes.
(Imagens: fotografias de William Heick)

A metafísica

sábado, 26 de outubro de 2013

"A aparentemente fundamental indagação filosófica: 'Quanto de nossa ciência é mera contribuição da linguagem e quanto é um reflexo genuíno da realidade?' talvez seja uma falsa pergunta, que surge, ela própria, inteiramente de certo tipo particular de linguagem."  -  Willard Van Orman Quine  -  De um ponto de vista lógico

Até o século XVII, quando teve início o desenvolvimento do pensamento científico com Galileu (1564-1642) e Bacon (1561-1626) e do moderno pensamento (metafísico) filosófico com Descartes (1596-1650), não se cogitava sobre o objeto do conhecimento, o mundo exterior. A filosofia grega e a medieval partiam do pressuposto de que a realidade (o mundo, a natureza) estava dada. Perguntavam-se os pensadores o que era esta realidade que a razão podia conhecer. Este pressuposto filosófico, de que a realidade exterior era o que representava e podia ser conhecida pelo pensamento, chamava-se realismo. Foi neste contexto que surgiu a metafísica, que durante a maior parte da história da filosofia sempre foi a sua mais importante disciplina.
As perguntas iniciais da filosofia foram: “O que existe?”; “O que é isto que existe?”; “Como é isso que existe?”; e “Por que existe?”. Estas questões marcaram o primeiro período da filosofia, quando esta ainda perguntava sobre a natureza e constituição última do cosmos. Daí Aristóteles escrever que os primeiros filósofos eram físicos, já que se ocupavam do estudo da physis, a natureza. Atualmente conhecemos os principais filósofos deste período como pré-socráticos, por terem atuado antes do aparecimento do filósofo Sócrates.
A cosmologia (ou fisiologia) era a forma como pensadores como Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, Pitágoras, Heráclito, Parmênides, só para citar alguns, procuravam – cada um à sua maneira – explicar a constituição última do universo, a mudança das coisas e as oposições (frio/calor, verão/inverno, vida/morte). Ponto comum entre todos estes pensadores era a tentativa de estabelecer um elemento originário, a partir do qual os seres e suas transformações pudessem ser explicados. Água, ar, apeíron (ilimitado, indefinido), números, foram algumas explicações desenvolvidas por estes pensadores. Dentre os cosmologistas ou pré-socráticos destacaram-se dois filósofos, por sua originalidade, oposição de conceitos e importância no posterior desenvolvimento da metafísica grega e cristã: Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia.

Heráclito (535-475 A.C.) dizia que a realidade era o devir, a constante transformação de tudo, tudo flui e se transforma em seu oposto: o menino se transforma em um homem adulto e depois em um velho; a neve se transforma em água e depois volta a se congelar; uma estação sucede à outra. A metáfora que tornou este pensador famoso foi a do rio: “É impossível entrar no mesmo rio duas vezes”, já que nem as águas nem nós somos os mesmos. O Logos (o discurso sobre o ser) é a mudança e a contradição.
Parmênides (530-460 A.C.) negava o movimento e a mudança do Ser, da realidade. Se houvesse realmente mudança, afirmava, seria possível o Não-Ser, o que é uma contradição. O Não-Ser não existe, o que leva à conclusão de que só existe o Ser, a imutabilidade. Em seu poema épico Sobre a natureza e sua permanência, Parmênides defende três pontos principais a respeito do Ser: 1)  O Ser é único. Se fosse múltiplo cada ser seria e não seria, o que é contraditório; 2)  O Ser é eterno. Se fosse substituído por outro existiriam dois Seres, o que é absurdo. Se tivesse um fim, seria o Não-Ser, o que é absurdo; e 3)  O Ser é imutável. Se o Ser mudasse, se transformaria no Não-Ser, o que é impossível que ocorra. O devir aparente do ser é uma ilusão.
Parmênides estabelece uma importante diferença entre o pensar e o perceber. Ao mudar o foco do pensamento das coisas que se transformam – característica dos físicos que estudavam a physis – para o Ser imutável, o filósofo inaugura a ontologia (o estudo do Ser enquanto Ser), também chamada na história do pensamento ocidental de metafísica. Todavia, o pensamento de Parmênides, se levado às suas últimas conseqüências também coloca um fim definitivo à história da metafísica. De acordo com seu pensamento, só eram possíveis três afirmações sobre o Ser: “o Ser é”; “o Não-Ser não é”; e “o Ser é único, idêntico e imutável”, nada mais.
Platão (427-347 A.C.), discípulo de Sócrates (469-399 A.C.), é considerado pela tradição filosófica como o fundador da metafísica. Não por tê-la criado como disciplina, mas por ter colocado os fundamentos teóricos para que seu discípulo Aristóteles criasse a disciplina. Platão concorda com Heráclito no que se refere à constante mudança que ocorre na natureza, no mundo das aparências. Por outro lado está de acordo com Parmênides, quando este diz que o pensamento deve se concentrar no Ser imutável, único e eterno. No entanto, diferentemente de Parmênides, que não conferia nenhuma existência ao mundo das aparências classificando-o de Não-Ser, Platão concede uma existência “fraca” ao mundo aparente, a fim de poder construir todo um arcabouço de idéias que se tornarão a base da filosofia ocidental. O filósofo inglês Alfred North Withehead (1861-1947) dizia que toda a filosofia era apenas comentário, notas de rodapé, ao sistema filosófico platônico.   
Platão provavelmente era discípulo ou conhecia bastante os mistérios órficos. Este culto é baseado na lenda do herói Orfeu que desceu ao reino dos mortos, o Hades, para salvar sua esposa Eurídice. A narrativa é bastante complexa e é citada por Homero, Píndaro e Eurípedes. Os cultos órficos eram secretos (daí o nome “mistérios”) e sua doutrina era aparentada com o pitagorismo, tendo também influência de cultos orientais. Cogitam alguns autores, que a influência do orfismo tenha sido decisivo para que Platão desenvolvesse o conceito dos “Ideais” ou “Idéias”. Este sistema representa de certo modo a síntese das idéias que vinham sendo desenvolvidas pelos pensadores fisiologistas, por Heráclito e Parmênides. Explicava o fundamento último da realidade, a mudança constante e o imutável pelo conceito das Idéias contraposto ao mundo material.



Cada Idéia ou Ideal é equiparável ao Ser de Parmênides; eterno e imutável. Assim, em sua alegoria 
Platão afirma que existem Idéias de todas as coisas que encontramos no mundo do devir; existe uma Idéia de cavalo, do qual os demais exemplares vivos da espécie equus ferus caballus são apenas uma cópia. As mesas, as cadeiras também têm suas Idéias neste mundo da perfeição, que também é habitado por conceitos como justiça, beleza e amor, dos quais nossas versões terrenas são apenas cópias. Para completar a função de sua alegoria, Platão afirma que nossas almas antes de nascerem convivem e contemplam todas as Idéias. Ao voltar a viver no mundo das aparências, a alma se esquece das Idéias que contemplou. É através da prática da filosofia, que o homem pode recordá-las e tornando-se consciente delas, como Platão descreveu na famosa Alegoria no livro A República
A metafísica tem início efetivamente com Aristóteles (384-322 A.C.). Diferentemente de seu mestre Platão, o Estagirita não julga a natureza como mundo das aparências, ilusório e contraposto a um mundo perfeito, o das Idéias. Aristóteles parte do pressuposto de que o devir é verdadeiro e que sua característica é exatamente a multiplicidade e a transitoriedade. A essência das coisas não está em um além de Idéias, mas nas próprias coisas, cuja essência é estudada pela metafísica. No livro IV da sua Metafísica, escreve Aristóteles: “Há uma ciência que investiga o ser como ser e as propriedades que lhe são inerentes devido a sua própria natureza” (Aristóteles, 2006). Outros aspectos do ser são estudados pelas ciências específicas – física, geometria, biologia, etc. A metafísica estudará o que é a essência e aquilo que faz com que haja essências particulares e diferenciadas. Em outras palavras, a ciência que estuda o Ser enquanto ser, sem levar em conta as diferenças entre os seres. Aristóteles desenvolveria a metafísica, transformando-a em uma ciência que estudaria fundamentalmente três coisas: 1) O ser divino, a realidade imutável, o que Aristóteles chamou de Primeiro Motor. Todas as coisas estão em constante mudança porque existe nelas um impulso que faz com que almejem a perfeição do Primeiro Motor; estado que, segundo Aristóteles, nunca alcançarão; 2) As causas primeiras de todos os seres, que explicam o porquê, o quê e o como das coisas; 3) Atributos e propriedades de todos os seres, através dos quais podemos determinar a essência de um ser particular. Esta essência é a realidade última de um ser, sem a qual não existe. A essência é chamada de substância, foco de estudo da metafísica; termo que será muito importante durante toda a filosofia medieval – principalmente a tomista – até os modernos como Descartes, Leibniz e Espinosa.
A metafísica aristotélica será a base de toda a metafísica ocidental e é balizada por alguns conceitos, como: 1) Primeiros princípios: causalidade, não contradição e terceiro excluído; princípios lógicos que também são ontológicos; 2) Causas primeiras: que explicam o que é a essência de determinado ser, assim como origem e motivos de sua existência; e 3) Outros atributos como: matéria, forma, potência, ato, essência, acidente, substância e predicados. 
A metafísica cristã é uma adaptação da metafísica aristotélica ao cristianismo. Contribuíram para esta fusão de sistemas e idéias correntes de pensamento como o neoplatonismo, o estoicismo e o gnosticismo. O maior desafio do nascente cristianismo era contemporizar a nascente fé – que partia de idéias oriundas do judaísmo tardio – com a filosofia grega racionalista.
Entre os séculos V e XII a filosofia, e com esta a metafísica, ainda era fortemente influenciada pelas idéias de Platão, pois em suas origens a síntese do cristianismo com a filosofia grega ocorreu sob a égide o neoplatonismo, já que por esta época a obra de Platão e Aristóteles era desconhecida para a cultura latina. No século XII aparecem as primeiras traduções do árabe para o latim de textos originais dos dois pensadores, e a partir daí as idéias de Aristóteles passaria a exercer influência hegemônica, tanto sobre a filosofia como a teologia, através de Tomás de Aquino. 

No século XVI e XVII surgem novas formas de interpretação da metafísica. Pensadores da época já não aceitavam mais idéias que não pudessem ser estabelecidas pelo intelecto. Esta nova mentalidade assume as seguintes características: 1)     Incompatibilidade entre fé e razão; 2)     Redefinição do termo “substância”, elemento importante na metafísica aristotélica e medieval. Para Descartes, por exemplo, há três substâncias: a pensante (alma intelecto), a extensa (corpos) e a infinita (Deus). Já Hobbes (1588-1679), negava a capacidade de conhecer a substância divina (Deus) e a anímica (alma). Aos sentidos era dada somente a substância corpórea (a matéria).
Em sua filosofia Hobbes nega a possibilidade de elaboração de uma metafísica, permanecendo limitado ao âmbito da física. O pensador foi assim um dos primeiros detratores modernos da metafísica, inaugurando uma linha de pensamento que a partir do século XVII e XVIII – notadamente depois de Kant (1724-1804) – teria um numero cada vez maior de adeptos. Ao longo de século XIX a metafísica, em sua forma tradicional, não estaria mais presente nas principais correntes de pensamento.
Referências:
A evolução da metafísica e a crítica kantiana. Disponível em:
Chauí, Marilena. Convite à filosofia 13ª edição. São Paulo. Editora Ática: 2006, 424 p.
História da Filosofia Orfeu, orfismo e mistérios órficos. Disponível em:
Reale, G.; Antiseri D. História da Filosofia Vol I. São Paulo. Paulus Editora: 1991, 683 p.
(Imagens: fotografias de Cecil Beaton) 

Disponibilidade de recursos hídricos

sábado, 19 de outubro de 2013
"O sertão é o homizio. Quem lhe rompe as trilhas, ao divisar à beira da estrada a cruz sobre a cova do assassinado, não indaga o crime. Tira o chapéu e passa."  -  Euclides da Cunha  - Os Sertões

A disponibilidade de água será um problema para muitos países durante as próximas décadas. O uso intenso do líquido – seja para atividades agrícolas, industriais, consumo da população e mineração – está secando e poluindo rios e lagos e baixando o nível do lençol freático em várias regiões do globo. Outro aspecto preocupante desta situação é que a maior parte dos países com problemas de disponibilidade de água é pobre ou em desenvolvimento, com graves deficiências na infraestrutura de saneamento e grandes aglomerações urbanas. Este é o caso de países como a Índia, o Paquistão, a Nigéria e a China, onde a taxa de crescimento da população continua alta e tudo indica que a pressão sobre os estoques de recursos hídricos só tenderá a aumentar.
Um dos problemas mais graves é o da Índia, com cerca de 1,2 bilhões de habitantes, o segundo país mais populoso do mundo depois da China. Segundo a ONG Centre for Science and Environment, o país possui cerca de 8.000 cidades, das quais apenas 160 possuem sistemas de coleta e tratamento de esgoto. Dos 40 bilhões de litros de efluentes domésticos gerados diariamente no país, apenas 20% são tratados. O restante vai para rios e lagos, contaminando águas superficiais e o lençol freático, comprometendo cada vez mais os já escassos recursos hídricos do país. “O despejo de resíduos sem tratamento nos rios escoa diretamente para o subterrâneo, criando, assim, uma bomba-relógio na saúde da Índia”, diz a ONG. A falta de controle ambiental e conscientização permitem que pequenas fábricas descarreguem seus efluentes tóxicos nos cursos de água, o que contribui para deixar as águas ainda mais tóxicas para consumo.
A China, considerada a fábrica do capitalismo mundial, também tem graves problemas de abastecimento de água. Contando com uma população de 1,4 bilhões o país já enfrenta graves problemas de suprimento. Enquanto nas planícies do Norte as areias do deserto de Gobi avançam em direção ao Sudeste secando rios e destruindo áreas agrícolas, o grande número de poços espalhados pelo país acaba esgotando e baixando o nível do lençol freático em 50 ou até 90 metros. Parte considerável da agricultura chinesa depende da irrigação, o que também contribui para perda de grandes volumes de água. Outro fator de pressão é a exploração do carvão mineral e a geração de energia, que juntos chegam a utilizar 17% da água disponível na China. Com todo este impacto aos recursos hídricos, cerca de metade dos rios chineses – aproximadamente 28 mil – secaram desde 1990, segundo o Ministério de Recursos Hídricos e a Agência Nacional de Estatísticas da China. A poluição severa afeta 75% dos rios e lagos do país e 28% são inadequados até mesmo para uso na agricultura.
Com relação à disponibilidade de água o Brasil tem uma situação privilegiada, apesar dos desperdícios e da contaminação crescente dos recursos hídricos. Segundo a ONU, a situação mais adequada de oferta é de 2.500 metros cúbicos por habitante por ano. Os estados de Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Alagoas e Sergipe têm disponibilidade abaixo deste valor, mas acima de 1.700m³/hab/ano, índice considerado “sob pressão” pela ONU. Em situação crítica, com menos de 1.500m³/hab/ano encontram-se a Paraíba e Pernambuco. Comparativamente, a China tem uma disponibilidade média de água de 1.730m³/hab/ano.
(Imagens: fotografias de Robert Frank)